Quando eu debatia em comunidades online onde haviam embates
homéricos entre céticos e espiritualistas, acabava por confundir a
ambos quando tocava em assuntos científicos. Para os últimos, a ciência
geralmente não despertava muito interesse, pois raramente a analisavam
sob o ponto de vista espiritual; Para os primeiros, era tão estranho
que um espiritualista estivesse citando Carl Sagan e Richard Feynman,
que alguns pensavam se tratar de um cientista “brincando” de ser
espiritualista – um “místico fake”. Obviamente, eles estavam mesmo confusos...
Podem nunca haver lhe contado na escola, mas nem sempre a
espiritualidade esteve dissociada da ciência. Porém, nesta ciência de
hoje, interpretada apenas como um conhecimento estritamente objetivo da
realidade detectável, apenas um método sem nenhuma relação com
qualquer espécie de ideologia ou filosofia, restou muito pouco da
ciência antiga, a filosofia da Natureza, o conhecimento da physis.
Os sábios antigos
chamavam Natureza à realidade primeira e fundamental de todas as
coisas, a essência em torno da qual gira tudo o que é transitório: “A
noite segue o dia. As estações do ano sucedem-se uma à outra. As
plantas e os animais nascem, crescem e morrem. Diante desse espetáculo
cotidiano da natureza, o homem manifesta sentimentos variados – medo,
resignação, incompreensão, admiração e perplexidade. E são precisamente
esses sentimentos que acabam por levá-lo à filosofia. O espanto
inicial traduz-se em perguntas intrigantes: O que é essa physis, que apresenta tantas variações? Ela possui uma ordem ou é um caos sem nexo?”.
Eis que os cientistas nem sempre foram chamados de doutores. Também
já atenderam por naturalistas, filósofos, sábios, alquimistas,
astrólogos, druidas, ocultistas, etc. Portanto, imaginar que a vivência
da ciência moderna deveria estar totalmente desconexa da
espiritualidade é, antes de tudo, uma ignorância da história do
pensamento humano. Uma ignorância de tantos e tantos que vieram antes
de nós, e fizeram as mesmas perguntas ao céu noturno salpicado de
estrelas. E, como o Cosmos não respondeu de volta tal qual um deus
lendário, foram obrigados a arregaçar suas mangas e buscar pelas
respostas eles mesmos. É precisamente da atitude desses cientistas – os de outrora e os de hoje – que podemos tirar preciosas lições:
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