31 de agosto de 2011

A Noite Escura da Alma




Em meados de 2008, depois de passar por uma experiência kundalínica inenarrável por causa de um envolvimento com uma pessoa - uma relação kármico-positiva (diz-se Karma positivo quando há desobstrução de bloqueios e abertura de caminhos evolutivos). Passei por abertura de chakra frontal e depois de uns dias pude sentir na carne o que é a tal 'Noite Escura da Alma' o efeito-colateral e curandeiro dessa abertura de "visão". É preciso deixar claro aqui, para a maioria das pessoas que não vive o seu dia-a-dia com sua percepção extra-sensorial aberta, que eu, desde pequena tenho vivências muito fortes nesses níveis e camadas dimensionais das esferas. E muito do que eu posto aqui, é porque eu realmente VIVI isto. O que também é muito recorrente é eu passar por essas experiências e depois, vir a ler um texto ou um livro onde aquele fenômeno me é explicado. E repito: acontece exatamente assim. E não ao contrário. O texto vem pra mim como que magicamente. Também, lógico, porque eu pesquiso depois. Como disse certa vez um velho amigo meu: 'Quem procura, acha!'. E não é que acho mesmo! Ou  simplesmente me vem nas mãos.

Abaixo separei um link sobre o que os místicos chamam de 'A Noite Escura da Alma' e outro link com uma música do Arrigo Barnabé com um conteúdo bem próximo pra mostrar através da arte como essa vivência é puramente interior e sua linguagem muito mais próxima da música e da poesia pois fala-nos ao coração. É por isso que muitas pessoas racionalistas e mecanicistas quando começam a desenvolver a linguagem da alma pensam que estão loucas e não entendem nada, vão a psiquiatras; é que elas não estão habituadas à linguagem arquetípica, sacro-santa, simbólica que é a linguagem espiritual, a linguagem dos poetas. Alguns psiquiatras podem estigmatizar esse processo como "psicose, esquizofrenia" e orientá-lo a se encher de remédios, e,  se isso acontecer, bem, a escolha é sua e de sua família. Não quero vir aqui dizer para você deixar de usar o medicamento (quimicamente destruidor de mentes). Mas no meu caso, a melhor coisa que eu fiz depois de passar por isso foi homeopatia pra dormir e medicina ortomolecular pra estabilizar a química do corpo.
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(Nayre)

A Noite Escura da Alma [Segundo o Xamanismo]

Eclipse em Meia-Lua



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30 de agosto de 2011

Não fale pelo outro o que você não sabe sobre ele.





Eu sou assim, quiser gostar de mim, eu sou assim...

E não me arrependo de nenhuma das minhas escolhas. Por mais estranha e brusca ou repentina e aparentemente sem sentido que possa ser a minha atitude. Eu posso não saber  lidar com materialidade frente aos seus jogos e artimanhas, mas a minha Alma tem consciência de TUDO. Passado, presente e futuro. Quem já experimentou as entranhas do Abismo pra salvar uma alma perdida, sabe que só voltará lá novamente com o consentimento do anjo e na companhia de um Arcanjo. Cobrar Amor do outro é uma coisa. Mergulhar no Abismo, para salvar esse amor, independentemente do poder ou não querer o outro, é outra.

Mas diga pra você aí que está me lendo...

Você já lutou contra as trevas?

...

Fica a quem é dado a questões sem fim, "pensar" nisso.

(Nayre)

24 de agosto de 2011

Orquídea de Inverno

Nove na quinta posição significa:

Homens ligados por um sentido de comunidade

primeiro choram e se lamentam, mas depois riem.

Após grandes lutas conseguem encontrar-se.



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Duas pessoas estão exteriormente separadas, porém unidas em seus corações. Suas posições na vida as mantêm separadas. Erguem-se, entre elas, muitos obstáculos e impedimentos, causando-lhes tristezas. Mas elas não permitem que nada as separe e permanecem fiéis uma à outra. E ainda que a superação desses obstáculos exija grandes lutas, elas vencerão, e ao se reencontrarem suas tristezas se transformarão em alegria.


