19 de março de 2011

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A pior ignorância não é a de quem não sabe, mas a de quem não sabe e pensa que sabe.
              - nayre


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14 de março de 2011

Eles. Esses Imortais...

 
"...conheci razoavelmente Clarice Lispector. Ela era infelicíssima. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo..."
 
 "... falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literalmente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida". Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria "trip" e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce, como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud. É esse o tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço. Ou então você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na Cultura, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci/conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. Raramente me engano.." 
 
 
Caio Fernando Abreu  

Está na edição de "Morangos Mofados", da Agir, 2005. Trata-se de uma carta de Caio ao amigo José Márcio Penido, em que ele discute o processo de criação de "morangos...". E mais: chama a escolher o tipo de criadores que só nós podemos ser, em qualquer linguagem artística. Viva a escrita desenfreada de Caio neste dia da poesia!!! 
(Ney Paiva - escritor e poeta)
 

10 de março de 2011

O sadismo e o masoquismo dos nossos tempos

        

Agora quero falar um pouco sobre um assunto frequentemente maquiado no nosso dia-a-dia e vendido - superficial e inconscientemente como uma força necessária para se manter o "equillíbrio" da satisfação entre casais modernos. O sadomasoquismo (psicológico ou físico) que se faz muito presente entre a nova geração de adultos e já começa a ser um dos quesitos básicos para quem quer ser "descolado" (pseudo-sábio) no que se refere aos requintes de prazer na hora do sexo. 

***

Doença, tendência natural ou falta de equilíbrio pessoal? 

A vida, para ser valorizada, precisa ser vasculhada em toda a sua extensão, por isso decidi observar, mergulhando na psicopatologia, pelas portas das trevas adentro, sem me envolver  diretamente,  para poder entender e apreciar melhor as alturas Etéreas.

Bem, para começar, vamos lembrar quem foi o homem  precursor desta prática um tanto antiga: o parisiense Donatien Alphonse François de Sade, o marquês de Sade (* 1740 /  + 1814)  foi um aristocrata francês e escritor libertino. Muitas das suas obras foram escritas enquanto estava na Prisão da Bastilha, encarcerado diversas vezes, inclusive por Napoleão Bonaparte. De seu nome surge o termo médico sadismo, que define a perversão sexual de ter prazer na dor física ou moral do parceiro ou parceiros.

O criador desse tipo de fetiche era um aristocrata.  Sim, porque muito provavelmente uma  pessoa que sinta a necessidade de ser agredida ou agredir outra e ainda sentir prazer (alívio fisico) o faz pelo simples fato de sua vida ser branda demais... Tudo certinho, educação rígida em casa, falta de situações de risco, pois não lhes falta nada  e sobra O Quê? TÉDIO... Muito tédio.

Já notaram que pessoas mais despojadas como monges, eremitas urbanos e gente mais simples não se interessam por esse tipo de loucura, não vão atrás de situações perigosas porque a vida delas já é um martírio? Passam por provações diárias e o que elas mais querem é viver em paz, amar em paz. 
Há uma busca constante pela luz, não pelo perigo.

A pessoa endinheirada, aquela que não precisa se preocupar com o aspecto material, pois está cercada pela riqueza, passa longas fases à procura de loucura, tempestades mentais, paixões avassaladoras e trovoadas ressonantes... Ela precisa disso! Claro. São elementos em falta no seu sangue, precisa escoar essa energia, toda essa adrenalina e hormônios, pois tem uma vida muito cerceada, se aborrece facilmente, carece de aventura. Li num livro de Moacyr Scliar que pessoas cujo genitor se comportou com elas de maneira autoritária e rígida, têm tendência a sentir prazer (quase que sexual mesmo) em maltratar o amante ou parceiro. Assimilaram e reproduziram o comportamento do pai como compensação e auto-afirmação.

Já o asceta, aquele que se priva de prazeres mais vulgares, não busca cegamente o que é psicologicamente desequilibrante, pois sente necessidade de um outro tipo de prazer, é um outro nível de percepção. Ele só deseja paz de espírito, pois sabe que a única forma de sentir o profundo gosto das coisas é estando limpo.  

Hoje entendo aquela frase: "É mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino dos céus". É a velha constatação de que a matéria nos torna insaciáveis... A matéria e tudo o que se busca fora de si mesmo, nunca irá saciar ninguém. Por isso concordo com Osho quando ele diz: "Sê inteiro para amar, não existe a outra parte da laranja..." Não busquemos o equilíbrio fora, passando a responsabilidade da nossa felicidade para outra pessoa, mas sejamos inteiros para encontrar  antes de tudo o equilíbrio dentro de si. Como disse Jesus: "largue o pai, a mãe, os bens e me siga", ou seja, siga a luz crística que habita em você e não as coisas mundanas... Mas poucas pessoas sabem o que é isso, enfim... Cada um tem o seu ópium e seu grau º de consciência.

Fico pensando na minha vida... Aparentemente sóbria, simples e básica... Mas dentro de mim uma infinidade de nuances cintila diariamente. Eu não busco o sexo... Por incrível que pareça, quanto mais fujo dele, mais ele me persegue... Mas por enquanto eu só quero morrer por 1/2 hora de um orgasmo mental no chakra coronário, afinal, eu já estou de cara mesmo... 

