28 de dezembro de 2011

4 de dezembro de 2011

Os Alquimistas e a Ciência

Se formos nos reportar as referências que temos nos anais da história a respeito dos enigmáticos alquimistas, chegaremos à conclusão que esses sábios homens foram filósofos cientistas que através da busca pelo conhecimento das leis ditas naturais expressadas no mundo (macrocosmo), como consequências de uma causa maior, tentaram entender a sua natureza microcósmica, para com isso virem a obter a fórmula e método de como transmutar o seu Ser e o meio em que se encontravam, em prol de uma comunhão completa com o Criador. Eram Iluminados voltados para meios que antes não eram separados, cientes de que tudo deriva de um único principium, a verdadeira Ciência indistinta de uma separação entre espiritualidade e ciência materialista.
Com a ramificação, deteriorização e alienação dos conhecimentos da fonte, muitas coisas foram levadas ao extremo do egoísmo, fazendo com que essas verdades fossem encobertas por fantasias daqueles que não queriam procurar a legitima essência a partir de analogias precisas.
Eis que conseqüentemente surgiu uma manifestação predominante da razão sectária credológica. Nisto, em muitos dos casos, aos leigos principalmente, foi imposta uma lei de aceitação inquestionável das teses teogônicas, onde a primordial ciência tinha sido subjugada pelos dogmas das formalizadas instituições que assumiram o termo de religião.
Com o ocorrido, muitos se revoltaram e, consequentemente, problematizaram e elaboraram uma base de estudos separados do sagrado e espiritual; confundiram a essência do saber com as cascas dogmáticas e fantasiosas dos credos ideológico. Com isso, essas pessoas voltaram-se para uma razão e supervalorização de uma lógica empírica, materialista e, em determinados casos, fanática.
Então, eis que surgiu a era da critica da razão pura, o iluminismo e o apreço a um materialismo que naquele momento (e em outros) mostrava mais coisas óbvias e palpáveis do que a religiosidade que oprimia, condenava, e matava em nome de um deus.
A ciência que surgia nesse período foi se formulando e tornando-se mais separada ainda do meio transcendente. Nessas transformações, de um lado prevaleceu a lógica material, e de outro ficou em seu canto a razão espiritual.
Com a repercussão dessa cisão, predominou as partes palpáveis e quantificáveis dessa ciência, ocorrendo isso com a  astrologia que deu nascimento a astronomia (provavelmente com sua cisão no século XVII) e da  alquimia que gerou a química. Hoje boa parte, com algumas exceções, das ditas ciências estudadas nas academias e escolas são de cunho limitado aos aspectos fatídicos do dia a dia.





Dentro desse contexto e, levando em conta a figura do Alquimista ou estudante de Alquimia, temos que ele é, em sua natureza, um cientista, pois o mesmo precisa entender o processo de transmutação física/química e elemental para que com isso venha tirar proveito desse conhecimento e utilizar isto em seu processo de transmutação interior para a tão almejada obtenção da Grande Obra, que só poderá ser obtida através da harmonia entre o que esta em cima (O interior, logos superior) com o que esta embaixo (O exterior, o mundo fatídico e a natureza).
Já o cientista, quando somente se reporta à dita ciência limitada, é somente um cientista, pois ao aceitar o limite cientifico, e somente seu caráter positivista, estará se tornando apenas um físico ou um químico, geneticista, etc. Mas, se o mesmo é aderente a essa união que antes era inseparável, ele se enquadra em uma condição de estudante ou ao nível dos assim chamados alquimistas adeptos.
Temos como exemplo de Alquimista cientista o célebre Isaac Newton. O mesmo transitou pelas ditas ciências ocultas, mas com objetivos bem pragmáticos e com instrumental digno de um pesquisador sério. Suas investidas pela alquimia levaram a importantes descobertas para a química moderna. Mas tudo que foi apresentado por Newton foi exposto sob um ponto de vista lógico em seus resultados mas não deixam de ser conteúdos embasados em teorias alquímicas e transcendentais. Porém, a ciência dita limitada de hoje, em muitos dos casos, teve (tem) a intenção de somente expor aquilo que pode ser usado como algo de valor desde que possa ser separada de seus aspectos mau compreendidos pelas massas.
Newton, em seus estudos da astrologia, reconheceu o seu valor e auxílio em relação a capacidade de enxergar o universo de forma mais aberta, culminando em conclusões importantes para a astronomia.





Em parte, sofremos a influência do iluminismo de Voltaire (que segundo alguns era ligado ao Rosacrucianismo), que nos deu em destaque e visibilidade somente o teor racionalista de Isaac Newton. O outro lado da questão é devido à ultra-especialização de nossa cultura – o físico detém-se apenas à sua formação para compreender Newton, o químico idem, já o estudante ou o próprio alquimista sabe que para compreender a verdadeira forma de como obter a Magnus Opus é priori se impor acima de todas essas bases e unificá-las juntamente com o Transcendental, desde que esse não seja em totalidade algo dogmático.

Por isso que em muitos círculos Herméticos onde o Mestre instruía seu discípulo nas artes Alquímicas prevalecia a seguinte prelazia:

“ORA, LEGE, LEGE, RELEGE, LABORA ET INVENIER”

(ORE, LÊ, LÊ, RELÊ, TRABALHE E ENCONTRARÁS)

Podemos conferir em pesquisas que grandes cientistas foram exímios alquimistas, e que suas descobertas por terem tido uma grande importância para a evolução da ciência moderna, só foram expostas e reconhecidas em aspectos e funções que condiziam com ao que era aceito pela massa cientifica e limitada.

Dentre esses sábios, temos não somente Newton, mas também…

Santo Alberto Magno: 1193 – 1280 – conseguiu preparar o hidróxido de potássio e descreveu a composição química de diversos compostos, como o cinábrio, o alvaiade e o mínio;

Paracelso: 1493 – 1541- o primeiro a se referir a luz astral nos meios alquímicos, chegou a identificar o zinco como um novo metal, com propriedades diferentes das até então conhecidas, pioneiro na utilização medicinal dos compostos químicos e, além disso, descobriu varias formas de tratar doenças que assolavam a Europa no século XVI;

Roger Bacon: 1214 – 1294 – Pioneiro em enfatizar a possibilidade de utilização de lentes ópticas para aumentar objetos pequenos;

Raimundo Lúlio: 1233- 1316 – Alquimista que com maestria preparou o bicarbonato de potássio;

Giambattista della Porta: 1535- 1615 – preparou o óxido de estanho II

Abu Musa Jabir ibn Hayyan: 721– 815 – também conhecido pelo nome latino Geber, o primeiro a desenvolver um processo de destilação perfeito, alquimista islâmico proeminente, além de farmacêutico, filósofo, astrônomo, e físico. Ele também foi chamado de “o pai de química árabe” pelos europeus.