Confúcio comenta a respeito desta linha:



"A vida conduz o homem responsável por caminhos tortuosos e mutáveis.

Muitas vezes o curso é bloqueado, em outras segue desimpedido.

Ora pensamentos sublimes vertem-se livremente em palavras.

ora o pesado fardo da sabedoria deve fechar-se no silêncio.

Mas quando duas pessoas estão unidas no íntimo de seus corações

podem romper até mesmo a resistência do ferro e do bronze.

E quando duas pessoas se compreendem plenamente no íntimo de seus corações

suas palavras tornam-se doces e fortes como a fragrância das orquídeas".




foto: nayre.  : orquídea : dendrobium nobile :  (24.08.11 - 15:49h)





(O Livro das Mutações, Comunidade com os Homens)

18 de agosto de 2011

Jung: Livro de Jó, Alquimia e Sincronicidade





Retirado do livro "C. G. Jung: Entrevistas e Encontros", de William McGuire e R.F.C. Hull (Ed. Cultrix)

Entrevista do Prof. Mircea Eliade com Jung, em 1952.


Eliade: Aos 77 anos de idade, o Professor C. G. Jung nada perdeu de sua extraordinária vitalidade, de seu surpreendente espírito juvenil. Ele acabou de publicar, um após outro, três novos livros: sobre o simbolismo de Aion (Tempo), sobre sincronicidade, e "Resposta a Jó", o qual já deu origem a reações sensacionais, especialmente entre os teólogos.

Jung: Esse livro sempre esteve em minha mente, mas aguardei 40 anos para escrevê-lo. Fiquei terrivelmente chocado quando, ainda criança, li o Livro de Jó pela primeira vez. Descobri que Javé é injusto, que é mesmo um malvado. Pois permite-se ser persuadido pelo diabo, concorda em torturar Jó por sugestão de Satã. Na onipotência de Javé não existe consideração pelo sofrimento humano. São abundantes os exemplos da injustiça de Javé em certos escritos hebraicos. Mas não é esse o ponto; o ponto que interessa é a reação do crente à injustiça. A questão é a seguinte: Existe na literatura rabínica qualquer prova da existência de reflexão crítica ou de uma reconciliação desse conflito na Deidade? Num texto tardio (Talmud babilônbico), Javé solicita a bênção do sumo sacerdote Ishmael, e Ishmael responde-lhe: "Seja a Tua vontade que a Tua misericórdia suprima a Tua ira, e que a Tua compaixão possa prevalecer sobre os Teus outros atributos..."

O Todo-Poderoso sente que um homem verdadeiramente santificado é superior a Ele.

É possível que tudo isso seja uma questão de linguagem. Pode ser que aquilo a que chamamos a "injustiça" e a "crueldade" de Javé sejam apenas fórmulas aproximadas e imperfeitas para expressar a transcendência total de Deus. Javé é "Aquele que é", de modo que está acima e além do bem e do mal. Ele é impossível de ser apreendido, compreendido, formulado; por conseguinte, é misericordioso e injusto simultaneamente. Isto é uma maneira de dizer que nenhuma definição pode circunscrever Deus, nenhum atributo esgota as suas potencialidades.

Eu falo como psicólogo e, sobretudo, estou falando do antropomorfismo de Javé e não de sua realidade teológica. Como psicólogo, digo que Javé é contraditório, e também penso que essa contradição pode ser interpretada psicologicamente. A fim de testar a fidelidade de Jó, Javé concede a Satã uma licença quase ilimitada. Ora, esse fato não está isento de conseqüências para a humanidade. Eventos muito importantes são iminentes no futuro por causa do papel que Javé se sentiu obrigado a atribuir a Satã. Diante da crueldade de Javé, Jó está silencioso. Esse silêncio é a mais bela e a mais nobre resposta que o homem pode dar a um Deus onipotente. O silêncio de Jó é já uma anunciação do Cristo. De fato, Deus fez-se homem, tornou-se Cristo, a fim de redimir a sua injustiça para com Jó.

