A Imagem mais duradoura de Clarice Lispector no final da vida, talvez a imagem mais duradoura de Clarice Lispector em qualquer momento da vida, vem de uma entrevista que ela deu em Fevereiro de 1977. Foi a única vez que Clarice falou diante de uma câmera, e, por essas imagens serem únicas, a entrevista teve um impacto muito maior na sua imagem pública do que as que ela concedeu quando era mais jovem, mais saudável ou mais enérgica.
É difícil assistir a entrevista na íntegra. Com seu célebre olhar penetrante, Clarice encara diretamente o entrevistador, seu rosto uma máscara quase imóvel. Sentada numa cadeira de couro pardo, segura uma grande carteira branca na mão esquerda e um cigarro Hollywood na queimada mão direita. Fumando sem parar no meio de um gigantesco estúdio cinzento, pontuando a entrevista com longos e sugestivos silêncios, ela responde as perguntas com sua voz estranha e inconfundível.
Todos no estúdio tinham uma sensação de presságio, disse o entrevistador, o jornalista judeu Julio Lerner. Ele estava consciente do tremendo peso do momento e sentia uma responsabilidade histórica: "Nem kafka, nem Dostoiévski, nem Fernando Pessoa, nem Peretz" jamais tinham sido registrados em filme. Cabia a ele registrar Clarice Lispector. Dispunha de trinta minutos.
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