28 de fevereiro de 2014

O Retorno


Depois de passar duas dezenas de meses imbuída em uma experiência embrionária de desconhecidos rumos, volto eu ao meu antigo ofício natural de olhar o invisível para dentro de suas pálpebras de lúcidos caminhos. Não há nada mais poderoso do que o silêncio significativo da respiração, sístoles e diástoles em sincronia com o universo. Dos impulsos primordiais, a harmonia cósmica é o que mais me fascina. Discorrer sobre Ela é senti-la Presente aqui e agora, tamanha é a sua influência real e positiva em todas as células da existência, estando elas ou não em processo de entropia. A vida que abandonou a casca já não está mais lá, mas está sim, em algum lugar, mais leve e mais lúcida.


Dentro da consciência maior, do amor maior que tudo vê e tudo sabe, abandonamos a visão limitada do mundo fenomênico – e adentramos expandidos no corpo de luz, que nos devolve a liberdade de transitarmos além dos muros da falsa linguagem, sedenta de aprovação e falsos conhecimentos. Dentro do corpo de luz tudo somos e não existe a ilusão do “meu” e do “seu”, nem a ilusão do “eu sou mais eu do que os demais”. Velhas chagas que abandonamos a medida que não precisamos mais sentir medo de amar por termos em outros tempos desconfiado de modo ingênuo e fraco do nosso próprio poder interior. A individuação da experiência nos traz a dor e cumpre sua parte na nossa história evolutiva quando percebemos que estamos todos interligados e não há nada que esteja separado do “resto” porque não existe resto e tão somente uma unidade extremamente complexa e pulsante, que vive respira, come e ama, entrega, confia e segue. Porque o rio (da vida também) tem margens que o limitam e podem te levar para a floresta inexplorada, a correnteza que leva e te movimenta, o fundo que te possibilita o mergulho e o nascer para uma nova consciência ao voltar à tona;  tem o céu ilimitado acima, e ainda, além dele, o Grande Mar...

Quero poder compartilhar com vocês também, esta linda página que vos dá às pontes -> Síntese



Retorno a antiga escola iniciática  - que visito há anos e que é ao mesmo tempo um caminho à frente do tempo e principalmente uma conexão no tempo-agora em uma dimensão mais harmônica e conscientemente expansiva.


 Grata por estarem comigo aqui por quase 9 Anos!
Sinto "O Retorno". Como poderia haver erro nisso?






ONE




Sai dessa hierarquia opressora. Liberta-se dos traumas. Ama, ama a vida. Escolhe ser diferente. Não existe vazio. Não existe bom e mau, existe somente a ignorância, a falta de conhecimento. Busca a sabedoria. Sente o UNO?



Ele vai além do medo estabelecido por um psiquismo coletivo ressentido. É outra frequência. Sente a comunidade, sente a outra frequência... 




Libere o tempo, desapegue. Você está protegido, você não está sozinho. 




Liberta-se do poder do outro sobre si, liberta-se da necessidade de ter poder sobre o outro. 

Vibra Amor... Sê presente, aqui e agora. Vive aqui, consciente.

O encontro só acontece se você quer encontrar. Se você quer encontrar o sagrado você vai de encontro ao sagrado. E o sagrado é você, não está separado de você. A vida é movimento, é transformação. 



Nayre  

Todos os direitos reservados © 






20 de janeiro de 2014

No momento

Estou preferindo o silêncio
evitando as belas arestas
espinhos do medo
ou sombras do desejo
enquanto puder fluir
não questiono os meandros
contorno as pedras
sem me deter
não contrario a correnteza
a natureza
dos espíritos que fluem
deixo-me ir
abro mão do controle
é inútil
é entrega
.
ou nada

.

.

.
Licença Creative Commons
O trabalho No Momento de Nayre está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://esoterologia.blogspot.com.br/2014/01/no-momento.html.

18 de dezembro de 2013

Para Ana Pérola

.


A lua sempre encanta quando nasce
O choro  incha os olhos mas purifica a alma
Um filho é sempre motivo de alegria
As pessoas podem ser muito cruéis quando são magoadas
 .
 