Javé errou mas reconheceu o erro. Será Jó sabedor disso? De qualquer modo, a posteridade percebeu o conflito doloroso causado pela imoralidade de Javé. Há a história de um sábio muito piedoso e devoto que não suportava ler o Salmo 89. Jó está certamente consciente da injustiça divina e, assim, está mais consciente do que Javé. É a superioridade sutil do progresso do homem em consciência moral, em face de um Deus menos consciente. Essa é a razão para a Encarnação.

O grande problema em psicologia é a integração de opostos. Encontramo-lo em toda a parte e em todos os níveis. Em Psicologia e Alquimia tive ocasião de me interessar pela integração de Satã. Pois enquanto Satã não for integrado, não haverá cura para o mundo nem salvação para o homem. Mas Satã representa o mal - e como pode o mal ser integrado? Só existe uma possibilidade: assimilá-lo, ou seja, elevá-lo ao nível da consciência. Isso é feito mediante um processo simbólico muito complicado, o qual é mais ou menos idêntico ao processo psicológico de individuação. Em alquimia, chama-se a conjunção dos dois princípios. De fato, a alquimia assumiu e levou por diante a obra do cristianismo. Na concepção alquimista, o cristianismo salvou o homem, mas não a natureza. O sonho do alquimista era salvar o mundo em sua totalidade; a pedra filosofal foi concebida como o filius macrocosmi, o que salva o mundo, ao passo que o Cristo era o filius microcosmi, o salvador apenas do homem. A finalidade suprema do opus alquímico é a apokatastasis, a salvação cósmica.

Estudei alquimia durante 15 anos, mas nunca falei sobre isso a ninguém; não desejava influenciar os meus pacientes ou meus colegas de trabalho por sugestão. Mas, após 15 anos de pesquisa e observação, impuseram-se-me conclusões inelutáveis. As operações alquímicas eram reais, só que essa realidade não era física mas psicológica. A alquimia representa a projeção de um drama cósmico e espiritual em termos de laboratório. O opus magnum tinha duas finalidades: o resgate da alma humana e a salvação do cosmo. Aquilo a que o alquimista chamava "matéria" era, na realidade, o eu (inconsciente). A "alma do mundo" (anima mundi), que foi identificada com o spiritus mercurius, estava aprisionada na "matéria". Por essa razão é que o alquimista acreditava na verdade da "matéria", porquanto a "matéria" era, na realidade, a própria vida psíquica do alquimista. Mas era uma questão de libertar essa "matéria", de salvá-la - numa palavra, de descobrir a pedra filosofal, o corpus glorificationis.

Esse trabalho é difícil e repleto de obstáculos; o opus alquímico é perigoso. Logo no começo encontramos o "dragão", o espírito ctônico, o "diabo" ou, como os alquimistas lhe chamavam, a "escuridade", o nigredo, e esse encontro produz sofrimento. A "matéria" sofre até ao desaparecimento final da escuridade; em termos psicológicos, a alma encontra-se nas vascas da melancolia e da angústia travando uma luta com a "sombra". O mistério da conjunção (coniunctio), o mistério central da alquimia, visa precisamente a síntese dos opostos, a assimilação da escuridade, a integração do diabo. Para o cristão "despertado" isso constitui uma experiência psíquica muito séria, pois trata-se de um confronto com a sua própria "sombra", com a escuridade, o nigredo, que permanece à parte e nunca pode ser completamente integrado na personalidade humana.