Porque algumas pessoas são afortunadas e outras não? Resposta - Ter dinheiro nem sempre é sinal de prosperidade. Parto do princípio de que devemos buscar primeiro as coisas do espírito e todo o restante (em prazer) nos será turbinadamente acrescentado, mas quantos estão acordados para essa realidade? Quantos estão preparados para pagar o preço de ser feliz ? Recebemos exatamente aquilo que buscamos. Mas será que você tem procurado no lugar certo?


 Nayre

"Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível." (Mahatma Gandhi)

 Link: 
Quando a roleta russa do sexo dá morte




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4 de março de 2011

Magia de Gaia


Aconteceu em abril, maio de 2009, em Antonina- Paraná- Brasil 


Moro numa área ladeada pela floresta subtropical úmida,  chamada Mata Atlântica, onde há uma infinidade exuberante de seres vivos.  Tanto em espécies vegetais quanto em espécies animais.
E aqui no meu jardim, tenho me deparado com umas pequenas libélulas douradas de rara beleza...  Nas tardes de sol elas ficam a brincar no jardim e aparecem de pertinho, na minha janela, na porta da sala adentro.  São grupos que variam... De 2 e 3. Depois 4, 6...                                
Tão bonitas! Todos os dias durante aproximadamente dois meses isso vem    acontecendo...                                               
Hoje choveu aqui, mas espero  vê-las novamente.  
Bem, se não voltarem, será o 1º dia sem o ar de sua graça.
Sabe, tive um “contato” com uma delas, que pousou sobre o meu dedo indicador e ficou ali, parada com as duas patinhas dianteiras juntas , como em oração, olhando para mim, depois pousou na minha blusa no lado do coração e voou. Estou contando isso porque de fato aconteceu e sei que esses serezinhos raramente pousam em nós, pois são muito ligeiros.
Tenho um cristal bruto de citrino (quero ver se encontro a foto dele em um dos meus arquivos) que é praticamente da mesma cor que essas libélulas douradas que andam aparecendo por aqui. É de um amarelo escuro meio avermelhado, transparente com pontinhos castanhos por dentro...  Exatamente como são as asinhas delas.  A diferença é que as asinhas brilham como ouro, como a cor de outra pedra que também achei no meu quintal durante esse mês que já passou, uma espécie de ouro de rio.
Uso essas pedras no meu chakra do ventre e do umbigo para acalmar à noite, antes de dormir.  Dia desses passados, na egrégora de Saint Germain que frequento - aqui em Morretes, cidade ao lado -  uma senhora  rotacionou os meus chakras no sentido horário  com imposição das mãos e disse que meu ventre se iluminou,  num redemoinho de luz... Saí de lá quase flutuando, de tão leve!
Ai ! É muita experiência nova que tenho ali.  Sensações inefáveis que ando tendo. Um bem-estar indescritível quando saio daquele lugar. É muito sutil... É tanta coisa que experimento, que algumas delas precisam até  ficar em segredo.
Isso porque eu nem comecei a contar da Constelação de Órium, que é para lá que tenho direcionado minha Kundalini.
Sim, também trabalhamos kundalini nesse grupo.

Mas voltando às libélulas...

Os biólogos afirmam que as matas tropicais têm dessas coisas. Que os  bichos que nela nascem são altamente mutantes. Que aparecem espécies novas o tempo inteiro... Eu realmente nunca havia encontrado libélulas tão belas! Ando pela cidade inteira e em outros quintais e só as encontro aqui.
Sei que não são minhas, tampouco  foi eu quem as inventou,  mas fico aqui só viajando... Sonhando acordada. Só sei que são minhas amigas!

Há tanto o que se maravilhar com a natureza viva!

Viva Gaia. Viva o Sagrado Feminino. 






 Nayre


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11 de fevereiro de 2011

Enigmas da Culpa



De que falamos, quando falamos em culpa?



Observação do patrocinador: 

Antes de ler e comentar qualquer coisa sobre o texto, pretendo deixar claro que este blog não aprova qualquer tipo de tratamento ofensivo contra qualquer pessoa ou animal. O texto abaixo é puramente científico e retrata a realidade. Também quero lembrar ao leitor que o sacrifício de ratos em laboratórios, embora tenha ajudado imensamente a ciência a encontrar a cura de muitas doenças, é uma técnica eficaz da nossa época, e como tudo na ciência, esta técnica está sujeita a mudanças. Espero que logo possamos dizer que isto não é mais necessário. Porém, hoje, questionada sobre a minha ética como ambientalista e vegetariana por um vegano num site de relacionamento sobre a  postagem, não hesitei em responder em tom ríspido: "Quando você for se tratar com seu médico pense em todas as cobaias que foram sacrificadas para que você continuasse vivo". Portanto, é muita demagogia falar que eu aqui não tenho ética com esta publicação, quando o outro lá que se assume publicamente vegano, usufrui dos bebefícios que a ciência conquistou por esses meios, me acusa de forma alusiva pelo MUNDO ainda ser do jeito que é.

Espero a compreensão e se esta não for possível, o respeito pelo menos.

Nayre Fernandes Martins.