Maria, a Judia (ou Maria, a Profetisa): uma antiga filósofa grega e famosa alquimista que viveu no Egito por volta do ano 273 a.C.. dizem que viveu na época de Aristóteles (384–322 a.C.); suposta criadora do banho-maria;

Carl Gustav Jung: 1875 – 1961 – Incorporou os conceitos e simbologia da alquimia a psicologia analítica, comprovando a relação entre a arte da transmutação com a constituição da psique humana, através de seus arquétipos em interação com um inconsciente coletivo.

Replicado do blog O Alvorecer.






17 de novembro de 2011

Jovem cientista revoluciona a forma de captar energia solar

É de exemplos como este que o mundo precisa.
Falar é fácil, quero ver trazer novas soluções!
Pra mim, ser contra Belo Monte e continuar consumindo e poluindo como louco é hipocrisia.


***



A invenção de um menino de 13 anos pode modificar a forma como coletamos energia solar nos dias de hoje. Aidan Dwyer, um rapazinho americano, bolou uma maneira de organizar os painéis solares que garante um melhor aproveitamento da luz e, assim, uma maior produção de energia. Semelhante a uma pequena planta, o invento do menino aumenta a eficiência do mecanismo entre 20% a 50%.

Instigado pelo mecanismo utilizado pelas árvores para absorver luz solar, Dwyer teve uma ideia que lhe rendeu o prêmio de Jovem Naturalista, concedido pelo Museu Americano de História Natural. A atual maneira de gerar energia através da luz do sol consiste em arranjar os painés solares horizontalmente, ao contrário do sistema bolado pela própria natureza. Após estudar durante algum tempo, o menino decidiu montar em um suporte vertical pequenos painéis, de forma que estes ficassem organizados como folhas em galhos. E funcionou.


Fonte: Kadoo




Aidan Dwyer (Foto: Reprodução)

E você? Vai fazer a diferença? Querem fazer campanha contra Belo Monte? Então usem menos energia.
A eólica vai cobrir uma pequena parte no nordeste, em lugares onde há bastante vento, e só. Para energia solar não há ainda tecnologia nacional para fabricação de placas fotovoltaicas em forma de árvores... Apesar de existir tecnologia americana avançadíssima, teríamos que comprar deles e modificar TODO o padrão das casas no Brasil. E a demanda industrial? Já pensaram que é por causa dela que mais se está interessado em produzir energia hidrelétrica? Mas a pergunta fica no ar... Você, cidadão, é capaz de abrir mão de energia 24 h por dia? É capaz de se adaptar aos ciclos da natureza? É capaz de modificar o padrão energético de sua casa, o padrão de sua vida? Ou você está só repetindo um bla bla bla Global?


Afinal... Querem transformar o país num manicômio virtual ou contribuir de forma real e prática para que ele seja uma Nação ?

(Nayre)

15 de novembro de 2011

A Raiva Como Instrumento de Justiça

Ao contrário do que o senso comum apregoa, a raiva não é um atributo somente dos delinquentes, dos párias, dos psicóticos. Pessoas absolutamente evoluídas ou elevadas espiritualmente também fazem uso desse instinto como recurso último de justiça e de defesa. Basta lembrar de Jesus furioso expulsando os vendilhões do templo. Em relatos espíritas, mais exatamente nas obras de Ramatis, ireis encontrar vasto material sobre o modo de vida de Jesus. Num desses relatos, o espírito afirma por meio de Registros Akáshicos que Ele no momento em que chicoteava e destruía as bancas de vendas montadas na entrada do templo, apesar de enérgico ele tinha lágrimas nos olhos. A raiva dele era total e pura, sem nenhum traço de maldade! Ao contrário do maldoso por gosto, por mania, por hobby, por gen que não expressa outra emoção neste momento que não seja a satisfação mal dissimulada.   

" A pessoa cruel não sente raiva, ela ama torturar o outro, sem nenhum tipo de romorso ".

(Nayre)
 
 
 




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12 de novembro de 2011

A Mosca e o Samurai!

Desapego




Ter – verbo intransitório.



(Fraga)



O dia descamba na praça. Hora de escambo: dou meu olhar, o sol me dá seu pôr. Raios aquarelados tingem as pessoas, etnia nova em torno de bolas. Jogos na quadra, eu no jirau do banco, julgando as gingas juvenis.



De repente, o homem e seu enferrujado carrinho de supermercado param por perto. Troco o alambrado pelo gradeado do carrinho. Através da trama de metal invado sua propriedade. Tudo o que tem na vida, à vista. Enquanto não me nota, catalogo o que cata: utensílios sem utilidade (para mim), velha valise valiosa (para ele), lataria, embalagens plásticas, e sacões e sacolas cheias de sacos cheios de saquinhos. Todo o seu tesouro. Amarrado às laterais, atrás, à frente, patrimônio incomensurável, além de irrespirável. O homem mexe, remexe, remelexe. Tudo exclusivo de seus gadanhos.



Esse proprietário do nada me inquieta. Automaticamente, meto as mãos nos meus poucos e próprios bolsos. Faço um balanço instantâneo de posses. E indagações se apossam de mim: o que possui esse desvairado? O que acumula alguém que nem razão tem mais? Diante dos meus olhos voltados para outros tempos, uma fila de insanos ajuntadores de trecos. Como nas ruas, se multiplicam na memória.



Reparo e separo bem: não são mendigos, papeleiros – não é a sobrevivência que move esses pirados. Desfilam para a minha incompreensão, todos firmemente agarrados a seus embrulhos, trouxas, caixas. Quasímodos com pacotes mal-feitos e desfeitos no menos cotidiano dos cotidianos. O que possuem tais mentes? Quanto carregam de seu, de si, para si? O que os impele a agregar mais e mais do menos? Tiro as mãos dos bolsos, vazias de sentido.