Homens de barba são mais paternais
As mulheres felizes têm uma beleza incrível


Toda a riqueza do mundo consiste em saber ver


.: nayre

10 de novembro de 2013

A guerra contra as mulheres

                Aqui 50 mil mulheres são violadas por ano, e a sociedade assiste em silêncio
           A história das mulheres é um longo percurso de lutas contra a humilhação e a brutalidade, escrevi há 30 anos. Não pensei que voltaria a escrever. Tudo parecia indicar que a sociedade brasileira saíra da Idade da Pedra com seus Brucutus arrastando as mulheres pelos cabelos e possuindo-as no melhor estilo animal.
Ilusão. A história das mulheres continua marcada pela humilhação e a brutalidade. É o que contam os dados do Fórum Nacional de Segurança Pública: 50 mil casos de estupro no Brasil no ano de 2012.
Este número aberrante não deveria cair no esquecimento como uma má notícia entre outras. Cinquenta mil americanos morreram na Guerra do Vietnam e isso mudou a América. Aqui 50 mil mulheres são violadas por ano e a sociedade assiste em silêncio.
Segundo a pesquisa, o número de casos vem aumentando. Os estupros de fato aumentaram ou o que aumentou foi sua notificação? Se assim for, é provável é que esses números sejam apenas a ponta do iceberg.
Um caso isolado de estupro é uma tragédia que o senso comum põe na conta de algum tarado que ninguém está livre de encontrar numa rua deserta. São psicopatas que agem por repetição à semelhança dos serial killers. Requintados torturadores, desprovidos de culpa ou remorso, são descobertos e presos. Quando saem, reincidem.
Cinquenta mil casos têm outro significado. A psicopatia não explica. Configura-se uma tara social, uma sociedade que convive com a violência sexual com uma naturalidade repugnante. São milhares de estupradores que, assim como os torturadores, transitam entre nós como gente comum. Estão nas ruas, nas festas, nos clubes, lá aonde todos vão, e passam despercebidos. Estão nas famílias e nas vizinhanças onde mais frequentemente agem — suprema covardia — aproveitando-se da proximidade insuspeita com a vítima.
Dissimulam seu alto potencial de crueldade no magma de desrespeito em que se misturam machismo, piadas grosseiras, gestos obscenos, aceitos como parte da cultura. A certeza da supremacia da força física, herdaram das cavernas. O desprezo pelas mulheres, aprendem facilmente em qualquer conversa de botequim. Ninguém nasce estuprador: torna-se.
O estupro é uma mutilação psíquica que a vítima carrega para sempre. Fecundação pelo ódio e contaminação pelo vírus do HIV são sequelas possíveis desse pesadelo. O medo ronda. Quantas mais estarão em risco? Pergunte-se a qualquer mulher se, uma vez na vida, se sentiu ameaçada pela violência sexual. Há uma guerra surda contra as mulheres. Quando as guerras de verdade se declaram, o estupro como arma se pratica às claras. Na Bósnia, a “limpeza étnica”, crime contra a humanidade, se fazia violando as mulheres.
Há décadas os movimentos de mulheres denunciam essa guerra surda. Estão aí as Delegacias da Mulher e a Lei Maria da Penha. O anacrônico Código Penal, que falava de crime contra os costumes, hoje capitula o estupro como crime hediondo. Aumentaram as penas e os agravantes. A Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres criou o número 180 para acolher as denúncias e promete espalhar Casas da Mulher em todos os estados.
Dir-se-ia, no entanto, que estupradores não temem a denúncia, a lei e a Justiça. Por que será? De onde lhes vem a sensação de que o que fazem não é crime e, se descobertos fossem, ficariam impunes?
A resposta está no sentimento de poder sobre o corpo das mulheres que nossa sociedade destila como um veneno. É esse caldo de cultura, em que a violência sexual de tão banal fica invisível, que estimula e protege os agressores, realimentando a máquina de fazer monstros. Some-se a isso uma espécie de pacto de silêncio que, salvo quando os dados gritam como agora, impede que se reconheça a gravidade do problema que, na sua negação da dignidade humana, é comparável à prática da tortura.
Os governos descuidam do indispensável amparo às vítimas. Ora, se não há reparação possível, deve haver acolhimento e socorro. Em todo o país os serviços de saúde pública capazes de oferecer a possibilidade de um aborto previsto em lei são ridiculamente insuficientes para atender às consequências desse massacre.
A mesma energia com que a sociedade brasileira condena a tortura é necessária para debelar a epidemia de crueldade. Três mudanças de comportamento se impõem, imediatas: o fim da tolerância com o desrespeito às mulheres, em casa e nas ruas; a inclusão para valer da prevenção e repressão da violência sexual na agenda da segurança pública; e a expansão dos serviços de amparo às vítimas. É o mínimo que o Brasil deve às mulheres.
Rosiska Darcy de Oliveira
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30 de setembro de 2013

Self

Paixões passam 

mas a música permanece

sempre





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 Ela segura a lua nos braços

Embalando







                                                                         




Nayre - 30.09.2013                                        

28 de setembro de 2013

Anotações Sobre o Livro - Jung, Sincronicidade e Destino Humano

Pierre Teilhard de Chardin


        Na visão esquemática de Pierre Teilhard de Chardin, o processo de evolução avança através de uma sucessão de esferas que culminam na noosfera. Ele delimita um número de estágios sucessivos no processo evolutivo, aos quais também chama de "zonas" ou "esferas". Desta forma, Teilhard relaciona a barisfera, a litosfera, a hidrosfera, a atmosfera, a estratosfera, a biosfera e, por fim, a noosfera. A característica primária destas esferas, dentro da perspectiva idealizada por Teilhard, e a sua relação com o surgimento da vida é com o desenvolvimento posterior desta no espírito humano. Por conseguinte, os primeiros estágios que ele descreve se referem à condição do universo antes de a vida ter evoluído. O surgimento da vida transporta a evolução do universo para um nível significativamente mais elevado.

         A biosfera na formulação de Teilhard contém todas as expressões da vida, tanto nas formas vegetais como nas animais. É neste nível, o nível da biosfera, que a espécie humana aparece, com ela, um fator de transformação radical entra na evolução do universo. A vida do ser humano gera a mente e, por fim, os produtos criativos do espírito. A partir destes, forma-se um reino ulterior que representa um nível de evolução qualitativamente superior. A noosfera, a esfera do espírito e do significado, abre-se agora diante de nós como a grande potencialidade da existência humana.

          A noosfera é a dimensão da realidade na qual se expressa a qualidade  especial da vida humana. A descrição que dela faz Teilhard é mais visionária e impressionista do que literal; ainda assim, a concepção que ele tem em mente é definida e rica em sugestões. Na visão Teilhardiana, a noosfera é uma camada da realidade, ou "invólucro", envolvendo a Terra como uma atmosfera. Trata-se de um invólucro em torno do material, mas ele mesmo não é material.  Pode-se concebê-lo como um composto de partículas de consciência humana; estas são, por assim dizer, centelhas que se erguem das experiências da psique humana. Deste modo, a noosfera não existia antes do surgimento do ser humano no cenário evolutivo.  Os conteúdos dela derivam da vida acumulativa do homem e são formados pelas experiências interiores da humanidade, em especial aquelas que ocorrem no nível profundo de consciência.  Neste sentido, o desenvolvimento da noosfera é uma emergência da vida humana e, particularmente, da evolução posterior do homem em termos da dimensão interior da existência.