***

      -> ->      Mas o que é, mesmo, a culpa? Podemos conceituar a culpa como uma acusação ou auto-acusação, por um crime, uma falta ou ato inadequado,  reais ou imaginários. Este conceito tem vários “ou”, o que é uma evidência de imprecisão. Mas imprecisão é uma constante neste tema tão antigo quanto conflituoso.
            É a culpa uma emoção ou um sentimento? Como veremos, a pergunta não é tão ociosa (ou preciosista) quanto parece. Para respondê-la precisamos definir nossos termos.
            O termo emoção provém do latim emotionem: ex, fora, para fora, e motio, movimento, ação. Daí surgiram termos similares nas línguas modernas européias. O uso do termo francês émotion data 1538. O inglês emotion é de 1579. O italiano emozione e o português emoção aparecem no começo do século XVII. Época muito significativa: o começo da modernidade, uma fase histórica que caracterizou-se pelas rápidas mudanças sociais, econômicas e culturais, pela afirmação do indivíduo ─ e de suas emoções. De fato, da acepção mais antiga, que era a de confusão, desordem, passou-se para uma outra: a agitação da mente ou do espírito. No século XIX a palavra passou a fazer parte do vocabulário da moderna psicologia, que então nascia.
            Variam as definições de emoção: fenômeno puramente biológico, puramente psicológico, ou uma mistura dos dois? É uma discussão que remonta a Descartes, para quem corpo e alma, ou espírito, eram entidades separadas, uma idéia contestada no mesmo século XVII por Spinoza: corpo e espírito, dizia ele, têm uma origem comum. Em relação à emoção propriamente dita, a maioria dos pesquisadores adota uma  posição intermediária, diferenciando entre emoções básicas, como o medo, na qual o fundamento biológico é evidente, e outras mais complexas, na qual o componente psicológico tem papel maior. Também variam as emoções básicas conforme o autor, mas medo, raiva e tristeza figuram na maioria das listas. Podemos definir emoção como um estado mental que, sem controle da consciência, mas por esta percebido, se origina do sistema nervoso e que desencadeia uma resposta de natureza psicológica e fisiológica. Ou, nas palavras do neurologista Antonio Damasio: reações naturais, automáticas, que visam, direta ou indiretamente, a preservar o corpo e assegurar o equilíbrio interno do organismo.
           A literatura de língua inglesa fala da definição de emoção segundo o modelo ABC, physiological arousal (mobilização fisiológica), behavioral expression (expressão comportamental, por exemplo, gestos) e conscious experience, experiência consciente da emoção. O primeiro e o segundo itens têm tradução corporal; assim, o medo se manifesta pela aceleração do coração e tensão muscular, a raiva de maneira similar, e a tristeza por um aperto na garganta.
            Onde se originam as emoções? Com os modernos estudos do cérebro, a pergunta está na ordem do dia, mas ela é mais antiga do que parece.Um pioneiro na área foi Franz Joseph Gall (1758 - 1828), neuroanatomista e fisiólogo alemão, criador da cranioscopia, depois rebatizada como frenologia (do grego phrenos, mente). Os frenólogos procuravam correlacionar traços da personalidade com as saliências cranianas. Assim, bossas frontais (aquelas que temos na testa) desenvolvidas seriam sinal de inteligência, de talendo. A isto alude até hoje o termo bossa; dizer que alguém tem bossa para o teatro é falar de uma vocação teatral.
            No século XX surgiu o conceito dos três cérebros ou cérebro triuno, estabelecido a partir dos anos cinqüenta pelo neurologista norte-americano Paul MacLean (e, desde então, modificado em função dos avanços da neurologia). Temos, diz ele, três cérebros em um, três cérebros que foram surgindo ao longo do processo evolutivo. O mais antigo é o cérebro reptiliano, que, como o nome diz, existe só nos répteis (cobras, jacarés). Compreende o tronco cerebral e porções do diencéfalo; seria responsável pelo funcionamento automático do organismo, no que diz respeito a respiração, circulação, reflexos, instintos. O mais novo é o neocórtex, ou cérebro neomamífero, que só existe nos primatas superiores; nos humanos, é responsável pelo conhecimento, pela lógica, pelo raciocínio, pela linguagem. Graças ao neocórtex podemos compreender o que está acontecendo, conectar informações de maneira racional, resolver problemas, fazer planos. O córtex e o neocórtex são divididos em partes chamadas lobos. O lobo frontal comanda as ações motoras, a fala, a imaginação, a consciência social, o pensamento simbólico, o cálculo, a memória de longo prazo. Não gera emoções, mas interpreta-as e articula a resposta psíquica para elas.
            Entre os dois cérebros estão cérebro paleomamífero, dos mamíferos inferiores, que surgiu a cerca de 70 milhões de anos. Ali localiza-se uma importante estrutura chamada amígdala (atenção: não é a da garganta...). A palavra vem do grego e quer dizer amêndoa, porque a amígdala tem a forma e o tamanho de uma amêndoa. É formada por um grupo de células nervosas localizadas profundamente no cérebro de vertebrados superiores, incluindo-se aí os humanos. A amígdala faz parte do sistema límbico (do latim limbus : borda, margem), que abrange as várias estruturas envolvidas na emoção, na motivação e na associação memória-emoção. O médico francês Paul Broca foi o primeiro a falar (em 1878) no grand lobe limbique, mas só em 1937 o americano James Papez correlacionou-o com a emoção; suas idéias foram retomadas e ampliadas por Maclaean. A emoção parece ser uma forma de alertar o cérebro para prestar atenção no que está acontecendo e reagir de acordo com as necessidades.
O sistema límbico funciona influenciando o sistema endócrino e o sistema nervoso autônomo, que controla a respiração, a circulação e outras funções. Está conectado com o córtex pré-frontal, uma área do cérebro que compatibiliza pensamento e ação com os objetivos da pessoa através de um processo de julgamento. No passado e ainda hoje, muitas doenças mentais eram tratadas pela secção cirúrgica desta área; a agitação e a agressividade cessam, mas a pessoa fica passiva e desmotivada.
            A amígdala desempenha um importante papel na gênese da emoção; por exemplo, o estímulo elétrico desta região desencadeia reações de medo. Ao contrário, macacos cuja amígdala foi retirada cirurgicamente (que maldade) parecem perder a capacidade de se atemorizar (capacidade sim; alerta-os contra riscos). Esta situação foi descrita em 1939 por Heinrich e Paul Bucy, que haviam removido os lobos temporais (onde se encontra a amígdala) de macacos. Observaram que os animais ficaram apáticos e que não pareciam temer inimigos naturais, como cobras. Ao contrário, mesmo depois de serem atacados por um ofídio, aproximavam-se deles de novo, como se não tivessem aprendido a lição, uma situação que recebeu o nome de "placidez" (placidity) mas que é, obviamente, muito diferente da placidez com que contemplamos uma paisagem repousante. O quadro completo envolve outros característicos e constitui a síndrome de Klüver-Bucy, que pode ocorrer muito raramente, em seres humanos que tiveram esta região cerebral afetada por doenças como encefalite.
            Em situações de emergência, portanto, é a amígdala que comanda a ação, através das emoções que criam um  estado de alerta no organismo; o córtex cerebral só pode funcionar quando cessa a tempestade emocional: só então surgem condições para a organização, análise e interpretação dos dados da realidade. Emoções podem ser provocadas em nós por uma agressão pessoal, por um cão que rosna ameaçador, por uma trovoada, enfim, por qualquer situação que mexa conosco, ou por qualquer pessoa que, por sua maneira de agir, provoque em nós uma comoção. Desempenham também papel importante na preservação do indivíduo e da espécie. Para Charles Darwin, as emoções foram se aperfeiçoando através da seleção natural, mas discute-se ainda se os animais  experimentam emoções ou se, no caso de isto acontecer, se as emoções experimentadas pelos animais são análogas às emoções dos humanos. Cresce constantemente o número de defensores desta tese (e que nela se baseiam para defender os direitos dos animais). Há fundamento para tanto: as reações orgânicas que acompanham as emoções estão presentes na escala animal. Observa Antonio Damasio que mesmo um ser unicelular como o paramécio foge quando encontra alguma anormalidade em seu ambiente: uma brusca variação de temperatura, um objeto que emite vibrações. Ascendendo na escala animal, encontramos espécies dotadas de sistema límbico, portanto teoricamente capazes de experimentar emoções. E também as conseqüência destas, como é o caso da desesperança aprendida (learned helplessness), situação descrita por Martin Seligman em 1965, baseado em experimento realizado na Universidade de Pennsylvania. Três cães recebiam choques elétricos, mas dois deles podiam interrompê-los acionando uma alavanca; o terceiro não. Provavelmente por causa do "desamparo', este cão desenvolveu sintomas análogos aos da depressão clínica em humanos. Mais: o mapeamento cerebral de animais deprimidos mostra o mesmo padrão encontrado em seres humanos com depressão.
       