O homem do carrinho não olha o jogo, não olha nada nem ninguém. Se ocupa de sua tralha. Revira o revirado, de novo, e outra vez. Afrouxa e aperta nós; desfaz e refaz amarras, agitado sempre. Está atado ao que juntou. Protege seus bens com cordões que já foram coloridos, barbantes emendados, fios em frangalhos. Um dispensável desvelo protecionista, dada a desimportância da sua imunda riqueza para a rapinagem reinante ao redor. O homem apalpa cada saco, radar tátil a confirmar conteúdos, ri quando reconhece posses extraviadas no monturo móvel. Breve sossego: mão pousada num “meu”. A mão alça vôo, recomeça a busca. Estouram bolas no alambrado, ele não reage. Desplugados não se assustam.



Por que e para que somos donos? Sãos ou não, de quinquilharias nos enchemos, abarrotados de badulaques. Muletas luxuosas, bengalas miseráveis. Mais vultos assomam, sobrecarregados de pertences despossuídos por outros. E os sacos, os sacos, sacos e sacos, sacos e mais sacos. Os mais malucos entre os mais doidos varridos, os que não vêem o mundo que vemos, principalmente eles, não tinham, nunca, as mãos livres. Sobraçavam seus volumes em zelo animalesco, ciumento e temeroso, o possessivo elevado à irracionalidade. Que residual sentimento de posse perdura neles? Por que tal instinto prevalece enquanto ruíram os demais? E qual loucura enlouquece tanto a tantos mas nunca a ponto de desligar o mecanismo da mão possessiva na direçăo de quaisquer coisas?



A mão não pára, pendura sacos. Talvez os últimos ganchos enganchados na realidade. O homem do carrinho some enquanto penso no que tenho ou não tenho. No que tive e deixei de ter, no que quis ter e não consegui, no que pude e não quis ter. Rol imaterial maior que o rol material. As sombras catadoras saem da imaginaçăo. Desaparecem no lusco-fusco da praça. O jogo cessou, outras sombras apanham roupas, objetos, ninguém sai sem nada da quadra. Pego minha bolsa no banco e me vou. Dedos sem convicção sustêm a alça da minha lucidez.



(Texto do Fraga)

Formas de lidar com o sofrimento (Yogasutra)



Em yoga duas idéias são apresentadas na forma de lidar com o sofrimento. Com certeza várias abordagens terapêuticas terão uma visão muito semelhante, pois é uma realidade muito fácil de ser experienciada e compreendida. Creio que estes dois conceitos que abordaremos aqui sejam estudados com a mesma seriedade em muitos caminhos de autoconhecimento, sejam eles caminhos religiosos ou meramente “terapêuticos” no sentido mais acadêmico.

As palavra originais que remetem as estas duas idéias que estudaremos aqui são “samanam” e “sodhanam” (aqui a letra “s” tem som de “x”). A primeira poderia ser traduzida por “pacificação”, trazendo o sentido de acalmar, aliviar. A segunda poderia ser traduzida por “limpeza ou purificação” e traz o sentido de reduzir ou remover a causa, curar. Ambas tem um papel muito importante e a segunda raramente é possível de ser acessada sem que a primeira tenha sido experienciada em algum grau.

Um fato a ser considerado com relação à primeira etapa (pacificação) é que, se nos limitarmos a ela exclusivamente, os sintomas acabarão retornando com o tempo. O resultado desta primeira etapa é apenas temporário. Isso não tira a importância desta etapa, apenas aponta para nós os limites dela. Desconsiderar esta etapa por ela ser considerada mais “limitada” em seus resultados seria como deixar de limpar a casa porque sabemos que depois ela irá sujar novamente.

A fase de pacificação tem como objetivo reduzir os sintomas que estarão se manifestando no corpo, na respiração e na mente. Sempre que passamos por um período de perturbação (sofrimento), junto com esta experiência podemos perceber alguns sintomas como inquietação ou prostração, pessimismo, humor instável, respiração curta, agitada ou pesada. Na maioria das vezes mais de um destes sintomas aparecerá. Nosso objetivo, então, será ajudar a trazer de volta um pouco de bem-estar, um pouco de calma e conforto. Dificilmente isso ocorrerá automaticamente num momento como esse, precisaremos de meios que nos possibilitem “encontrar, despertar” este sentimento. Neste ponto é que será mais visível, talvez, a diferença entre a primeira etapa e a segunda etapa. Os meios que adotaremos para nos acalmar, para nos trazer bem-estar, não são exatamente os mesmos que serão utilizados para nos ajudar a lidar com a causa do sofrimento. Neste momento, a maturidade e a sabedoria do professor (ou terapeuta, mestre, guia) são essenciais, pois cabe a ele refletir não só sobre qual o meio adequado para a pessoa como também qual o momento para realizar esta interferência.

Vivemos numa época onde, definitivamente, não nos faltam abordagens de pacificação. O difícil, em meio a tudo isso, é saber como e quando utilizar estas ferramentas. Não é à toa que, na visão do yoga, é importante encontrarmos uma pessoa em quem confiamos e que seja comprometida com o propósito de conhecer a si mesma(ou seja, dedicar-se a seu processo pessoal de aprendizado e reflexão) e conhecer o outro (ou seja, ouvir o outro e aplicar aquilo que já amadureceu em seu aprendizado pessoal) para nos auxiliar neste caminho.

Normalmente, em nossa trajetória, acabamos por esquecer de nossos problemas quando a primeira etapa traz algum efeito. Por exemplo, se eu começo a ter problemas para dormir isso me deixará incomodado, cansado, me forçará a fazer algo para resolver a situação. Talvez, se eu mudar um pouco a minha rotina à noite, este problema diminua. Talvez eu substitua a novela da noite ou o vídeo-game por um bom livro ou uma música agradável. Isso pode me ajudar, será uma mudança positiva, mas existe uma grande chance de esta não ser a principal causa das minhas noites sem sono. Essa medida me acalmará, me trará uma noite um pouco melhor, por conseqüência ficarei com mais disposição e mais saudável. Ou seja, é realmente uma medida importante, não deve ser desprezada. Porém, uma vez tendo recuperado um pouco da minha disposição, seria muito importante que eu continuasse a tentar entender a razão pela qual tenho estado agitado à noite, talvez eu descubra coisas importantes a respeito do meu dia, do meu trabalho eu de minha relação com os outros. Como popularmente se diz: não queremos ficar só apagando incêndios.