          Visto que a noosfera, como a dimensão emergente do homem no processo de evolução, difere qualitativamente em seu conteúdo das esferas que a precedem, é possível deduzir que os princípios pelos quais ela pode ser compreendida e interpretada também sejam diferentes.  As leis de causa e efeito talvez sejam para se entender a operação daquelas leis que governam o funcionamento do universo nos estágios anteriores ao surgimento da vida. Estas leis causais, juntamente com os princípios da teleologia orgânica, podem ser suficientes, num nível posterior, para nos permitir compreender e interpretar os processos que atuam no nível do universo onde a vida vegetal e animal está presente, assim como no nível da biosfera. Mas alguma coisa mais se encontra presente na noosfera, e, se acompanharmos a concepção geral de Teilhard, há razões para inferir que é necessário um princípio interpretativo, além da causalidade e da teleologia orgânica para se entender a natureza dos eventos que ocorrem dentro dela.

            O próprio Teilhard, no entanto, não considerava importante a aplicação de princípios interpretativos a cada uma das esferas maiores por ele descritas; Jung, por sua vez, não reconhece a validade da concepção sistemática dos níveis de evolução esboçadas por Teilhard. Todavia, o confronto dos dois lhes acrescenta uma nova dimensão . De um lado a perspectiva Teilhardiana fornece uma estrutura na qual vemos o significado evolutivo mais amplo do conceito de sincronicidade. De outro, a própria concepção da noosfera implica na necessidade de um princípio especial que permita abranger os eventos que nela ocorrem. Teilhard, porém, não o fornece; sua descrição da noosfera revela-se basicamente intuitiva. de acordo com sua interpretação, resulta claro que o invólucro da noosfera é formado progressivamente por eventos individuais ocorridos dentro da psique no decorrer de experiências humanas.  Mas o próprio Teilhard não se preocupa em determinar que fatores no interior da psique criam os conteúdos da noosfera. Tampouco dá margem a saber que princípio interpretativo nos permitiria entender o modo de funcionamento interno da noosfera.
Dr. C.G.Jung

             A obra de Jung oferece hipóteses específicas que nos possibilita entender a natureza dos eventos com os quais se constrói a noosfera. De modo algum Jung previu esta função para sua ideia de sincronicidade, mas certamente uma das contribuições importantes desta consiste em completar a nova e crescente  visão do universo, exemplificada em autores como Teilhard de Chardin. É o que Jung faz de duas maneiras específicas. Na primeira, com sua teoria dos fatores arquetípicos que operam no interior da psique e particularmente com sua descrição das inúmeras forças e energias contidas no arquétipos, Jung fornece um método de compreensão da natureza das experiências humanas que formam a noosfera.  Na segunda, com o princípio interpretativo da sincronicidade, ele nos proporciona um meio concreto de explorar os caminhos sutis, pelos quais originando-se das profundezas da psique, eventos e percepções de significado especial são criados.

               Desta maneira recebemos de Jung duas hipóteses embrionárias com relação, primeiro, aos conteúdos e, segundo, ao princípio de operação na noosfera. Quando traduzimos a expressão cunhada por Teilhard em termos de seu significado mais geral e a vemos como a ponta de lança da evolução que emerge das experiências do espírito humano, a mútua cooperação de Jung e Teilhard de Chardin torna-se clara.  Ambos contribuem para a nova visão de mundo que vem tomando forma nesta geração. A visão teilhardiana de evolução espiritual expande a perspectiva de tempo e, dentro desse contexto, o princípio de sincronicidade tende a desempenhar um papel importante tanto como hipótese científica quanto como um meio de experiência na linha de frente da vida onde a evolução está se processando. 

 [Ira Progoff]

27 de agosto de 2013

ZARATUSTRA: DA ÁRVORE DA MONTANHA

Nietzsche, sobre aqueles que alcançam (ou arranjam pra si) rapidamente altos postos espirituais, elevados níveis de santidade ou pureza, e se tornam orgulhosos, levianos consigo e com os demais, ocultando de si e dos outros suas fraquezas, seus vícios e seus males.