          E sentimento, o que é? Podemos conceituá-lo como um estado de consciência, colorido pelo afeto, desencadeado por estímulos externos ou por memórias que nos levam a um cotejo da situação vivida por normas e ideais que previamente mantínhamos.


Diferenças entre emoção e sentimento 




. A emoção é mais "primitiva", surge mais precocemente no ser humano e é mais espontânea; o sentimento é mais tardio, modulado pela cultura, pelo modo de vida, pelo aprendizado pessoal. Aprendemos a ter sentimentos - com pais, professores, amigos, líderes espirituais, gurus, autoridades, cônjuges.
. A emoção tem expressão orgânica visível ou detectável, através de dosagens hormonais, por exemplo, ou do registro das alterações fisiológicas; na emoção, o organismo se move, e este movimento transparece, por exemplo, na expressão da face. O sentimento não é tão visível. A emoção é, portanto, mais pública, o sentimento é mais privado. A  emoção, de algum modo, nos conecta com o mundo. Já o sentimento, de algum modo, nos isola do mundo. Em seu ensaio O Inconsciente (1915), Freud salientou o fato de que a emoção é inevitavelmente percebida por nós, mas que temos sentimentos dos quais pouco ou nada sabemos. Antônio Damasio faz uma comparação artística: podemos extasiar-nos diante da Guernica, de Picasso, e esta será uma emoção estética, mas o sentimento só emergirá quando pensarmos naquilo que o quadro significa, o terror que foi a guerra na Espanha, da qual resultou o bombardeio da pequena cidade de Guernica. A especificidade humana resulta da linguagem, da memória organizada, do raciocínio complexo da capacidade de criar cultura e de criar uma História.
. O sentimento convive mais com o pensamento do que a emoção, porque emoções são necessariamente transitórias; nosso coração não poderia bater aceleradamente por dias, semanas ou anos, nossos hormônios não poderiam fluir indefinidamente. O sentimento é menos fugaz; pode às vezes durar a vida toda.

