14 de março de 2011

Eles. Esses Imortais...

 
"...conheci razoavelmente Clarice Lispector. Ela era infelicíssima. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo..."
 
 "... falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literalmente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida". Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria "trip" e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce, como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud. É esse o tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço. Ou então você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na Cultura, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci/conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. Raramente me engano.." 
 
 
Caio Fernando Abreu  

Está na edição de "Morangos Mofados", da Agir, 2005. Trata-se de uma carta de Caio ao amigo José Márcio Penido, em que ele discute o processo de criação de "morangos...". E mais: chama a escolher o tipo de criadores que só nós podemos ser, em qualquer linguagem artística. Viva a escrita desenfreada de Caio neste dia da poesia!!! 
(Ney Paiva - escritor e poeta)
 

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