Se formos nos reportar as referências que temos nos anais da história a respeito dos enigmáticos alquimistas, chegaremos à conclusão que esses sábios homens foram filósofos cientistas que através da busca pelo conhecimento das leis ditas naturais expressadas no mundo (macrocosmo), como consequências de uma causa maior, tentaram entender a sua natureza microcósmica, para com isso virem a obter a fórmula e método de como transmutar o seu Ser e o meio em que se encontravam, em prol de uma comunhão completa com o Criador. Eram Iluminados voltados para meios que antes não eram separados, cientes de que tudo deriva de um único principium, a verdadeira Ciência indistinta de uma separação entre espiritualidade e ciência materialista.
Com a ramificação, deteriorização e alienação dos conhecimentos da fonte, muitas coisas foram levadas ao extremo do egoísmo, fazendo com que essas verdades fossem encobertas por fantasias daqueles que não queriam procurar a legitima essência a partir de analogias precisas.
Eis que conseqüentemente surgiu uma manifestação predominante da razão sectária credológica. Nisto, em muitos dos casos, aos leigos principalmente, foi imposta uma lei de aceitação inquestionável das teses teogônicas, onde a primordial ciência tinha sido subjugada pelos dogmas das formalizadas instituições que assumiram o termo de religião.
Com o ocorrido, muitos se revoltaram e, consequentemente, problematizaram e elaboraram uma base de estudos separados do sagrado e espiritual; confundiram a essência do saber com as cascas dogmáticas e fantasiosas dos credos ideológico. Com isso, essas pessoas voltaram-se para uma razão e supervalorização de uma lógica empírica, materialista e, em determinados casos, fanática.
Então, eis que surgiu a era da critica da razão pura, o iluminismo e o apreço a um materialismo que naquele momento (e em outros) mostrava mais coisas óbvias e palpáveis do que a religiosidade que oprimia, condenava, e matava em nome de um deus.
A ciência que surgia nesse período foi se formulando e tornando-se mais separada ainda do meio transcendente. Nessas transformações, de um lado prevaleceu a lógica material, e de outro ficou em seu canto a razão espiritual.
Com a repercussão dessa cisão, predominou as partes palpáveis e quantificáveis dessa ciência, ocorrendo isso com a astrologia que deu nascimento a astronomia (provavelmente com sua cisão no século XVII) e da alquimia que gerou a química. Hoje boa parte, com algumas exceções, das ditas ciências estudadas nas academias e escolas são de cunho limitado aos aspectos fatídicos do dia a dia.
Dentro desse contexto e, levando em conta a figura do Alquimista ou estudante de Alquimia, temos que ele é, em sua natureza, um cientista, pois o mesmo precisa entender o processo de transmutação física/química e elemental para que com isso venha tirar proveito desse conhecimento e utilizar isto em seu processo de transmutação interior para a tão almejada obtenção da Grande Obra, que só poderá ser obtida através da harmonia entre o que esta em cima (O interior, logos superior) com o que esta embaixo (O exterior, o mundo fatídico e a natureza).
Já o cientista, quando somente se reporta à dita ciência limitada, é somente um cientista, pois ao aceitar o limite cientifico, e somente seu caráter positivista, estará se tornando apenas um físico ou um químico, geneticista, etc. Mas, se o mesmo é aderente a essa união que antes era inseparável, ele se enquadra em uma condição de estudante ou ao nível dos assim chamados alquimistas adeptos.
Temos como exemplo de Alquimista cientista o célebre Isaac Newton. O mesmo transitou pelas ditas ciências ocultas, mas com objetivos bem pragmáticos e com instrumental digno de um pesquisador sério. Suas investidas pela alquimia levaram a importantes descobertas para a química moderna. Mas tudo que foi apresentado por Newton foi exposto sob um ponto de vista lógico em seus resultados mas não deixam de ser conteúdos embasados em teorias alquímicas e transcendentais. Porém, a ciência dita limitada de hoje, em muitos dos casos, teve (tem) a intenção de somente expor aquilo que pode ser usado como algo de valor desde que possa ser separada de seus aspectos mau compreendidos pelas massas.
Newton, em seus estudos da astrologia, reconheceu o seu valor e auxílio em relação a capacidade de enxergar o universo de forma mais aberta, culminando em conclusões importantes para a astronomia.
Em parte, sofremos a influência do iluminismo de Voltaire (que segundo alguns era ligado ao Rosacrucianismo), que nos deu em destaque e visibilidade somente o teor racionalista de Isaac Newton. O outro lado da questão é devido à ultra-especialização de nossa cultura – o físico detém-se apenas à sua formação para compreender Newton, o químico idem, já o estudante ou o próprio alquimista sabe que para compreender a verdadeira forma de como obter a Magnus Opus é priori se impor acima de todas essas bases e unificá-las juntamente com o Transcendental, desde que esse não seja em totalidade algo dogmático.
Por isso que em muitos círculos Herméticos onde o Mestre instruía seu discípulo nas artes Alquímicas prevalecia a seguinte prelazia:
“ORA, LEGE, LEGE, RELEGE, LABORA ET INVENIER”
(ORE, LÊ, LÊ, RELÊ, TRABALHE E ENCONTRARÁS)
Podemos conferir em pesquisas que grandes cientistas foram exímios alquimistas, e que suas descobertas por terem tido uma grande importância para a evolução da ciência moderna, só foram expostas e reconhecidas em aspectos e funções que condiziam com ao que era aceito pela massa cientifica e limitada.
Dentre esses sábios, temos não somente Newton, mas também…
Santo Alberto Magno: 1193 – 1280 – conseguiu preparar o hidróxido de potássio e descreveu a composição química de diversos compostos, como o cinábrio, o alvaiade e o mínio;
Paracelso: 1493 – 1541- o primeiro a se referir a luz astral nos meios alquímicos, chegou a identificar o zinco como um novo metal, com propriedades diferentes das até então conhecidas, pioneiro na utilização medicinal dos compostos químicos e, além disso, descobriu varias formas de tratar doenças que assolavam a Europa no século XVI;
Roger Bacon: 1214 – 1294 – Pioneiro em enfatizar a possibilidade de utilização de lentes ópticas para aumentar objetos pequenos;
Raimundo Lúlio: 1233- 1316 – Alquimista que com maestria preparou o bicarbonato de potássio;
Giambattista della Porta: 1535- 1615 – preparou o óxido de estanho II
Abu Musa Jabir ibn Hayyan: 721– 815 – também conhecido pelo nome latino Geber, o primeiro a desenvolver um processo de destilação perfeito, alquimista islâmico proeminente, além de farmacêutico, filósofo, astrônomo, e físico. Ele também foi chamado de “o pai de química árabe” pelos europeus.
Maria, a Judia (ou Maria, a Profetisa): uma antiga filósofa grega e famosa alquimista que viveu no Egito por volta do ano 273 a.C.. dizem que viveu na época de Aristóteles (384–322 a.C.); suposta criadora do banho-maria;
Carl Gustav Jung: 1875 – 1961 – Incorporou os conceitos e simbologia da alquimia a psicologia analítica, comprovando a relação entre a arte da transmutação com a constituição da psique humana, através de seus arquétipos em interação com um inconsciente coletivo.
Replicado do blog O Alvorecer.
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