            A culpa tende para o sentimento. Não é fácil, olhando para uma pessoa, dizer se sente culpa. A culpa em si não faz a pessoa empalidecer, não acelera o seu coração, não a deixa transtornada. Mas, perguntará o leitor, se a culpa é um sentimento, se não é facilmente perceptível, como então o culpado de um crime pode ser identificado através do polígrafo, o detector de mentiras, através de registros fisiológicos? Em primeiro lugar, estamos falando de um fato objetivo que é o crime, e que a pessoa cometeu ou não - a culpa, neste caso, é muito diferente daquela que nasce de fantasias. Depois esses registros não dão conta da culpa em si, e sim da ansiedade a elas associada, ou seja, da emoção. Finalmente é preciso dizer que o método não goza de unanimidade, não são poucas  as restrições a ele feitas.
            Podemos, como vimos, partilhar emoções com os bichos. Mas, e sentimentos? Será que os animais sentem culpa? Num momento que provavelmente se deixa levar pela imaginação, Charles Darwin parece acreditar que sim: "Em determinadas épocas do ano", diz, em The Descent of Man (A descendência do homem, 1871), "as andorinhas são tomadas pelo desejo de migrar; ficam agitadas, barulhentas, reúnem-se em bandos. Quando a andorinha está cuidando dos filhotes, o instinto materno é provavelmente mais forte que o impulso de migração, mas quando este por fim prevalece, a ave alça vôo e abandona a prole. Chegando ao fim da longa jornada, e extinto o impulso, que agonia, que culpa, não sente esta mãe?"
            Interrogação que na verdade é uma afirmação, em apoio da qual, donos de cães dirão que às vezes os animais parecem demonstrar sentimento de culpa. Isto acontece quando o dono ralha com eles - por terem mastigado um sapato ou por terem urinado no tapete. Nestas circunstâncias, o animal classicamente baixa a cabeça e enfia o rabo entre as pernas (a expressão é uma tradicional metáfora para a humilhação resultante da culpa). Mas isto, segundo aqueles que entendem de bichos, é simplesmente uma resposta do animal ao tom de voz do dono. A dúvida, pois, subsiste, sobretudo por causa da incapacidade que têm os animais de se expressar sob a forma de palavras, e fundamenta a posição daqueles que sustentam que a culpa é, primordialmente e até prova em contrário, um atributo, ou um problema, dos humanos. O que é explicável, segundo Freud: abelhas e formigas conseguiram um equilíbrio entre a forma de organização existente em colméias e formigueiros e a função que ali desempenham os insetos; não há conflito, portanto não pode haver culpa.
            Diz Jerome Kagan, professor emérito de psicologia na Harvard e pioneiro da psicologia do desenvolvimento: " Os ratos de laboratório aparentemente podem sentir medo, surpresa ou desejo sexual. Mas há escassa evidência de que experimentem aquilo que chamamos de culpa." Kagan reporta-se à estrutura cerebral para explicar a razão pela qual a culpa seria exclusiva da espécie humana: "Com a evolução filogenética, o núcleo central da amígdala, estrutura crítica para a aquisição de reações de medo condicionado em animais, vai ficando cada vez menor, enquanto o núcleo basolateral e suas conexões com o o córtex pré-frontal aumentam." Ou seja: os animais podem ter emoções, que dependem da amígdala, mas as conexões da amígdala com o córtex pré-frontal, e portanto com a sede da consciência, só surgem depois, na escala animal. Continua Kagan: " Este fato, junto com a constatação de que os humanos, mas não os primatas, mostram sinais de perturbação ao violar padrões morais, significa que culpa e vergonha podem ser tão importantes quanto o medo no cotidiano humano, bem como na psicopatologia. A seleção natural favorece aqueles que têm este condicionamento embutido em seu ser. 

            Adendo* : "Na literatura psicanalítica, a vergonha é freqüentemente associada ao narcisismo (pessoas que têm traços narcísicos, estão convecidas de sua importância, acham-se "especiais", querem ser admiradas, são arrogantes) mostram-se vulneráveis a situações que causam vergonha, ao que o grupo vai pensar se ela errar. A culpa seria uma evolução do sentimento de vergonha social, pois enfatiza mais a auto-expressão individual da consciência, da necessidade de se fazer o que é bom e só, sem a necessidade de ser admirado."

O senso moral humano, que geralmente nos impede de agredir nossos semelhantes, é um produto único da evolução, mantido através da seleção natural, porque assegura a sobrevivência da espécie." Coisa que o poeta Archibald Mac Leish disse de outra maneira: "Without guilt/ What is a man? An animal, isn't he?  (Sem culpa / O que é um homem? Um animal, não é mesmo?)

Conclusão: o sentimento de culpa, coisa sem a qual a criatura não se acusa e nem é acusada, é atributo da espécie humana. Nenhuma andorinha apontará um dedo acusador (ou uma asa acusadora) para a colega que migrou deixando para trás os filhotes.

Fonte: Enigmas da Culpa - Moacyr Scliar


30 de janeiro de 2011

Cientista afirma ter Teletransportado moléculas de DNA




Com informações da New Scientist – 17/01/2011

Seu nome é Luc Montagnier e sua biografia pode ser resumida a um feito único: ele ganhou o Prêmio Nobel de Medicina em 2008, por ajudar a demonstrar a conexão entre o HIV e a AIDS.
Montagnier agora está sacudindo as bases do mundo acadêmico com uma alegação absolutamente inesperada: ele afirma ter “teletransportado” as informações de moléculas de DNA.
Se os resultados estiverem corretos,” comentou Jeff Reimers, químico da Universidade de Sidnei, na Austrália, “isso será um dos experimentos mais significativos feitos nos últimos 90 anos, e exigirá uma reavaliação de todo o quadro conceitual da química moderna.”
Nesta altura dos acontecimentos, a expressão “se os resultados estiverem corretos” está tendo mais ênfase entre os outros cientistas do que o alegado teletransporte de DNA, que poderá ter um impacto, na verdade, muito além da química.