Da Árvore da Montanha
Os olhos de Zaratustra tinham visto um mancebo que evitava a sua presença. E, uma tarde, ao atravessar sozinho as montanhas que rodeiam a cidade denominada "Vaca Malhada", encontrou esse mancebo sentado ao pé de uma árvore, dirigindo ao vale um olhar fatigado. Zaratustra agarrou a árvore a que o mancebo se encostava e disse: "Se eu quisesse sacudir esta árvore com as minhas mãos não poderia; mas o vento que não vemos açoita-a e dobra-a como lhe apraz. Também a nós mãos invisíveis nos açoitam e dobram rudemente".
A tais palavras, o mancebo ergueu-se assustado, dizendo: "Ouço Zaratustra, e positivamente estava a pensar nele".
"Por que te assustas? O que sucede à arvore sucede ao homem. Quanto mais se quer erguer para o alto e para a luz, mais vigorosamente enterra as suas raízes para baixo, para o tenebroso e profundo, para o mal".
"Sim; para o mal! - exclamou o mancebo - Como é possível teres descoberto a minha alma?"
Zaratustra sorriu e disse: "Há almas que nunca se descobrirão, a não ser que se principie por inventá-las".
"Sim; para o mal! - exclamou outra vez o mancebo. Dizias a verdade, Zaratustra. Já não tenho confiança em mim desde que quero subir às alturas, e já nada tem confiança em mim. A que se deve isto? Eu me transformo muito depressa: o meu hoje contradiz o meu ontem. Com freqüência salto degraus quando subo, coisa que os degraus não me perdoam. Quando chego em cima, sempre me encontro só. Ninguém me fala; o frio da solidão faz-me tiritar. Que é que quero, então, nas alturas? O meu desprezo e o meu desejo crescem a par; quanto mais me elevo mais desprezo o que se eleva? Como me envergonho da minha ascensão e das minhas quedas! Como me rio de tanto anelar! Como odeio o que voa! Como me sinto cansado nas alturas!"
O mancebo calou-se. Zaratustra olhou atento a árvore a cujo pé se encontravam e falou assim: "Esta árvore está solitária na montanha. Cresce muito sobranceira aos homens e aos animais. E se quisesse falar ninguém haveria que a pudesse compreender: tanto cresceu. Agora espera, e continua esperando. Que esperará, então? Habita perto demais das nuvens: acaso esperará o primeiro raio?"
Quando Zaratustra acabava de dizer isto, o mancebo exclamou com gestos veementes: "É verdade, Zaratustra: dizes bem. Eu ansiei por minha queda ao querer chegar às alturas, e tu eras o raio que esperava. Olha: que sou eu, desde que tu nos apareceste? A inveja aniquilou-me!" Assim falou o mancebo, e chorou amargamente. Zaratustra cingiu-lhe a cintura com o braço e levou-o consigo.
Depois de andarem juntos durante algum tempo, Zaratustra começou a falar assim: "Tenho o coração dilacerado. Melhor do que as tuas palavras, dizem-me os teus olhos todo o perigo que corres. Ainda não és livre, ainda procuras a liberdade. As tuas buscas desvelaram-te e envaideceram-te de maneira excessiva. Queres escalar a altura livre; a tua alma está sedenta de estrelas; mas também os teus maus instintos têm sede de liberdade. Os teus cães selvagens querem ser livres; ladram de prazer no seu covil quando o teu espírito tende a abrir todas as prisões. Para mim, és ainda um preso que sonha com a liberdade. Ai, a alma de presos assim torna-se prudente, mas também astuta e má. O que libertou o teu espírito necessita ainda purificar-se. Ainda lhe restam muitos vestígios de prisão e de lodo: é preciso, todavia, que a tua vista se purifique. Sim; conheço o teu perigo; mas por amor de mim te aconselho a não afastares para longe de ti o teu amor e a tua esperança!
Ainda te reconheces nobre, assim como nobre te reconhecem os outros, os que estão mal contigo e te olham com maus olhos. Fica sabendo que todos tropeçam com algum nobre no seu caminho. Também os bons tropeçam com algum nobre no seu caminho, e se lhe chamam bom é tão-somente para o pôr de lado. O nobre quer criar alguma coisa nobre e uma nova virtude. O bom deseja o velho e que o velho se conserve. O perigo do nobre, contudo, não é tornar-se bom, mas insolente, zombeteiro e destruidor. Ah, eu conheci nobres que perderam a sua mais elevada esperança. E depois caluniaram todas as elevadas esperanças. Agora têm vivido abertamente com minguadas aspirações, e apenas planejaram um fim de um dia para outro.
"O espírito é voluptuosidade" - diziam. E então o seu espírito quebrou as asas; arrastar-se-à agora de trás para diante, maculando tudo quanto consome. Noutro tempo pensavam fazer-se heróis; agora são folgazões. O herói é para ele aflição e espanto. Mas, por amor de mim e da minha esperança te digo: não expulses para longe de ti o herói que há na tua alma! Santifica a tua mais elevada esperança!"
Assim falou Zaratustra.

Replicado de Saindo da Matrix

25 de junho de 2013

De uma filha (que desencarnou) para uma mãe.


*

Todos pensam que por sermos crianças ainda não podemos  desencarnar, não devemos voltar à casa do pai. Esquecem que cada ser tem o seu tempo na vida terrena e que tudo aí é muito passageiro, tudo aí tem o seu verdadeiro sentido de ser. O ser humano ainda é muito egoísta, o sentimento de propriedade ainda perdura em todos os corações humanos. Cada ser já vem predestinado a passar por determinadas situações. A doença é um período que alguns seres tem o privilégio de vivê-la, assim chega aqui deste lado mais livre das coisas terrenas. É um período que as pessoas que ficam vão se acostumando com a perda e as que virão para este lado, também se desligando dos seus. Cada um de nós temos o nosso período de aprendizado na terra, uns com mais tempo, outros com menos e assim, uns aproveitando mais para a sua evolução, outros ficam muitos e muitos anos e não conseguem progredir muito. Progridem materialmente, esquecendo da espiritualidade, muita coisa que conseguimos "trazer" conosco, as coisas boas, as justiças, o amor dado às pessoas. É sempre muito bom ser lembrado em forma de coração, em forma de alegria, de saudade sadia, no oferecimento de uma flor do jardim. Muitos ainda ficam com o sentimento de revolta no coração. Mas isso, graças ao nosso pai é passageiro, pois só conseguimos seguir o nosso caminho deste lado, quando estamos libertos de todo e qualquer sentimento de angústia e tristeza, só assim o nosso aprendizado é significativo, e a leveza dos pensamentos emanados a nós nos ajuda a adaptarmos melhor numa vida que não é nova, pois já estivemos muitas e muitas vezes nesta situação, porém, a cada adaptação requer um tempo e muita oração, muita paz emanada através dos pensamentos dos nossos que aí ficam. Cada lágrima de angústia derramada é como uma enxurrada de água em nossa pobre alma tão fragilizada pela passagem que tivemos. Cada oração, cada pensamento de alegria é um bálsamo necessário para estes momentos tão delicados a que passam todos os seres humanos, uns mais frequentemente e rapidamente, outros nem tanto. 

Que a paz e a alegria perdure por todos os tempos e em todos os seres. Amém !!

Mensagem Psicografada por Tatiane em Morretes, no dia 13.01.2008  - para mim.

24 de junho de 2013

ELIS REGINA - ÚLTIMA ENTREVISTA EDITADA - JOGO DA VERDADE









Esta mulher foi a brasileira mais talentosa, mais poderosa e quem mais me influenciou na vida.
Esta entrevista diz muita coisa sobre ela, diz muita coisa sobre o cenário político daquela época.
Diz muito até sobre as circunstâncias obscuras que cercam o momento de sua morte.