Há versos no Yogasutra que tratam deste assunto. Dentre eles temos os versos II.10 e II.16 que enfatizam a importância de continuarmos a buscar amadurecimento e clareza mesmo nos momentos em que nos sentimos bem. Ou seja, quando não há sofrimento, desequilíbrio ou perturbação aparente, devemos aproveitar para enraizar ainda mais nossa compreensão e nossa descoberta de nós mesmos. Partir do reconhecimento de que a felicidade depende de nosso estado interior e de que está, portanto, em nossas mãos, é um dos mais centrais alicerces deste sistema. Portanto, o movimento nesta direção é sempre louvável e é considerado como sendo a única maneira de realizarmos nosso propósito de ter uma vida plena, rica. Isso trará uma alegria mais verdadeira e permanente não só para nós mesmos, mas também para aqueles com quem nos relacionamos. Quanto mais alicerçada numa busca sincera, sustentada e profunda, menos excludente é nossa felicidade. Cabe a cada um a busca, ela é pessoal, não há como terceirizar, mas seus resultados sem dúvida se espalham e se multiplicam a partir desta solidez.

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Versos citados:



Yogasutra

II.10

"Te pratiprasavaheyah suksmah"

Tradução e comentários de TKV Desikachar (no livro "O Coração do Yoga") a respeito do verso:

Tendo apresentado os obstáculos que nublam a percepção clara, Patanjali indica qual deveria ser a atitude da pessoa que deseja reduzi-los.

"II.10 - Quando os obstáculos parecem não estar presentes, é importante permanecer vigilante."

Um estado temporário de clareza não deve ser confundido com um estado permanente. Partir do pressuposto de que tudo estará bem de agora em diante é perigoso. Agora é ainda mais importante ter cuidado. A queda da clareza para a confusão é mais perturbadora do que o estado de ausência completa de clareza.



II.16

"Heyam duhkham anagatam"

Tradução e comentários de TKV Desikachar (no livro "O Coração do Yoga") a respeito do verso:

"II.16 - Efeitos dolorosos que possivelmente ocorrerão devem ser previstos e evitados"

Devemos agir de maneira que possamos prever ou reduzir possíveis efeitos dolorosos. Patanjali dá continuidade ao assunto apontando as causas de tais efeitos dolorosos e o que deve ser feito para desenvolver dentro de nós a capacidade de previsão, prevenção, redução e aceitação dos mesmos. A prática de Yoga tem o propósito de reduzir os efeitos dolorosos em nós mesmos através do aumento de clareza, discriminação.

(Jorge Luis Knak)

Björk - Venus as a Boy (Live at Shepherds Bush Empire)

4 de outubro de 2011

Assuma a responsabilidade sobre sua saúde




Os fatos confirmam a grande necessidade de usar nossa consciência para criar os corpos que realmente necessitamos. Todo este perfil bioquímico será drasticamente modificado quando a pessoa se sentir tranquila. Shakespeare não estava sendo metafórico quando, através de seu personagem Próspero, disse: ' Somos feitos da mesma matéria que os sonhos.' O processo de envelhecimento pode ser neutralizado a cada dia.
Recorde-se que ao abrir seu coração e sua mente evitará que algum cirurgião o faça por você!




" Quer saber como está seu corpo hoje?

Então recorde-se do que pensou e sentiu ontem.

Quer saber como estará seu corpo amanhã?

Observe seus pensamentos e emoções hoje!

"A medicina está em você e você não a usa.

A doença vem de você mesmo e você não se dá conta."

 
(Hansrat Ali)

1 de outubro de 2011

Pensamentos

Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente.


(Jiddu Krishnamurt)



Quem trabalha com psicoterapia (e tem uma visão que a vida das pessoas deve ser tão ampla quanto as suas possibilidades) sabe que muitas vezes o sofrimento do paciente, além de suas questões pessoais, está entranhado a suas dificuldades de se ajustar as demandas e crenças da cultura.

Muitas vezes essa “parte” que se rebela e não se ajusta é a parte mais saudável dele, apesar de ele não saber disso!

Numa sociedade com uma cultura dominante como a que vivemos, de uma competição desenfreada e sem ética, materialista e consumista, infantilizada e unilateralmente extrovertida, onde o se dar bem é a custa dos outros e não com os outros, onde gentileza, delicadeza e ternura são vistos como fraqueza, quem se ajusta bem é que é BEM doente!

E o desajuste, apesar de gerar sofrimento e implicar em ter que se tomar consciência, remar contra a maré e trabalhar com ele, é um movimento a favor da saúde e da expansão da alma!

29 de setembro de 2011

28 de setembro de 2011

A melhor palavra de todas!

Ninguém é uma ilha. Como já dizia o extraordinário Ernest Hemingway. O homem é um ser social, interdependente. E apesar de ser único em si, ele se relaciona e cresce com os outros. E isso torna a sua jornada muito mais leve e gratificante. Há uma cultura do eu sou isso, eu sou aquilo. Mas vou dizer que ao contrário do que sente a maioria das pessoas que está se auto-afirmando em sua personalidade... Influenciar os outros é bom sim, mas ser influenciado é tão bom quanto deixar sua marca no mundo! E melhor ainda: não mata.


A seguir vou reproduzir um diálogo. Um diálogo muito especial, de um livro lindo que eu li em 2007 e que me despertou sentimentos tão nobres. E é daqueles livros dos quais a gente nunca mais esquece, nem que seja um pouco da essência da autora, que fica pra sempre como um perfume no espírito da gente. 
Ela é pra mim, minha escritora favorita. Aquela com quem eu mais me identifico.

Rosa Montero, é claro. Segue um trecho do livro dela...


[...]



- Continuas escrevendo teu livro de palavras?

A pergunta de Nyneve me surpreende. Endireito-me e olho para ela. Minha amiga, que também está trabalhando na horta, descansa apoiada na enxada.

-Sim. Por quê?

- Porque eu queria te presentear com uma palavra. A melhor de todas.

- Ah, sim? Qual é?

- Compaixão. Que, como sabes, é a capacidade de colocar-se na pele do próximo e de sentir com o outro aquilo que ele sente.

- Sim, gostei. Mas porque dizes que é a melhor?