O problema é que o artigo ainda não foi aceito para publicação por uma revista revisada pelos pares de Montagnier.
E, a julgar pela recente controvérsia de uma bactéria com jeitão alienígena, anunciada com estardalhaço pela NASA e depois largamente contestada por outros cientistas, o processo de avaliação desse artigo deverá levar mais tempo do que o normal.

Teletransporte quântico
Montagnier e seus colegas alegam ter feito um experimento que mostra que uma molécula de DNA pode transmitir as informações que contém, por meio de campos eletromagnéticos, para células distantes e até mesmo para a água.
Mais do que isso, o Prêmio Nobel afirma que enzimas podem tomar esse “carimbo” remoto de DNA por um DNA real, copiando-o para produzir a coisa real – o que faria do experimento uma espécie de teletransporte quântico da molécula de DNA.
O experimento consiste em dois tubos de ensaio, próximos mas separados fisicamente, colocados dentro de uma bobina de cobre, sujeitos a um campo eletromagnético fraco de frequência extremamente baixa, de apenas 7 hertz.
O conjunto é isolado do campo magnético natural da Terra, para evitar interferências.
O primeiro tubo contém um fragmento de DNA com cerca de 100 pares de base. O segundo tubo contém água pura. Depois de um período que variou de 16 a 18 horas, o conteúdo dos dois tubos de ensaio foram submetidos à reação em cadeia da polimerase (PCR), o método rotineiramente usado para amplificar quantidades traço de DNA, usando enzimas para fazer inúmeras cópias do material original.
Foi aí que o mais surpreendente aconteceu: o fragmento de DNA foi aparentemente recuperado dos dois tubos de ensaio, incluindo aquele que só deveria conter água.

A maldição da diluição
Para incomodar ainda mais os cientistas mais conservadores, aqueles que se incomodam com resultados controversos, e que geralmente se colocam prontamente contra qualquer nova descoberta que possa abalar o “edifício da ciência”, o DNA somente é teletransportado com sucesso depois que a solução original de DNA passa por diversos ciclos de diluição.
Diluição lembra homeopatia, e “cientistas céticos” – o termo é absolutamente sem sentido, mas há vários acadêmicos que se autodenominam assim -, cientistas “céticos” odeiam a homeopatia porque ela contraria suas crenças pessoais, argumentando que ela não possui bases científicas, e trabalham duro para desacreditá-la.
No experimento de teletransporte, em cada ciclo, a amostra original, do tubo número 1, foi diluída 10 vezes, e o DNA fantasma, do tubo número 2, só pode ser recuperado quando a amostra original é diluída entre sete e 12 vezes.
O teletransporte ainda não funcionou nas super diluições usadas na homeopatia.
Vários cientistas ouvidos pela revista britânica New Scientist mostraram-se céticos quanto aos resultados.
Mas é difícil imaginar que a equipe de um pesquisador agraciado com o Prêmio Nobel seja ingênua a ponto de divulgar uma pesquisa tão controversa sem tomar todos os cuidados metodológicos necessários.
O fragmento de DNA foi aparentemente recuperado dos dois tubos de ensaio, incluindo aquele que só deveria conter água.
Segundo o rascunho do artigo, os físicos da equipe sugerem que o DNA emite ondas eletromagnéticas de baixa frequência, que transmitem a estrutura da molécula para a água.
Essa estrutura, alegam eles, é preservada e amplificada por meio de efeitos de coerência quântica. Como a estrutura imita o formato do DNA original, as enzimas do processo PCR tomam-na pelo próprio DNA e, de alguma forma, usam-na como modelo para construir moléculas que coincidem com o DNA transmitido.
Mas se Montagnier e seus colegas não conseguiram de fato fazer o teletransporte do DNA, então o que eles descobriram?
Os experimentos biológicos parecem intrigantes, e eu não posso desacreditá-los,” disse Greg Scholes, da Universidade de Toronto, no Canadá, que demonstrou no ano passado que os efeitos quânticos ocorrem em plantas.
Klaus Gerwert, da Universidade Ruhr, na Alemanha, que estuda as interações entre a água e as moléculas biológicas, mostra preocupação quanto à persistência do fenômeno: “É difícil entender como a informação pode ser armazenada na água em uma escala de tempo maior do que picossegundos.”

Memória da água
Em 1988, o cientista francês Jacques Benveniste publicou um artigo na revista Nature, onde ele e seus colegas afirmavam demonstrar que a água tinha memória.
Em seu experimento, a atividade de anticorpos humanos era retida em soluções tão diluídas que não poderiam conter quaisquer moléculas de anticorpos – o que estatisticamente também ocorre na homeopatia.

Frente a um enorme ceticismo, a revista convocou um “caçador de mitos” para averiguar a questão (@MDD – O sujeito escolhido foi o James Randi, já conhecido por sua “imparcialidade”), que concluiu que os resultados eram “uma ilusão”, gerada por um experimento mal projetado.
Em 1991, Benveniste repetiu seu experimento sob condições duplo cego e obteve novamente os resultados que demonstraram inicialmente a alegada “memória da água”.
Contudo, nem a Nature e nem a Science aceitaram o novo artigo para publicação. Desacreditado, o pesquisador foi expulso de seu instituto sob a alegação de haver manchado a reputação da instituição. Benveniste morreu em 2004. (@MDD – Benveniste escreveu diversas cartas à Nature alegando que James Randi havia distorcido os protocolos e realizados experimentos diferentes dos seus – nada que surpreenda…)

Única saída 
O que se espera agora é que o experimento de Montagnier e seus colegas seja avaliado pelos seus pares com a isenção necessária – sem ser condenado previamente, sobretudo por conter a palavra maldita – “diluição”.
Para isso, um único caminho pode ser trilhado: laboratórios independentes devem repetir os experimentos e checar os resultados.