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1 de maio de 2013

Armadilhas da Linguagem



Diversas armadilhas ameaçam a compreensão originária da essencialização da linguagem. A primeira e mais ardilosa, engodo que cerceia e encerra toda a compreensão lógica, gramatical, linguística ou filológica da linguagem, é tratá-la como algo, um ente simplesmente dado ao nosso manuseio, passível de ser objetivamente compreendida e determinada.
Esta armadilha, por sua vez, sustenta o seu embuste na própria possibilidade gramatical de substantivar os verbos, o que foi denominada pelos gramáticos latinos de “modus infinitus”. No infinitivo, o verbo se transfere para a forma nominal do substantivo e, perdendo deste modo a sua referência com a ação, passa a ser compreendido como um ente; a ação se transforma em coisa, dando assim a ilusão de ser algo determinado. É o que ocorre, por exemplo, com o verbo jantar, na frase: “ o jantar está servido” – ele é de tal modo substantivado que torna-se difícil, é só a custo de um grande esforço, pensá-lo como ação, um verbo, e não como ente, um substantivo.
No caso de “linguagem”, assunto que agora investigamos, para nós de língua latina, essa armadilha é mais insidiosa, pois perdemos completamente a referência verbal deste substantivo, a medida que o nosso verbo falar já provém de uma outra raiz – o que não é o caso, p. ex., da língua grega antiga, onde logos corresponde a légein, ou da alemã, onde Sprache corresponde a sprechen. Distantes da referência com o falar, a linguagem possui para nós uma proximidade com a língua – “é uma coisa da boca”.
Neste sentido, conforme o propósito de Heidegger, o primeiro desafio para lograrmos uma compreensão do sentido grego (heraclítico) de logos como linguagem é, atentos a estas armadilhas, não entendermos a linguagem como substantivo – como algo, um ente simplesmente dado ao nosso manuseio, passível de ser objetivamente determinado -, mas pensarmos a linguagem na dinâmica que se perfaz como com-preensão no falar e no ouvir (no escrever e no ler). O nosso primeiro desafio consiste portanto em abdicarmos da intenção de entendermos o que é linguagem por meio de determinações lógicas, para, despojados do afã da certeza que só compreendem o que podem dominar, experimentarmos, na concordância de nosso pensamento, a compreensão heraclítica de linguagem. Precisamos ainda alertar para o perigo e outras armadilhas que, camufladas no pressuposto metafísico de que o discurso seja a expressão sonora que representa o real para a comunicação humana, também ameaçam a nossa compreensão originária de linguagem – e de homem.

O Assunto e o Caminho do Pensamento de Heidegger (Fernando Mendes Pessoa)

15 de abril de 2013

Ao Buscador


*


" Cultivai o que de melhor houver em vós. Não percais tempo comparando-vos com os outros. O que de melhor houver neles constituirá para vós, mais uma possibilidade de crescer. Como a flor que desabrocha com o calor e a luz do sol, também deveis desabrochar sob a luz irradiada por vossos irmãos.


- Caminhante, por que vos perdestes?
- Procurava o fruto da Grande Árvore.

- Caminhante, por que sofres tanto?
- Seguia os tortuosos atalhos do conhecimento humano.

- Caminhante, aonde vais?
- Busco encontrar o verdadeiro Caminho.

- Escutai, então, perseverante peregrino:
   No brilho do sol tereis vossa direção,
   Na luz das estrelas, vossa morada,
   Chegareis onde não se pode chegar
   e, ultrapassando os limites do Ilimitado,
   conhecereis a face d'Aquele que não pode ser conhecido. "


As Chaves de Ouro  (Trigueirinho) - Editora Pensamento - págs. 61, 62.



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14 de dezembro de 2012

A MINHA CLARICE LISPECTOR NÃO CANTA MICHEL TELÓ


A internet proporciona possibilidades, entre elas, conhecer pessoas que possuam os mesmos gostos por determinada arte, por exemplo, o meu caso, a literatura. É claro que na nossa vida fora da rede isso também acontece, porém a internet, se bem usada, pode ser um facilitador de conhecimento. Digite seu livro preferido no Google e veja o que acontece.  