- Porque é a única das grandes palavras pela qual não se fere, não se tortura, não se aprisiona e não se mata ninguém... Antes, pelo contrário, ela evita tudo isso. Há outras palavras muito belas: amor, liberdade, honra, justiça... Mas todas, absolutamente todas, podem ser manipuladas, podem ser lançadas como armas e causar vítimas. Por amor ao seu Deus os cruzados acendem as piras, e por aberrante amor os amantes ciumentos matam suas amadas¹. Os nobres maltratam seus servos e abusam barbaramente deles em nome de sua suposta honra; a liberdade de uns pode implicar prisão e morte para outros; e, quanto à justiça, todos crêem tê-la do seu lado, inclusive os tiranos mais atrozes. Somente a compaixão impede esses excessos; é uma idéia que não se pode impor a sangue e fogo sobre os outros, porque te obriga a fazer justamente o contrário, te aproximares dos demais, a senti-los e entendê-los. A compaixão é o núcleo do melhor que somos... Lembra-te dessa palavra, querida Leola. E, quando te lembrares, também pensa um pouco em mim.



Rosa Montero

História do Rei Transparente - pág. 345 e pág.346.



¹ – Claro que a autora descreve tais exemplos referindo-se à época em que se reporta no livro - e aliás descreve-os muito bem - que se trata da Idade Média. Mas hoje, na ‘modernidade’, ainda que tenhamos exemplos muito diferentes quanto ao gênero e ato típico-cultural dos praticantes, as mulheres, infelizmente, ainda são as maiores vítimas dessa distorção e manipulação de valores imposta pelos homens.

20 de setembro de 2011

Para Fernando Pessoa

...


Palavras mágicas de Pessoa fazem crescer o cabelo do fogo real laranja-lilás.
Aliás...
Palavras ocas já causaram a fúria terrível do invisível,
derribando águas nas calçadas,
o ar pesa bloqueando os sonhos.
Meus passos seguem por campos planos... descrevo a linha que vejo:


tlim... tlim...


(nayre)








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7 de setembro de 2011

O Aroma e o Abraço

Na aromaterapia , o cheiro determina o caminho da emoção. Se um sentimento já existe, ele é melhor conduzido com o aroma certo. Vou propor uma experiência a você que me lê. Quando estiver perto de pessoas especiais na sua vida, tenha a mão um raminho de alguma planta dessas, ou uma flor, sinta seu cheiro, peça para a outra pessoa cheirar e a abraçe em seguida. É uma das experiências mais prazerosas que existe.


Receta para buenas brujas


*


A utilização de óleos essenciais de plantas em tratamentos auxiliares para a mente, as emoções, o corpo e a casa.
A seguir segue-se a descrição das propriedades de alguns óleos essenciais:


... { para continuar a leitura dê um clic aqui  | excelente lista de descrição | }.





  



Um bom dia pra você.



(Nayre)
  



 
  


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3 de setembro de 2011

Totem - O Animal Interior





O que é um Totem: clic >  link

Meu Totem : clic > link

Hoje meu mundo interno está, de alguma forma, melancólico e estou buscando algo que me leve ao caminho do equilibrio, da sabedoria e do amor. Meditação, sim, silêncio indispensável e recolhimento.


Aceito o desafio de ser inteira. Incorporo o poder ancestral que me protege e espalha luz ao seu redor. Caminho pela vida buscando a consciência plena e a paz de espírito. Se tenho um tanto do dom da visão  - Que seja de minha responsabilidade:

 " Ver tudo e nada julgar. " .

Peço gentilmente aqui e agora ao Grande Sol Central  a graça que me ensine com amor, o caminho da humildade.


Assim Seja.



(Nayre)



Meu Totem é o PUMA -19.02.





2 de setembro de 2011

Fórmula

nem toda essência ciência mistura
química explosiva no ar
dos sais do corpo terroso, alimenta-se o mar
que afinal também sou eu . e és tu
por mais que nos devorem
e podem até furar os meus olhos
ainda a sentirei em toda parte   

( Nayre )




31 de agosto de 2011

A Noite Escura da Alma




Em meados de 2008, depois de passar por uma experiência kundalínica inenarrável por causa de um envolvimento com uma pessoa - uma relação kármico-positiva (diz-se Karma positivo quando há desobstrução de bloqueios e abertura de caminhos evolutivos). Passei por abertura de chakra frontal e depois de uns dias pude sentir na carne o que é a tal 'Noite Escura da Alma' o efeito-colateral e curandeiro dessa abertura de "visão". É preciso deixar claro aqui, para a maioria das pessoas que não vive o seu dia-a-dia com sua percepção extra-sensorial aberta, que eu, desde pequena tenho vivências muito fortes nesses níveis e camadas dimensionais das esferas. E muito do que eu posto aqui, é porque eu realmente VIVI isto. O que também é muito recorrente é eu passar por essas experiências e depois, vir a ler um texto ou um livro onde aquele fenômeno me é explicado. E repito: acontece exatamente assim. E não ao contrário. O texto vem pra mim como que magicamente. Também, lógico, porque eu pesquiso depois. Como disse certa vez um velho amigo meu: 'Quem procura, acha!'. E não é que acho mesmo! Ou  simplesmente me vem nas mãos.

Abaixo separei um link sobre o que os místicos chamam de 'A Noite Escura da Alma' e outro link com uma música do Arrigo Barnabé com um conteúdo bem próximo pra mostrar através da arte como essa vivência é puramente interior e sua linguagem muito mais próxima da música e da poesia pois fala-nos ao coração. É por isso que muitas pessoas racionalistas e mecanicistas quando começam a desenvolver a linguagem da alma pensam que estão loucas e não entendem nada, vão a psiquiatras; é que elas não estão habituadas à linguagem arquetípica, sacro-santa, simbólica que é a linguagem espiritual, a linguagem dos poetas. Alguns psiquiatras podem estigmatizar esse processo como "psicose, esquizofrenia" e orientá-lo a se encher de remédios, e,  se isso acontecer, bem, a escolha é sua e de sua família. Não quero vir aqui dizer para você deixar de usar o medicamento (quimicamente destruidor de mentes). Mas no meu caso, a melhor coisa que eu fiz depois de passar por isso foi homeopatia pra dormir e medicina ortomolecular pra estabilizar a química do corpo.
.

(Nayre)

A Noite Escura da Alma [Segundo o Xamanismo]

Eclipse em Meia-Lua



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30 de agosto de 2011

Não fale pelo outro o que você não sabe sobre ele.