Fonte:
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=teletransporte-dna&id=010165110117

@MDD – Depois, quando eu escrever que “os ocultistas já sabiam disso desde Samuel Hahnemann” os pseudo céticos vão ficar com aquele mimimi… talvez até coloquem alguma coisa do 4chan como contra-argumento… fato é que é um começo da explicação pelos métodos ortodoxos dos passes espirituais, curas por imposição de mãos e homeopatia.
Acho engraçado que, de repente, o Prêmio Nobel vira um “idiota que não sabe o que faz” quando suas descobertas ameaçam as crenças dos outros cientistas. Tanto medo do mundo espiritual assim?

Do blog : Teoria da Conspiração - de Deldebbio

28 de janeiro de 2011

Alguma coisa está fora da ordem.

Do livro " Mentes Perigosas - O psicopata mora ao lado" de Ana Beatriz Barbosa Silva


Uma breve revisão na história da humanidade é capaz de revelar duas questões importantes no que tange à origem da psicopatia. A primeira delas se refere ao fato de a psicopatia sempre ter existido entre nós. Um exemplo dessa situação é destacado pelo psiquiatra americano Hervey Cleckley ao citar que o general grego Alcebíades, no século V a.C, já preenchia todos os requisitos para ser considerado um psicopata "de carteirinha".

A segunda questão aponta para a presença da psicopatia em todos os tipos de sociedades, desde as mais primitivas até as mais modernas. Esses fatos reforçam a participação de um importante substrato biológico na origem desse transtorno. No entanto, eles não invalidam, de forma alguma, a participação significativa que os fatores culturais podem ter na modulação desse quadro, ora favorecendo, ora inibindo o seu desenvolvimento.
Isso fica claro quando observamos a prevalência de psicopatas em culturas diversas. Nas sociedades ocidentais, a conduta psicopática tem-se incrementado de maneira assustadora nas últimas cinco décadas. Cotidianamente nos deparamos com jornais e revistas que estampam homicidas cruéis, assassinos em série, políticos corruptos, terroristas, pedófilos, pessoas que maltratam crianças, torturadores de mulheres, líderes religiosos inescrupulosos, estelionatários e profissionais desleais.

Tenho a convicção de que todos esses problemas têm se agravado, de modo extraordinário, devido à ação dos psicopatas e de pessoas que vêm adotando formas "psicopáticas" de convívio. Se isso ocorre é porque nossa sociedade está fundamentada em valores e práticas que, no mínimo, favorecem a maneira psicopática de ser e viver. De certa forma, estamos contribuindo para promover uma cultura na qual a psicopatia encontra um campo bastante favorável para florescer.

A cultura dos tempos modernos

A ideologia sobre a qual se alicerça a cultura dos nossos tempos é baseada em três princípios básicos: 

1) o individualismo; 2) o relativismo; 3) o instrumentalismo.

De forma compreensível e sem, contudo, aprofundar-me na esfera da filosofia, os três princípios podem ser avaliados da seguinte maneira:

1) O individualismo prega a busca do melhor tipo de vida a se usufruir. Entende-se como o melhor tipo de vida aquele que abrange o autodesenvolvimento, a autorealização e a auto-satisfação. De acordo com essa concepção, o indivíduo tem a "obrigação moral" de buscar sua felicidade em detrimento de qualquer outra obrigação com os demais.
2) Segundo o relativismo todas as escolhas são igualmente importantes, pois não há um padrão de valor objetivo que nos permita estabelecer uma hierarquia de condutas. Assim, qualquer ação que leva o indivíduo a atingir a auto-satisfação é válida e não pode ser questionada.
3) O instrumentalismo afirma que o valor de qualquer coisa fora de nós é apenas um valor instrumental, ou seja, o valor das pessoas e das coisas se resume no que elas podem fazer por nós. 

Na verdade, tudo está implícito no primeiro e principal componente da cultura moderna: o individualismo. Assim, o nosso principal objetivo é a realização e a satisfação pessoais. As obrigações que temos com as demais pessoas são meramente secundárias, prevalecendo a obrigação de desfrutarmos a vida da maneira que escolhermos. Dessa forma, as outras pessoas se transformam em simples meios para chegarmos a um fim. 

O objetivo maior da ideologia moderna era preservar a liberdade individual. No entanto,
essa ênfase sobre a liberdade criou a grande contradição de nossos tempos: como estabelecer valores morais e éticos num mundo que prioriza as escolhas individuais?

A modernidade foi responsável por uma série de mudanças na nossa forma de ver e sentir o mundo. A revolução tecnológica inundou de conforto nossas vidas. Dispomos de uma imensa variedade de coisas que facilitam nosso dia-a-dia, porém não encontramos tempo disponível para cultivarmos o nosso lado afetivo. O convívio reconfortante com a família, os amigos e o amor romântico parecem ser coisas do passado, algo lembrado com nostalgia, mas avaliado como utopia nos dias atuais. O desenvolvimento econômico nos tempos modernos fundamenta-se na crença cega de que não podemos "parar" nunca: há sempre o que aprender, conquistar, possuir, descobrir, experimentar... Nada nem ninguém é capaz de nos satisfazer plenamente, pois sempre há novas possibilidades para serem testadas na conquista da tal realização pessoal.

