29 de dezembro de 2009

(Um Segredo de Luna)




A extravagância
Do negro espelho,
esplendor de nossas águas
onde a lua reflete
Sem palavras
Aportas em silêncio
Conformada?
Toca-me a pele molhada
Calada, marcada, selada
E tua beleza prossegue submersa
Submissa
Acostumada a ser adorada
Pelos mortais iguais
Mas ainda apela pelo amor de um único santo
E múltiplos poetas
Sofres sozinha?
Ferida de negra e incurável melancolia?
Não creio que vagas submersa entre nuvens e florestas
Num mundo imaginário
Destaca-te do universo por ser única
E sei que lá no fundo não desprezas as estrelas
 (Que te enfeitam na noite em que brilhas!)


                                                   Nayre





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25 de dezembro de 2009

Androginia





O objetivo da homossexualidade é a desconstrução da família tradicional, com raízes no liberalismo teológico, no feminismo extremado e na espiritualidade do neo paganismo a que assistimos.
Hoje gostaria de ir um pouco mais longe nas marcas pagãs da nossa sociedade que têm ressuscitado um culto da androginia. Desde sempre, que o paganismo andou de mãos dadas com o sistema religioso andrógino.

Mel Gibson, na sua “Paixão”, retratou de forma genial a figura do diabo. Sibilino e escorregadio, insinuante e provocante... bonito. Bonito mesmo! E... andrógino. Aquela cena misteriosa quando o diabo leva ao colo e acarinha uma criança envelhecida, o que significará? Bem, primeiro o diabo não acarinha nada! Será a inocência perdida que ele carrega!? Será a criação por redimir, e que mais tarde é restaurada por aquela lágrima divina que irá despoletar todos os fenômenos naturais? Pode ser. Visto que quando o diabo grita alucinado e derrotado, já não tem nada ao colo. A putrefação da criação e da humanidade escaparam-lhe. Com a morte de Cristo tem início uma restauração cósmica que terá a sua apoteose nos novos céus e nova terra. Mas, mesmo aquele ser aberrante e abjeto, ao colo de satanás é um andrógino ontológico.

Já na época Suméria (1800 AC) havia sacerdotes andróginos associados ao culto da deusa Ishtar. A razão do seu culto era porque a deusa tinha “transformado a sua masculinidade em feminilidade”, e funcionavam numa posição ambígua entre o mito e a realidade.

Várias formas de androginia são encontradas na Síria e na Ásia Menor no 3º século AC, mas a sua expressão mais clara aparece durante o Império Romano. Está bem documentado que a Grande Mãe Cibele tinha sacerdotes andróginos chamados Galli que se castravam como ato de adoração permanente à deusa. Uma versão de Cibele encontra-se em Éfeso, onde Paulo fundou uma Igreja, sob o nome de Artémis. Na Síria a Cibele tem o nome de Rhea. Os ritos de iniciação para o culto a Cibele ou a Rhea, incluíam o batismo no sangue de um touro morto na arena. No fim da cerimônia por vezes os “poderes genitais” do touro eram oferecidos à mãe dos deuses. Mais uma prova da emasculação do macho diante da divindade feminina. Não há muitas dúvidas de que este ritual era uma reprodução do culto mítico egípcio a Isís, em que o irmão/amante Osíris é morto e o seu corpo cortado aos bocados. Isís, junta os pedaços do corpo do seu amante, exceto o pênis que é comido por caranguejos, e magicamente restaura-o à vida. Por outras palavras, mesmo na morte o macho ideal é emasculado, como os Galli em vida.

Há razões para acreditar que uma forma antiga de Gnosticismo, chamado Hermetismo, influenciou o Ocidente na Idade Média, revelando-se na espiritualidade mística da Alquimia. Assim, o alquimista espiritual transformou-se naquele que “sabe segredos”. Embora não houvesse nenhuma manifestação sexual explícita, o juntar dos opostos (fenômeno tão querido dos espiritualistas da Nova Era) era visto como um casamento sagrado, cujo fruto era a “pedra filosofal”. Por vezes o fruto aparece representado como um “filho da obra”, apresentando-se com o nome de Andrógino Hermético. Um ser autenticamente “dois-em-um”. No mínimo, haverá aqui uma androginização ritual.

A herança moderna da Alquimia é a Teosofia. A sua fundadora, Madame Blavatsky, mantinha uma relação lésbica dominadora com a sua sucessora Annie Besant. Aleister Crowley e Charles Leadbeater, notáveis homossexuais, continuaram a obra da fundadora iniciando a liga pagã da 'Ordem Hermética da Aurora Dourada' (uma  distorção da verdadeira Aurora Dourada que mencionam os rosacrucianos). As suas atividades eram abertamente uma propaganda da sua espiritualidade pagã.

Falta o espaço para mencionar variadíssimas manifestações de androginia nos cultos Africanos, com os “sacerdotes assexuados vestidos e comportando-se como mulheres”; nos feiticeiros da Amazônia; nos bruxos Celtas; e na espiritualidade Hindu, com o Yoga Tântrico. Mircea Eliade explica: “quando Shakti (uma divindade hindu), que dorme na forma duma serpente (kundalini), na base do seu corpo, é acordada por certas técnicas yogâmicas, ela mexe-se através das chakras (mediadores de energia) até ao topo da cabeça, onde habita Shiva (outra divindade hindu), e une-se a ele”. O praticante de yoga, por técnicas poderosas de meditação sexual/espiritual, é assim transformado num tipo de andrógino. Também no Budismo o verdadeiro humano, o arquétipo, é chamado bodhiasattva, e é andrógino.

É interessante notar que todos estes cultos pagãos têm em comum, para além da androginia, o comportamento levitacional, a auto mutilação, e a encarnação em animais. Também há uma habilidade na comunicação com o mortos. Emily Culpepper, ex-batista, agora uma bruxa lésbica pagã, diz o seguinte: “o poder das bruxas, das sibilas, e dos druidas, emerge da sua capacidade de comunicar com os não humanos: forças extraterrestres e subterrâneas, e com o mundo espírita dos mortos”.

São evidências sóbrias, as que enunciei. O paganismo da nossa sociedade vem vestido de sexualidade pagã. Dito doutra forma: a homossexualidade não será tanto uma questão biológica ou social, mas sim a expressão prática de espiritualidades pagãs tão velhas como o mundo. É cada vez mais evidente que um compromisso religioso vem acompanhado de uma prática sexual bem definida. (veja-se só o escândalo na América dos padres sem castidade)

Texto de apoio: “Tratado de História das Religiões, Mircea Eliade" - De Samuel Nunes.