30 de setembro de 2013
28 de setembro de 2013
Anotações Sobre o Livro - Jung, Sincronicidade e Destino Humano
Pierre Teilhard de Chardin |
Na visão esquemática de Pierre Teilhard de Chardin, o processo de evolução avança através de uma sucessão de esferas que culminam na noosfera. Ele delimita um número de estágios sucessivos no processo evolutivo, aos quais também chama de "zonas" ou "esferas". Desta forma, Teilhard relaciona a barisfera, a litosfera, a hidrosfera, a atmosfera, a estratosfera, a biosfera e, por fim, a noosfera. A característica primária destas esferas, dentro da perspectiva idealizada por Teilhard, e a sua relação com o surgimento da vida é com o desenvolvimento posterior desta no espírito humano. Por conseguinte, os primeiros estágios que ele descreve se referem à condição do universo antes de a vida ter evoluído. O surgimento da vida transporta a evolução do universo para um nível significativamente mais elevado.
A biosfera na formulação de Teilhard contém todas as expressões da vida, tanto nas formas vegetais como nas animais. É neste nível, o nível da biosfera, que a espécie humana aparece, com ela, um fator de transformação radical entra na evolução do universo. A vida do ser humano gera a mente e, por fim, os produtos criativos do espírito. A partir destes, forma-se um reino ulterior que representa um nível de evolução qualitativamente superior. A noosfera, a esfera do espírito e do significado, abre-se agora diante de nós como a grande potencialidade da existência humana.
A noosfera é a dimensão da realidade na qual se expressa a qualidade especial da vida humana. A descrição que dela faz Teilhard é mais visionária e impressionista do que literal; ainda assim, a concepção que ele tem em mente é definida e rica em sugestões. Na visão Teilhardiana, a noosfera é uma camada da realidade, ou "invólucro", envolvendo a Terra como uma atmosfera. Trata-se de um invólucro em torno do material, mas ele mesmo não é material. Pode-se concebê-lo como um composto de partículas de consciência humana; estas são, por assim dizer, centelhas que se erguem das experiências da psique humana. Deste modo, a noosfera não existia antes do surgimento do ser humano no cenário evolutivo. Os conteúdos dela derivam da vida acumulativa do homem e são formados pelas experiências interiores da humanidade, em especial aquelas que ocorrem no nível profundo de consciência. Neste sentido, o desenvolvimento da noosfera é uma emergência da vida humana e, particularmente, da evolução posterior do homem em termos da dimensão interior da existência.
Visto que a noosfera, como a dimensão emergente do homem no processo de evolução, difere qualitativamente em seu conteúdo das esferas que a precedem, é possível deduzir que os princípios pelos quais ela pode ser compreendida e interpretada também sejam diferentes. As leis de causa e efeito talvez sejam para se entender a operação daquelas leis que governam o funcionamento do universo nos estágios anteriores ao surgimento da vida. Estas leis causais, juntamente com os princípios da teleologia orgânica, podem ser suficientes, num nível posterior, para nos permitir compreender e interpretar os processos que atuam no nível do universo onde a vida vegetal e animal está presente, assim como no nível da biosfera. Mas alguma coisa mais se encontra presente na noosfera, e, se acompanharmos a concepção geral de Teilhard, há razões para inferir que é necessário um princípio interpretativo, além da causalidade e da teleologia orgânica para se entender a natureza dos eventos que ocorrem dentro dela.
O próprio Teilhard, no entanto, não considerava importante a aplicação de princípios interpretativos a cada uma das esferas maiores por ele descritas; Jung, por sua vez, não reconhece a validade da concepção sistemática dos níveis de evolução esboçadas por Teilhard. Todavia, o confronto dos dois lhes acrescenta uma nova dimensão . De um lado a perspectiva Teilhardiana fornece uma estrutura na qual vemos o significado evolutivo mais amplo do conceito de sincronicidade. De outro, a própria concepção da noosfera implica na necessidade de um princípio especial que permita abranger os eventos que nela ocorrem. Teilhard, porém, não o fornece; sua descrição da noosfera revela-se basicamente intuitiva. de acordo com sua interpretação, resulta claro que o invólucro da noosfera é formado progressivamente por eventos individuais ocorridos dentro da psique no decorrer de experiências humanas. Mas o próprio Teilhard não se preocupa em determinar que fatores no interior da psique criam os conteúdos da noosfera. Tampouco dá margem a saber que princípio interpretativo nos permitiria entender o modo de funcionamento interno da noosfera.
Dr. C.G.Jung |
A obra de Jung oferece hipóteses específicas que nos possibilita entender a natureza dos eventos com os quais se constrói a noosfera. De modo algum Jung previu esta função para sua ideia de sincronicidade, mas certamente uma das contribuições importantes desta consiste em completar a nova e crescente visão do universo, exemplificada em autores como Teilhard de Chardin. É o que Jung faz de duas maneiras específicas. Na primeira, com sua teoria dos fatores arquetípicos que operam no interior da psique e particularmente com sua descrição das inúmeras forças e energias contidas no arquétipos, Jung fornece um método de compreensão da natureza das experiências humanas que formam a noosfera. Na segunda, com o princípio interpretativo da sincronicidade, ele nos proporciona um meio concreto de explorar os caminhos sutis, pelos quais originando-se das profundezas da psique, eventos e percepções de significado especial são criados.
Desta maneira recebemos de Jung duas hipóteses embrionárias com relação, primeiro, aos conteúdos e, segundo, ao princípio de operação na noosfera. Quando traduzimos a expressão cunhada por Teilhard em termos de seu significado mais geral e a vemos como a ponta de lança da evolução que emerge das experiências do espírito humano, a mútua cooperação de Jung e Teilhard de Chardin torna-se clara. Ambos contribuem para a nova visão de mundo que vem tomando forma nesta geração. A visão teilhardiana de evolução espiritual expande a perspectiva de tempo e, dentro desse contexto, o princípio de sincronicidade tende a desempenhar um papel importante tanto como hipótese científica quanto como um meio de experiência na linha de frente da vida onde a evolução está se processando.
[Ira Progoff]
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