A realização proposta por nossa sociedade só pode ser de aspecto material, pois afetos verdadeiros não podem ser adquiridos nem substituídos na velocidade que nossos tempos preconizam. A cultura do individualismo e o desejo de conseguir bem-estar material a qualquer custo têm provocado erosão dos laços afetivos dentro da nossa sociedade. Com isso, virtudes como a honestidade, a reciprocidade e a responsabilidade com os demais caem em total descrédito. E assim, repletos de conforto e tecnologia, acabamos por nos tornar cada vez mais sozinhos e menos comprometidos com os nossos semelhantes.

Sem sombra de dúvida, o cenário social dos nossos tempos favorece o estilo de vida do psicopata. Ele reflete de forma precisa esse "novo homem", voltado somente para si mesmo, preocupado apenas com o que é seu e desvinculado da realidade vital dos que estão ao seu redor.

A expansão da cultura moderna, repleta de traços psicopáticos, modificou de forma drástica as nossas relações familiares e sociais. Estamos perdendo o senso de responsabilidade compartilhada no campo social e o de vinculação significativa nas relações interpessoais. O aumento implacável da violência e senão uma resposta lógica e previsível a toda essa situação.

A cultura psicopática está no ar

No campo da ficção, os psicopatas também têm conquistado valorosos espaços. Até bem pouco tempo atrás, nas novelas, nos romances e nos filmes, torcíamos e nos identificávamos com os personagens do bem que, em geral, eram vitimados pelas diversas circunstâncias dos enredos, mas que se mantinham éticos e triunfavam ao final. Hoje, ficamos fascinados e atraídos pelos vilões e é para eles que dirigimos nossa torcida. E quando esses "bandidos" são ricos e poderosos acabam por se transformar em sedutores de primeira grandeza. Assim, de forma quase natural, estamos abandonando os mocinhos e seus ideais morais de justiça e solidariedade. Os heróis dos novos tempos são maldosos, inescrupulosos e isentos de qualquer sentimento de culpa. Já os personagens bonzinhos despertam em nós um sentimento de pena e até certa intolerância com seus discursos utópicos e ingênuos. Os heróis do passado estão se tornando os otários dos tempos modernos.

O desrespeito, a frieza, a luxúria e a perversidade dos psicopatas estão ganhando espaço nas telinhas e nas telonas, arrebatando espectadores, críticos especializados e atores que buscam fama e reconhecimento profissional ao interpretarem personagens de "psiquismo tão complexo". Se não tomarmos muito cuidado, acabaremos adotando a conduta psicopática como um estilo de vida eficiente para se alcançar a auto-satisfação ou então como um comportamento adaptativo de sobrevivência.

É hora de pararmos e realizarmos uma profunda reflexão coletiva e individual. Precisamos definir em que proporções estamos contribuindo para a promoção de uma cultura psicopática. Temos que unir forças para efetuarmos um combate efetivo das ações psicopáticas em todas as suas manifestações. Para começar, precisamos rever a nossa tolerância em relação as pequenas transgressões do dia-a-dia, como jogar papel no  chão, buzinar em frente ao hospital, urinar em postes, cuspir nas calçadas, estacionar em locais proibidos, não recolher os dejetos dos animais de estimação e por aí vai.

E o que dizer de nossa tolerância para com a corrupção? Chegamos ao ponto absurdo de concordar com frases do tipo: "fulano rouba, mas faz." Isso representa a mais pura acomodação política que experimentamos em nossas vidas sociais. Será que acreditamos realmente que exista corrupção benigna? Claro que sabemos que isso não existe, mas tentamos criar justificativas idiotas para abrandar nossas turvas consciências. Sabemos distinguir claramente o que é certo do que é errado, no entanto preferimos relativizar essa questão para nos beneficiarmos das vantagens materiais das "pequenas" transgressões sociais.

Precisamos reestruturar, de forma urgente, os processos pelos quais nossas crianças e nossos jovens aprendem os valores e os comportamentos sociais. Para que isso ocorra,todas as instituições, tanto públicas  quanto privadas, terão que dar a sua parcela de contribuição. Somente uma educação pautada em sólidos valores altruístas poderá fazer surgir uma nova ética social que seja capaz de conciliar direitos individuais com responsabilidades interpessoais e coletivas. A aprendizagem altruísta é o único caminho possível para combatermos a cultura psicopática pautada na insensibilidade interpessoal e na ausência da solidariedade coletiva.


É fundamental destacar que não se trata de cair na velha argumentação da perda da virtude em troca do conforto e do progresso. Não é nada disso! Bem-vindas sejam as conquistas dos novos tempos, como os avanços científicos e tecnológicos, as liberdades de escolhas e de expressões. No entanto, nada disso pode se transformar em justificativa para a aceitação ou a tolerância para com uma sociedade constituída de indivíduos desvinculados dos direitos e das necessidades vitais dos que estão ao redor.

A construção de uma sociedade mais solidária é, a meu ver, o grande desafio dos nossos tempos. E para tal empreitada teremos que harmonizar o desenvolvimento tecnológico com uma consciência que não faça qualquer tipo de concessão ao estilo psicopático de ser ou de viver. A luta contra a psicopatia é a luta pelo que há de mais humano em cada um de nós. É a luta por um mundo mais ético e menos violento, repleto "de gente fina, elegante e sincera".