A Preservação do Self
A Preservação da Alma
* Texto produzido para o módulo de ICH - Interação Cultural e Humanística da UFPR.
(A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas)
Por Nayre Fernandes Martins - em 25.06.2014
Este capítulo do livro “Mulheres que Correm Com os Lobos” trata de um tema profundo que aborda principalmente a preservação do Selvagem Feminino e de sua natureza sensível de poder pessoal diante da sedução constante de um mundo afetado por uma necessidade de pertencimento a um sistema coletivo que não é nada saudável para o equilíbrio psíquico e a alegria natural da mulher.
Ao longo dos séculos, as mulheres foram suprimidas em seu direito de serem elas mesmas. O mundo patriarcal organizou-se de tal forma que até as outras mulheres se tornaram delatoras de suas amigas. E sejam elas, solteiras, homossexuais convictas, mães independentes ou mulheres devidamente casadas com quem elas escolheram... Não importa. Todas essas mulheres nasceram com seus instintos de sabedoria corporais inatos intactos, porém, desde o advento gradual da supremacia masculina, têm-se tentado de todas as formas produzir-se regras de conduta coletiva no que se refere a vida da mulher. Ser uma mulher diferente das demais, até os dias de hoje pode significar o exílio e isolamento social. Muitas vezes, uma mulher que se vê rejeitada socialmente - por não se comportar de maneira idêntica a qualquer padrão estabelecido - tem a tendência de assumir uma postura fragilizada de ter de agradar a todos, abandonando assim o que há de mais precioso em si mesma – a sua identidade pessoal, o seu talento único, a sua arte, a sua produção autêntica que contribuiria muito mais para sua evolução e realização como ser inteiro e consequentemente das outras mulheres e até do mundo.
Manter os instintos da mulher sob controle através de imposições de medos ou padrões pouco saudáveis é bem conveniente para quem quer domesticá-la e escravizá-la, torná-la um ser dócil e sem opinião. Uma mulher que simplesmente obedece quem quer que queira, e assim possa, dela tirar proveito.
A mulher isolada socialmente torna-se então uma mulher triste e com fome de alma (hambre del alma). Desta forma, alteraram-se seus ciclos naturais mais sagrados, como se a trancassem numa caixa sem janelas, onde ela não poderá mais comungar com os outros elementos, sentir o sol, a alegria do canto dos pássaros e nem o vento beijando seus cabelos. Depois de um tempo razoável sendo privada de sua própria vida, ela se torna tão faminta de qualquer coisa que a tire desse jejum, se torna tão carente de alguma experiência que proporcione qualquer tipo de sensação, que ela se torna uma presa fácil para predadores externos. A mulher nessa condição faminta, para compensar esses períodos de isolamento, pode passar a arriscar a própria vida ao se esforçar em busca de locais, pessoas e coisas que não seriam nem um pouco benéficas para ela. E por que a mulher selvagem faria isso? Somente porque o seu instinto sofreu uma mutilação, um aprisionamento, uma tentativa de domesticação, uma alteração e ela então perde a acuidade, o faro, a percepção do que é perigoso e prejudicial, caindo então em inúmeras armadilhas; a primeira delas é fazer qualquer coisa para sair da condição monótona e depreciativa imposta por uma sociedade medrosa e preconceituosa. E ao se deixar levar pela sedução diabólica de um mundo de prazeres vulgares ela se perde num torvelinho de excessos ao se permitir ingerir qualquer veneno achando que este seria o alimento para sua alma faminta. A partir disso ela já foi fisgada, desde quando renunciou a sua alegria pura, ao prazer natural em alcançar a realização de algo realmente muito desejado e pelo qual ela se esforçou e se dedicou muito. Sendo assim, quando a mulher selvagem passa a viver como prisioneira em um mundo coletivo com um sistema de valores tão desprovido de vida, ela fica desesperada ao perceber que está perdendo completamente o vínculo com a sua Alma. E se, então por um descuido seu, ela recuar diante do coletivo cedendo às pressões e se conformando de forma irracional com tudo isso, ela pode até estar protegida do isolamento que tanto teme, mas estará mais ainda, traindo sua própria Natureza, sua felicidade, e colocando em risco sua própria vida ao entregar-se na mão do carrasco invisível. Ela precisa sim, é observar o movimento interno de seu ser diante das propostas tentadoras do mundo e reassumir seu poder diante de escolhas que não lhe tirem o direito de se sentir feliz a partir do que para ela tem valor intrínseco, como escolher amigos e grupos sociais que respeitem – e estimulem - sua natureza criativa, em vez de se entregar a qualquer custo só porque os sapatos vermelhos da vitrine lhe parecem mais reluzentes do que aqueles que ela confeccionou com suas próprias mãos. Não importa em que estágio você parou no seu projeto pessoal que tanto a deixa feliz... Continue nele! Aperfeiçoe suas técnicas, dê um acabamento melhor ao seu tão Sagrado estilo – Esta é você! Você se realizando como Ser completo que é. Não se deixe vender barato e nem deixe que qualquer botequim a seduza a cantar por uma garrafa de gim.
Portanto... Deixe os sapatos vermelhos das paixões mortais no lugar deles. Não os enalteça mais do que eles realmente valem pois o valor que você equivocadamente possa dar às coisas vulgares é o alimento que as transformará no monstro que não terá piedade na hora de te destruir por completo.
Segue o caminho que sua Natureza Selvagem e Pura Acredita!
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