Porém, como toda história, se há muitas possibilidades fáceis de chegar ao conhecimento, esse caminho pode ser recheado de aprendizados falsos, ou pior: de pedras falsas que, infelizmente, a maioria saboreia como a última bolacha do pacote. Vamos a um exemplo: Clarice Lispector, a escritora mais falsificada nas redes sociais ao ponto de ao verem o nome dela creditando alguma frase ruim, a expressão seja algo como tomar um café temperado com sal.
Eu quero escrever em letras grandes, eu quero colar outdoors na cidade inteira para dizer: essa sua frase de auto-ajuda não é Clarice Lispector! A Clarice Lispector nunca disse essa tosquice sobre amizade, amor e ser feliz!
E eu quero repetir um milhão de vezes adicionando palavrões diferentes a essas minhas frases revoltadas, mas corro o risco de, ao final, receber como resposta a frase “A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena – Clarisse Vispector”.
Posso chorar? Posso chorar muito como uma criança que foi ao supermercado e pediu a sua mãe o melhor chocolate do mundo e recebeu uma jaca?
O mundo é lindo, mas também é essa merda presente todos os dias (essa frase poderia ser de Charles Bukowski, mas é minha mesmo). Nós, que apreciamos LITERATURA e não frases, LIVROS BENS ESCRITOS e não frases, CITAÇÕES FORMAIS e não frases, sofremos demais com essa disseminação falsa do que é a literatura. E lamento também por todos os outros escritores que sofrem com isso: Caio Fernando Abreu, Shakespeare, Luis Fernando Veríssimo, Virginia Woolf, etc, etc, etc.
Quem são os compartilhadores de frases falsas? O que eles representam? Para onde vão? O que fazem? As respostas são fáceis, pois tenho certeza que ao ler essas perguntas você imaginou avatares de colegas seus de Facebook, Twitter e similares. É, são eles e vários sites e blogs.
Vinicius Linné, escritor, professor e mestre em literatura, registrou o seu desabafo no Papo Literário sobre o que foi feito com o nome Clarice Lispector, a profética (e você já vai entender porquê):
Eu já presenciei no Face uma página da “Clarisse Linspector” recebendo comentários voltados à autora. Como se ela estivesse toda viva e lépida mantendo aquele perfil – com o nome errado – e escrevendo baboseiras sem tamanho. 
Pobre Clarice… Profética Clarice
“Acordei com um pesadelo terrível: sonhei que ia para fora do Brasil (vou mesmo em agosto) e quando voltava ficava sabendo que muita gente tinha escrito coisas e assinava embaixo meu nome. Eu reclamava, dizia que não era eu, e ninguém acreditava, e riam de mim. Aí não aguentei e acordei. Eu estava tão nervosa e elétrica e cansada que quebrei um copo”. {Clarice Lispector em carta escrita a uma amiga 3 anos antes de sua morte}
Pior de tudo é que você que realmente conhece e estuda o trabalho do Caio [Fernando Abreu] ou da Clarice – como é o caso da minha dissertação de mestrado – acaba passando por farinha do mesmo saco dessa gente que nunca leu um livro deles na vida e só fica compartilhando frase falsa. Aí você comenta que o seu trabalho é sobre a Lispector e ouve de volta “Ai, eu também adoro as frases que a ClariSSE coloca no Facebook.”
É de matar.
Clarice Lispector tinha uma escrita peculiar, diferente, original e difícil, quem já leu – atentamente – alguns livros dela, é capaz de reconhecer o texto escrito por um dos maiores nomes da literatura. É como saber que aquela sua amiga tão elegante e fina jamais cantaria uma música de Michel Teló. As redes sociais fazem Clarice Lispector cantar Michel Teló.
Essa massa compartilhadora de frases nas redes sociais nunca leu, de fato, o livro onde contém a tal frase. Compartilha porque é legal, é fácil e porque quer parece cool. Um reflexo do quanto nossa sociedade é alimentada por superficialidades.
Eu desconfio das frases óbvias, simples e fáceis demais, elas não representam a literatura, tampouco Clarice Lispector. Eu desconfio de frases sem referências e fora de contexto. Só acredito em frases compartilhadas por pessoas que conheço muito bem ou se conter o livro de onde a frase foi retirada, a página, editora e ano de publicação. Se não for, é mentira, e eu não quero fazer parte dessa estupidez com a imagem da literatura, minha arte preferida, onde a Clarice Lispector canta o melhor da música erudita.