Eu sou assim, quiser gostar de mim, eu sou assim...

E não me arrependo de nenhuma das minhas escolhas. Por mais estranha e brusca ou repentina e aparentemente sem sentido que possa ser a minha atitude. Eu posso não saber  lidar com materialidade frente aos seus jogos e artimanhas, mas a minha Alma tem consciência de TUDO. Passado, presente e futuro. Quem já experimentou as entranhas do Abismo pra salvar uma alma perdida, sabe que só voltará lá novamente com o consentimento do anjo e na companhia de um Arcanjo. Cobrar Amor do outro é uma coisa. Mergulhar no Abismo, para salvar esse amor, independentemente do poder ou não querer o outro, é outra.

Mas diga pra você aí que está me lendo...

Você já lutou contra as trevas?

...

Fica a quem é dado a questões sem fim, "pensar" nisso.

(Nayre)

24 de agosto de 2011

Orquídea de Inverno

Nove na quinta posição significa:

Homens ligados por um sentido de comunidade

primeiro choram e se lamentam, mas depois riem.

Após grandes lutas conseguem encontrar-se.



________



Duas pessoas estão exteriormente separadas, porém unidas em seus corações. Suas posições na vida as mantêm separadas. Erguem-se, entre elas, muitos obstáculos e impedimentos, causando-lhes tristezas. Mas elas não permitem que nada as separe e permanecem fiéis uma à outra. E ainda que a superação desses obstáculos exija grandes lutas, elas vencerão, e ao se reencontrarem suas tristezas se transformarão em alegria.


Confúcio comenta a respeito desta linha:



"A vida conduz o homem responsável por caminhos tortuosos e mutáveis.

Muitas vezes o curso é bloqueado, em outras segue desimpedido.

Ora pensamentos sublimes vertem-se livremente em palavras.

ora o pesado fardo da sabedoria deve fechar-se no silêncio.

Mas quando duas pessoas estão unidas no íntimo de seus corações

podem romper até mesmo a resistência do ferro e do bronze.

E quando duas pessoas se compreendem plenamente no íntimo de seus corações

suas palavras tornam-se doces e fortes como a fragrância das orquídeas".




foto: nayre.  : orquídea : dendrobium nobile :  (24.08.11 - 15:49h)





(O Livro das Mutações, Comunidade com os Homens)

18 de agosto de 2011

Jung: Livro de Jó, Alquimia e Sincronicidade





Retirado do livro "C. G. Jung: Entrevistas e Encontros", de William McGuire e R.F.C. Hull (Ed. Cultrix)

Entrevista do Prof. Mircea Eliade com Jung, em 1952.


Eliade: Aos 77 anos de idade, o Professor C. G. Jung nada perdeu de sua extraordinária vitalidade, de seu surpreendente espírito juvenil. Ele acabou de publicar, um após outro, três novos livros: sobre o simbolismo de Aion (Tempo), sobre sincronicidade, e "Resposta a Jó", o qual já deu origem a reações sensacionais, especialmente entre os teólogos.

Jung: Esse livro sempre esteve em minha mente, mas aguardei 40 anos para escrevê-lo. Fiquei terrivelmente chocado quando, ainda criança, li o Livro de Jó pela primeira vez. Descobri que Javé é injusto, que é mesmo um malvado. Pois permite-se ser persuadido pelo diabo, concorda em torturar Jó por sugestão de Satã. Na onipotência de Javé não existe consideração pelo sofrimento humano. São abundantes os exemplos da injustiça de Javé em certos escritos hebraicos. Mas não é esse o ponto; o ponto que interessa é a reação do crente à injustiça. A questão é a seguinte: Existe na literatura rabínica qualquer prova da existência de reflexão crítica ou de uma reconciliação desse conflito na Deidade? Num texto tardio (Talmud babilônbico), Javé solicita a bênção do sumo sacerdote Ishmael, e Ishmael responde-lhe: "Seja a Tua vontade que a Tua misericórdia suprima a Tua ira, e que a Tua compaixão possa prevalecer sobre os Teus outros atributos..."

O Todo-Poderoso sente que um homem verdadeiramente santificado é superior a Ele.

É possível que tudo isso seja uma questão de linguagem. Pode ser que aquilo a que chamamos a "injustiça" e a "crueldade" de Javé sejam apenas fórmulas aproximadas e imperfeitas para expressar a transcendência total de Deus. Javé é "Aquele que é", de modo que está acima e além do bem e do mal. Ele é impossível de ser apreendido, compreendido, formulado; por conseguinte, é misericordioso e injusto simultaneamente. Isto é uma maneira de dizer que nenhuma definição pode circunscrever Deus, nenhum atributo esgota as suas potencialidades.

Eu falo como psicólogo e, sobretudo, estou falando do antropomorfismo de Javé e não de sua realidade teológica. Como psicólogo, digo que Javé é contraditório, e também penso que essa contradição pode ser interpretada psicologicamente. A fim de testar a fidelidade de Jó, Javé concede a Satã uma licença quase ilimitada. Ora, esse fato não está isento de conseqüências para a humanidade. Eventos muito importantes são iminentes no futuro por causa do papel que Javé se sentiu obrigado a atribuir a Satã. Diante da crueldade de Javé, Jó está silencioso. Esse silêncio é a mais bela e a mais nobre resposta que o homem pode dar a um Deus onipotente. O silêncio de Jó é já uma anunciação do Cristo. De fato, Deus fez-se homem, tornou-se Cristo, a fim de redimir a sua injustiça para com Jó.

Javé errou mas reconheceu o erro. Será Jó sabedor disso? De qualquer modo, a posteridade percebeu o conflito doloroso causado pela imoralidade de Javé. Há a história de um sábio muito piedoso e devoto que não suportava ler o Salmo 89. Jó está certamente consciente da injustiça divina e, assim, está mais consciente do que Javé. É a superioridade sutil do progresso do homem em consciência moral, em face de um Deus menos consciente. Essa é a razão para a Encarnação.

O grande problema em psicologia é a integração de opostos. Encontramo-lo em toda a parte e em todos os níveis. Em Psicologia e Alquimia tive ocasião de me interessar pela integração de Satã. Pois enquanto Satã não for integrado, não haverá cura para o mundo nem salvação para o homem. Mas Satã representa o mal - e como pode o mal ser integrado? Só existe uma possibilidade: assimilá-lo, ou seja, elevá-lo ao nível da consciência. Isso é feito mediante um processo simbólico muito complicado, o qual é mais ou menos idêntico ao processo psicológico de individuação. Em alquimia, chama-se a conjunção dos dois princípios. De fato, a alquimia assumiu e levou por diante a obra do cristianismo. Na concepção alquimista, o cristianismo salvou o homem, mas não a natureza. O sonho do alquimista era salvar o mundo em sua totalidade; a pedra filosofal foi concebida como o filius macrocosmi, o que salva o mundo, ao passo que o Cristo era o filius microcosmi, o salvador apenas do homem. A finalidade suprema do opus alquímico é a apokatastasis, a salvação cósmica.

Estudei alquimia durante 15 anos, mas nunca falei sobre isso a ninguém; não desejava influenciar os meus pacientes ou meus colegas de trabalho por sugestão. Mas, após 15 anos de pesquisa e observação, impuseram-se-me conclusões inelutáveis. As operações alquímicas eram reais, só que essa realidade não era física mas psicológica. A alquimia representa a projeção de um drama cósmico e espiritual em termos de laboratório. O opus magnum tinha duas finalidades: o resgate da alma humana e a salvação do cosmo. Aquilo a que o alquimista chamava "matéria" era, na realidade, o eu (inconsciente). A "alma do mundo" (anima mundi), que foi identificada com o spiritus mercurius, estava aprisionada na "matéria". Por essa razão é que o alquimista acreditava na verdade da "matéria", porquanto a "matéria" era, na realidade, a própria vida psíquica do alquimista. Mas era uma questão de libertar essa "matéria", de salvá-la - numa palavra, de descobrir a pedra filosofal, o corpus glorificationis.

Esse trabalho é difícil e repleto de obstáculos; o opus alquímico é perigoso. Logo no começo encontramos o "dragão", o espírito ctônico, o "diabo" ou, como os alquimistas lhe chamavam, a "escuridade", o nigredo, e esse encontro produz sofrimento. A "matéria" sofre até ao desaparecimento final da escuridade; em termos psicológicos, a alma encontra-se nas vascas da melancolia e da angústia travando uma luta com a "sombra". O mistério da conjunção (coniunctio), o mistério central da alquimia, visa precisamente a síntese dos opostos, a assimilação da escuridade, a integração do diabo. Para o cristão "despertado" isso constitui uma experiência psíquica muito séria, pois trata-se de um confronto com a sua própria "sombra", com a escuridade, o nigredo, que permanece à parte e nunca pode ser completamente integrado na personalidade humana.

Ao interpretar-se o confronto do cristão com sua sombra em termos psicológicos, descobre-se o medo oculto de que o diabo seja mais forte, de que Cristo não tenha conseguido conquistá-lo completamente. Caso contrário, por que se acreditava e ainda se acredita no Anticristo? Por que se aguardava e continua se aguardando a vinda do Anticristo? Porque só depois do reino do Anticristo e só depois do segundo advento do Cristo o mal será finalmente conquistado no mundo e na alma humana. Em nível psicológico, todos esses símbolos e crenças são interdependentes; é sempre uma questão de lutar com o diabo, com Satã, e de conquistá-lo, ou seja, de assimilá-lo, integrando-o na consciência. Na linguagem dos alquimistas, a matéria sofre até que o nigredo desapareça, quando a aurora será anunciada pela cauda do pavão (cauda pavonis) e um novo dia nascerá, o leukosis ou albedo. Mas nesse estado de "brancura" não se vive, na verdadeira acepção da palavra; é uma espécie de estado ideal, abstrato. Para insuflar-lhe vida, deve ter "sangue", deve possuir aquilo a que os alquimistas chamam o rubedo, a "vermelhidão" da vida. Só a experiência total da vida pode transformar esse estado ideal do albedo num modo de existência plenamente humano. Só o sangue pode reanimar o glorioso estado de consciência em que o derradeiro vestígio de escuridade é dissolvido, em que o diabo deixa de ter uma existência autônoma e se junta à profunda unidade da psique. Então, o opus magnum está concluído: a alma humana está completamente integrada.

Eu sou e continuo sendo um psicólogo. Não estou interessado em qualquer coisa que transcenda o conteúdo psicológico da experiência humana. Nem sequer pergunto a mim mesmo se tal transcendência é possível, visto que, em qualquer caso, o transpsicológico tampouco é de interesse para o psicólogo. Mas no nível psicológico tenho que ocupar-me das experiências religiosas que possuem uma estrutura e um simbolismo que pode ser interpretado. Para mim, a experiência religiosa é real, é verdadeira. Apurei que, através de tais experiências religiosas, a alma pode ser "salva", a sua integração acelerada, e estabelecido o equilíbrio espiritual. Para mim, como psicólogo, o estado de graça existe: é a perfeita serenidade da alma, um equilíbrio criativo, a fonte de energia espiritual. Falando sempre como psicólogo, afirmo que a presença de Deus é manifesta, na experiência profunda da psique, como uma coincidentia oppositorum, e toda a história da religião, todas as teologias, dão testemunho do fato de que a coincidentia oppositorum é uma das mais comuns e mais arcaicas fórmulas para expressar a realidade de Deus. A experiência religiosa é numinosa, como Rudolf Otto a designa, e, para mim, como psicólogo, essa experiência difere de todas as outras de um modo que transcende as categorias ordinárias de espaço, tempo e causalidade. Recentemente, empenhei-me no estudo da sincronicidade (em poucas palavras, a "ruptura do tempo"), e estabeleci que se assemelha estreitamente às experiências numinosas em que espaço, tempo e causalidade são abolidas. Não aplico qualquer juízo de valor à experiência religiosa. Afirmo que um conflito interno é sempre a fonte de profundas e perigosas crises psicológicas, tão perigosas que podem destruir a integridade de um homem. Esse conflito interno manifesta-se psicologicamente nas mesmas imagens e no mesmo simbolismo testemunhados por toda e qualquer religião no mundo, e utilizados também pelos alquimistas.