Posted by Francine Ramos 

3 de setembro de 2012

Você tem que abandonar esse círculo vicioso





A infelicidade pode lhe dar muitas coisas que a felicidade não pode. Na verdade, a felicidade tira muitas coisas de você. Ela tira tudo o que você sempre foi, tudo o que sempre teve, a felicidade destrói você!
A infelicidade alimenta sua personalidade, enquanto a felicidade é basicamente um estado de ausência de personalidade. Este é o problema, o verdadeiro dilema. É por isso que as pessoas acham tão difícil ser feliz.
Esta é a razão pela qual quase todo mundo optou por viver na infelicidade. Isso gera um ego muito inflexível.
Se isso for compreendido, tudo se torna claro. A infelicidade o torna especial. A felicidade é um fenômeno universal, não há nada de especial nela. As árvores são felizes, os animais são felizes — toda a existência é feliz, exceto a humana.
Sendo infeliz, o homem se torna muito especial, extraordinário. A infelicidade atrai a atenção das pessoas. Sempre que está infeliz você é alvo de demonstrações de afeto, carinho e amor. Todos cuidam de você.
Quem quer ferir uma pessoa infeliz? Quem tem inveja de uma pessoa infeliz? Quem quer se opor a uma pessoa infeliz? Isso seria muito baixo, vil. Há um grande investimento na infelicidade.
Se a esposa não estiver infeliz, o marido tende a esquecer-se dela. Se ela estiver infeliz, o marido não pode deixar de cuidar dela. Se o marido estiver infeliz, toda a família, a esposa, as crianças se aproximam dele, se preocupam com ele — e isso lhe traz um grande conforto. A pessoa sente que não está sozinha, que pode contar com a família e os amigos.
Quando você está doente, deprimido, infeliz, os amigos vêm visitá-lo e consolá-lo. Mas quando você está realmente feliz, os mesmos amigos tornam-se invejosos e o mundo se volta contra você.
Ninguém gosta de uma pessoa feliz porque ela é uma espécie de “afronta” à infelicidade alheia. As outras pessoas não perdoam e começam a pensar coisas do tipo: “Como se atreve a ser feliz quando estamos mergulhados em tamanha infelicidade, ainda rastejando na escuridão, na infelicidade e no inferno?”
E, naturalmente, como o mundo é feito de pessoas infelizes, ninguém é corajoso o bastante para suportar a humanidade torcendo contra. É perigoso e arriscado. Melhor agarrar-se à infelicidade — ela o mantém como parte da multidão.
Feliz, você é apenas um indivíduo. Infeliz, você faz parte de uma multidão: americano, europeu, latino, árabe, japonês.
Feliz? Você sabe o que é a felicidade? Ela é de origem hindu, cristã ou muçulmana? A felicidade é simplesmente a felicidade. A pessoa é transportada para outro mundo, bem distante daquele que a mente humana criou. Ela não está ligada ao passado nem à nossa triste história. A pessoa feliz, na verdade, não pertence a tempo algum. O êxtase faz o tempo e o espaço desaparecerem.
Albert Einstein disse que os cientistas costumavam pensar que havia duas realidades: o espaço e o tempo. Mas ele descobriu que essas duas realidades são faces de uma mesma realidade, daí a expressão espaço-tempo, criada por Einstein para definir a noção de que o tempo nada mais é do que uma quarta dimensão do espaço.
Einstein não era um místico; se fosse, teria introduzido também a terceira realidade – a realidade transcendental, que não é nem espaço nem tempo e que eu chamo de “testemunha”. Uma vez que essas três coisas estejam presentes, você encontra a trindade, ou trimurti, palavra em hindi que significa as três faces de Deus. Então você possui as quatro dimensões: as três do espaço e mais uma que representa o tempo.
Mas há algo mais que não pode ser chamado de quinta dimensão porque é o todo, o transcendental. Quando você está vivenciando o êxtase, começa a mover-se em direção ao que é transcendental. Não é algo social nem tradicional. Não tem absolutamente nada a ver com a mente humana.
Apenas observe sua infelicidade e você estará apto a descobrir as razões de sua tristeza. Olhe para aqueles momentos em que você se permite estar alegre e perceba a diferença.
Elas são poucas, mas quando você é infeliz é também um conformista. A sociedade adora esse lado seu, as pessoas o respeitam, você é tão considerado que pode até mesmo se tornar um santo.
Até porque os santos são pessoas infelizes e miseráveis, verdadeiros casos patológicos. A infelicidade está grafada em letras garrafais em seus rostos e em seus olhos.
Por serem infelizes, os santos condenam todas as formas de prazer, a alegria e cada possibilidade de felicidade como sendo pecado. São infelizes e, no fundo, querem que todo mundo seja igualmente infeliz e miserável.
De fato, somente em um mundo infeliz esse tipo de pessoa pode ser considerado um santo. Em um mundo feliz seria internado, tratado como louco. Eu vi muitos santos e tenho observado a vida dos santos do passado. Quase todos são anormais, neuróticos ou psicóticos. Mas foram respeitados por sua infelicidade, lembre-se disto.
Os grandes santos se impunham longos períodos de jejum apenas para torturar-se, o que não é muito inteligente. Durante a primeira semana, jejuar é difícil. Na segunda semana torna-se fácil; na terceira semana comer vira um sofrimento, e lá pela quarta semana você já se esqueceu completamente do assunto.
Como o corpo gosta de queimar suas reservas, você se sente menos pesado e toda a energia que normalmente é usada para a digestão se torna disponível para a mente. Resultado: você consegue se concentrar mais e acaba se esquecendo do corpo e de suas necessidades. Esse tipo de auto-sacrifício só serve para criar pessoas miseráveis e uma sociedade infeliz.
Olhe para sua própria infelicidade e observe que certas coisas fundamentais estão presentes. Primeiro, é algo que lhe traz respeito. As pessoas ficam mais simpáticas e atenciosas. Você terá mais amigos se for infeliz, o que é muito estranho. Se você insistir em ser feliz, vai virar alvo de muita inveja e as pessoas não serão nada amigáveis. Elas se sentirão enganadas: você possui algo que não está ao alcance delas.
Assim, através dos tempos, aprendemos um mecanismo sutil: reprimir a felicidade e expressar a infelicidade transformou-se em nossa segunda natureza. Você tem que abandonar esse círculo vicioso e aprender o caminho da felicidade.
É preciso respeitar quem optou pela felicidade, mas não sinta pena das pessoas infelizes. Ajude-as, sem valorizar a infelicidade. Deixe muito claro que se trata de um sentimento ruim, que não contribui em nada com o restante da humanidade.
Seja feliz e ajude as pessoas a compreenderem que a felicidade é o objetivo da vida — satchitanand. Esta palavra, segundo os místicos orientais, reúne as três qualidades de Deus: sat (ele é a verdade), chit (consciência, percepção) e, finalmente,anand (a característica mais elevada, o êxtase).
Deus sempre está presente onde há êxtase. Sempre que você encontrar uma pessoa cheia de sentimentos intensos, respeite-a, pois se trata de um santo.
E onde quer que você encontre um grupo de pessoas festivas, plenas de êxtase,considere esse lugar sagrado.
Osho, em “Uma Farmácia Para a Alma”

17 de agosto de 2012

Amem...





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Você tem de tornar seu amor mais como uma oração, você tem de tornar seu sexo mais amoroso. Pouco a pouco, o sexo tem de ser transformado numa atividade sagrada. Ele tem de ser elevado. Em vez de o sexo puxá-lo para baixo, para o lodo da humanidade, você pode puxar o sexo para cima.
A mesma energia que o puxa para baixo pode puxá-lo para cima, e a mesma energia pode dar-lhe asas. Ela tem um tremendo poder. Certamente, é a coisa mais poderosa do mundo, porque toda a vida surge dela. Se ela pode dar nascimento a uma criança, a uma nova vida, se ela pode trazer uma nova vida para a existência, você bem pode imaginar o seu potencial: ela pode lhe trazer uma nova vida também. Assim como ela pode trazer uma nova criança para o mundo, ela pode dar-lhe um novo nascimento.
E é isso que Jesus quer dizer quando assim fala a Nicodemus: “A menos que você nasça novamente, você não poderá entrar no meu reino de Deus” — a menos que você renasça, a menos que você seja capaz de dar nascimento a si mesmo, uma nova visão, uma nova qualidade para suas energias, uma nova afinação para seu instrumento. Seu instrumento contém grande música, mas você precisa aprender a tocá-lo.
O sexo tem que se tornar uma grande arte meditativa. Essa é a contribuição do tantra para o mundo. A contribuição do tantra é máxima, porque ele lhe dá chaves para transformar o mais baixo no mais alto. Ele lhe dá chaves para transformar a lama em lótus.
Trata-se de uma das maiores ciências que já surgiram, mas por causa dos moralistas e dos puritanos, e das pessoas chamadas de religiosas, não se permitiu que o tantra ajudasse as pessoas. Suas escrituras foram queimadas, milhares de mestres tântricos foram mortos, queimados vivos. Toda a tradição quase inteiramente destruída, pessoas forçadas a se esconder.
Outro dia eu recebi uma carta de saniássins meus, dos Estados Unidos, dizendo que as pessoas de Gurdjieff são tão perseguidas pelo governo que elas decidiram se ocultar. Eles me escreveram: “Estamos achando que, mais cedo ou mais tarde, isso vai acontecer conosco. Devemos começar a nos preparar de modo que, caso venha a acontecer conosco, nós também possamos começar a trabalhar de urna maneira oculta?”
É possível, porque tem sido sempre assim. O trabalho de Gurdjieff também consiste em transformar a energia sexual numa integração interior — a igreja organizada está sempre contra qualquer esforço desse tipo.
Meu trabalho é impedido de todas as maneiras, meu povo é apoquentado de diferentes maneiras. Há alguns dias, o parlamento indiano discutiu, por uma hora, o que deveria ser feito comigo — como se este país não tivesse nenhum outro problema para ser discutido. Tanto medo!
E eu não estou fazendo nenhum mal a ninguém! Eu nem sequer saio para o lado de fora do portão! E, pelo menos, este tanto de liberdade é direito de nascimento de todo mundo. Se alguém quer vir a mim e quer se transformar, não é da alçada de ninguém interferir. Eu não vou até as pessoas. Se as pessoas vêm a mim e querem ser transformadas…
Que tipo de democracia é esta? Mas políticos e sacerdotes estúpidos têm estado sempre em conluio. Eles não querem que as pessoas se transformem, porque uma pessoa transformada deixa de estar sob a dominação deles. Pessoas transformadas tornam-se independentes, livres; pessoas transformadas tornam-se tão alertas e tão inteligentes que podem identificar todos os jogos dos políticos e dos sacerdotes.
Então, elas não são mais seguidoras de ninguém. Elas começam a viver uma vida completamente nova — não a vida da multidão, mas a vida do indivíduo. Elas se tornam leões; deixam de ser ovelhas.
os políticos e os sacerdotes estão interessados em que cada ser humano permaneça uma ovelha. Somente assim eles podem ser pastores, líderes, grandes líderes. Pessoas medíocres e estúpidas fingindo-se de grandes líderes! Mas isso só é possível quando toda a humanidade permanece num grau muito baixo de inteligência, quando ela é mantida reprimida.
Até agora só dois experimentos foram feitos. Um foi a indulgência, que fracassou e que está sendo tentada novamente no Ocidente e vai fracassar novamente, fracassar completamente. O outro foi a renúncia, uma tentativa do Oriente e, também, do cristianismo no Ocidente. Também fracassou, fracassou completamente.
Um novo experimento é necessário, urgentemente necessário. O homem está vivendo num grande torvelinho, numa grande confusão. Aonde ir? O que fazer consigo mesmo? Eu não estou dizendo para renunciar ao sexo; estou dizendo para transformá-lo. Ele não precisa permanecer simplesmente biológico: traga alguma espiritualidade para ele.
Enquanto estiver fazendo amor, medite também. Enquanto estiver fazendo amor, mantenha-se num estado devocional. O amor não deve ser apenas um ato físico;derrame sua alma nele. Então, lenta, lentamente, a dor começa a desaparecer e a energia contida na dor é liberada e torna-se cada vez mais uma bem-aventurança. Então, a agonia é transformada em êxtase.
Você diz: “Eu me apaixonei e sofri demais“. Você é abençoada. As pessoas realmente pobres são aquelas que nunca se apaixonaram e nunca sofreram. Elas, absolutamente, não viveram. Apaixonar-se e sofrer no amor é bom. É passar pelo fogo; purifica, lhe dáinsights, torna-o mais alerta. Esse é o desafio a ser aceito. Aqueles que não aceitam esse desafio permanecem fracos.
Você diz: “Eu me apaixonei e sofri demais. Depois de ouvi-lo, eu me senti sem vontade de deixar o sonho continuar, pois meu caso de amor no final, não conduzirá à satisfação“. Eu não estou dizendo para abandonar seu amor; estou simplesmente expondo um fato: que ele não lhe trará o contentamento definitivo.
Não está em minhas mãos transformar a natureza das coisas. Estou simplesmentedeclarando um fato. Se estivesse em minhas mãos, eu gostaria que você conseguisse o contentamento definitivo no amor. Mas isso não acontece. O que podemos fazer? Dois mais dois são quatro.
É uma lei fundamental da vida que o amor o leve a insatisfações cada vez mais profundas. No final, o amor o leva a tal descontentamento que você começa a ansiar pelo derradeiro amado, Deus, você começa a buscar pelo derradeiro caso de amor.
sânias é um caso de amor derradeiro, é a busca por Deus, a busca pela verdade. Ele só é possível quando você já fracassou muitas vezes, amou e sofreu, e cada sofrimento lhe trouxe cada vez mais e mais consciência, cada vez mais e mais compreensão.
Um dia vem o reconhecimento de que o amor pode lhe dar alguns vislumbres — e esses vislumbres são bons, e esses vislumbres são vislumbres de Deus —, mas ele só pode lhe dar vislumbres. Mais não é possível. Mas isso também já é muito: sem esses vislumbres, você nunca irá procurar nem irá buscar Deus.
Aqueles que não amaram e sofreram nunca se tornaram buscadores de Deus — eles não podem, eles não conseguiram essa riqueza, não se tornaram merecedores dela. É um direito exclusivo do amante, um dia, começar a buscar pelo derradeiro amado.
Ame, e ame mais profundamente. Sofra, e sofra mais profundamente. Ame e sofra totalmente, porque é assim que o ouro impuro passa pelo fogo e se torna ouro puro.
Eu não estou lhe dizendo para fugir dos seus casos de amor. Vá fundo neles. Eu ajudo meus saniássins a entrarem no amor porque eu sei que o amor, no final, fracassa.
E a menos que eles saibam por experiência própria que o amor, no final, fracassa, a busca por Deus permanecerá falsa.
Osho, em “Vida, Amor e Riso”