Por isso me interessei pela religião, por Javé, Satã, Cristo, pela Virgem. Entendo muito bem que um crente veja algo muito diferente nessas imagens do que eu, como psicólogo, tenho o direito de ver. A fé de um crente é uma grande força espiritual, é a garantia de sua integridade psíquica. Mas eu sou médico e estou interessado em curar os meus semelhantes. A fé e somente a fé já não tem poder - infelizmente! - para curar certas pessoas. O mundo moderno está dessacralizado; por isso está em crise. O homem moderno deve redescobrir uma fonte mais profunda de sua própria vida espiritual. Para tanto, é obrigado a lutar com o diabo, a enfrentar sua própria sombra, a integrar o diabo. Não há outra escolha. É por isso que Javé, Jó, Satã, representam situações psicologicamente exemplares; eles são como paradigmas do eterno drama humano.


Eliade: Jung descobriu o inconsciente coletivo - quer dizer, tudo o que precede a história pessoal do ser humano - e aplicou-se a decifrar as suas estruturas e a sua "dialética", com vistas a facilitar a reconciliação do homem com a parte inconsciente de sua vida psíquica e a conduzi-lo no sentido da integração de sua personalidade. Ao invés de Freud, Jung toma em consideração a história: os arquétipos, essas estruturas do inconsciente coletivo, estão carregados de história. Já não é uma questão, como quer Freud, de uma "espontaneidade natural" do inconsciente de cada indivíduo, mas de um imenso reservatório de lembranças históricas, uma memória coletiva na qual é preservada, em essência, a história de toda a humanidade. Jung acredita que o homem deve fazer maior uso desse reservatório; o seu método analítico dedica-se, precisamente, a encontrar os meios adequados para usá-lo.

Jung: O inconsciente coletivo é mais perigoso do que dinamite, mas existem métodos para manipulá-lo sem maiores riscos. Depois, quando se desencadeia uma crise psicológica, estamos em melhor posição do que qualquer outro para resolvê-la. Temos sonhos e devaneios; tratemos de os observar. Poderíamos quase dizer que todo o sonho, à sua própria maneira, contém uma mensagem. Ela não só nos diz que algo está errado nas profundidades do nosso ser, mas também nos oferece uma solução para sair da crise. Pois o inconsciente coletivo que nos envia esses sonhos já possui a solução: nada se perdeu da toda a experiência imemorial da humanidade, toda a situação imaginável e toda a solução parecem ter sido previstas pelo inconsciente coletivo. Basta apenas que observemos cuidadosamente. A análise ajuda a ler corretamente essas mensagens.


Eliade: Foi observando seus próprios sonhos - que ele tentou em vão interpretar nos termos da psicanálise freudiana - que Jung foi levado a pressupor a existência do inconsciente coletivo. Isso aconteceu em 1909. Dois anos depois, começou a dar-se conta da importância de sua descoberta. Finalmente, em 1914, ainda em conseqüência de uma série de sonhos e devaneios, ele compreendeu que as manifestações do inconsciente coletivo são, em parte, independentes das leis do tempo e da causalidade. Como o Professor Jung amavelmente me permitiu que falasse desses sonhos e devaneios, os quais desempenharam um papel capital em sua carreira científica, eis um resumo deles.

Jung: Em outubro de 1913, enquanto viajava de trem de Zurique para Schaffhausen, ocorreu-me um estranho incidente. Ao atravessar um túnel, perdi a consciência de tempo e lugar, e só fui acordado uma hora depois, quando o condutor anunciou a chegada a Schaffhausen. Durante todo esse tempo fui vítima de uma alucinação, de um devaneio. Estava olhando para o mapa da Europa e vi como, país por país, começando com a França e a Alemanha, a Europa era tragada pelo mar, até ficar submersa. Pouco depois, todo o continente era um lençol de água, com exceção da Suíça; a Suíça era como uma alta montanha que as ondas não podiam alcançar. Vi-me sentado na montanha. Mas então, olhando mais atentamente à minha volta, percebi que o mar não era de água, mas de sangue. Flutuando sobre as ondas havia cadáveres, telhados de casas, madeiras calcinadas.

Três meses mais tarde, em dezembro de 1913, e novamente no trem que me levava a Schaffhausen, repetiu-se o mesmo devaneio, de novo ao entrar no túnel (Dei-me conta, subseqüentemente, de que era como uma imersão no inconsciente coletivo). Como psiquiatra, fiquei preocupado, imaginando se eu não estaria a caminho de "fazer uma esquizofrenia", como dizíamos na linguagem desses tempos. Finalmente, alguns meses mais tarde, tive o seguinte sonho: Vi-me nos mares do sul, perto de Sumatra, no verão, acompanhado de um amigo. Mas soubemos pelos jornais que uma terrível onda de frio tinha varrido a Europa, como não havia notícia de que tivesse ocorrido antes. Decidi ir até Batávia e embarcar num navio de volta à Europa. O meu amigo disse-me que pegaria um veleiro de Sumatra para Hadramaut, e daí continuaria sua viagem através da Arábia e Turquia. Cheguei à Suíça. Em meu redor só via neve e mais neve. Uma vinha enorme estava crescendo algures; tinha muitos cachos de uvas. Acerquei-me e comecei apanhando as uvas, distribuindo-as por um magote de gente que me rodeava mas que eu não podia ver.

Três vezes esse sonho se repetiu e, finalmente, fiquei deveras intranqüilo. Eu estava justamente nessa época preparando uma conferência sobre esquizofrenia, para ser lida num congresso em Aberdeen, e não me cansava de repetir para mim mesmo: "Estarei falando de mim mesmo! Muito provavelmente enlouquecerei depois de ler a conferência". O congresso teria lugar em julho de 1914 - exatamente o período em que, nos meus três sonhos, via-me viajando pelos mares do sul. A 31 de julho, imediatamente após a minha conferência, soube pelos jornais que eclodira a guerra. Finalmente entendi tudo. E quando desembarquei na Holanda, no dia seguinte, ninguém era mais feliz do que eu. Agora tinha a certeza de que nenhuma esquizofrenia me ameaçava. Compreendi que os meus sonhos e as minhas visões me chegavam do subsolo do inconsciente coletivo. O que me restava agora fazer era aprofundar e validar essa descoberta. E isso é o que estou tentando fazer há 40 anos.


Eliade: Jung ficou satisfeito ao receber uma segunda explicação desse sonho pouco depois. Os jornais não tardaram em noticiar que um capitão da Marinha alemã, de nome von Mücke, que tinha cruzado os mares do sul num veleiro, de Sumatra para Hadramaut, se refugiara na Arábia e daí alcançara a Turquia.



Replicado da Compilação de Sidharta Campos.