Ao interpretar-se o confronto do cristão com sua sombra em termos psicológicos, descobre-se o medo oculto de que o diabo seja mais forte, de que Cristo não tenha conseguido conquistá-lo completamente. Caso contrário, por que se acreditava e ainda se acredita no Anticristo? Por que se aguardava e continua se aguardando a vinda do Anticristo? Porque só depois do reino do Anticristo e só depois do segundo advento do Cristo o mal será finalmente conquistado no mundo e na alma humana. Em nível psicológico, todos esses símbolos e crenças são interdependentes; é sempre uma questão de lutar com o diabo, com Satã, e de conquistá-lo, ou seja, de assimilá-lo, integrando-o na consciência. Na linguagem dos alquimistas, a matéria sofre até que o nigredo desapareça, quando a aurora será anunciada pela cauda do pavão (cauda pavonis) e um novo dia nascerá, o leukosis ou albedo. Mas nesse estado de "brancura" não se vive, na verdadeira acepção da palavra; é uma espécie de estado ideal, abstrato. Para insuflar-lhe vida, deve ter "sangue", deve possuir aquilo a que os alquimistas chamam o rubedo, a "vermelhidão" da vida. Só a experiência total da vida pode transformar esse estado ideal do albedo num modo de existência plenamente humano. Só o sangue pode reanimar o glorioso estado de consciência em que o derradeiro vestígio de escuridade é dissolvido, em que o diabo deixa de ter uma existência autônoma e se junta à profunda unidade da psique. Então, o opus magnum está concluído: a alma humana está completamente integrada.

Eu sou e continuo sendo um psicólogo. Não estou interessado em qualquer coisa que transcenda o conteúdo psicológico da experiência humana. Nem sequer pergunto a mim mesmo se tal transcendência é possível, visto que, em qualquer caso, o transpsicológico tampouco é de interesse para o psicólogo. Mas no nível psicológico tenho que ocupar-me das experiências religiosas que possuem uma estrutura e um simbolismo que pode ser interpretado. Para mim, a experiência religiosa é real, é verdadeira. Apurei que, através de tais experiências religiosas, a alma pode ser "salva", a sua integração acelerada, e estabelecido o equilíbrio espiritual. Para mim, como psicólogo, o estado de graça existe: é a perfeita serenidade da alma, um equilíbrio criativo, a fonte de energia espiritual. Falando sempre como psicólogo, afirmo que a presença de Deus é manifesta, na experiência profunda da psique, como uma coincidentia oppositorum, e toda a história da religião, todas as teologias, dão testemunho do fato de que a coincidentia oppositorum é uma das mais comuns e mais arcaicas fórmulas para expressar a realidade de Deus. A experiência religiosa é numinosa, como Rudolf Otto a designa, e, para mim, como psicólogo, essa experiência difere de todas as outras de um modo que transcende as categorias ordinárias de espaço, tempo e causalidade. Recentemente, empenhei-me no estudo da sincronicidade (em poucas palavras, a "ruptura do tempo"), e estabeleci que se assemelha estreitamente às experiências numinosas em que espaço, tempo e causalidade são abolidas. Não aplico qualquer juízo de valor à experiência religiosa. Afirmo que um conflito interno é sempre a fonte de profundas e perigosas crises psicológicas, tão perigosas que podem destruir a integridade de um homem. Esse conflito interno manifesta-se psicologicamente nas mesmas imagens e no mesmo simbolismo testemunhados por toda e qualquer religião no mundo, e utilizados também pelos alquimistas.

Por isso me interessei pela religião, por Javé, Satã, Cristo, pela Virgem. Entendo muito bem que um crente veja algo muito diferente nessas imagens do que eu, como psicólogo, tenho o direito de ver. A fé de um crente é uma grande força espiritual, é a garantia de sua integridade psíquica. Mas eu sou médico e estou interessado em curar os meus semelhantes. A fé e somente a fé já não tem poder - infelizmente! - para curar certas pessoas. O mundo moderno está dessacralizado; por isso está em crise. O homem moderno deve redescobrir uma fonte mais profunda de sua própria vida espiritual. Para tanto, é obrigado a lutar com o diabo, a enfrentar sua própria sombra, a integrar o diabo. Não há outra escolha. É por isso que Javé, Jó, Satã, representam situações psicologicamente exemplares; eles são como paradigmas do eterno drama humano.


Eliade: Jung descobriu o inconsciente coletivo - quer dizer, tudo o que precede a história pessoal do ser humano - e aplicou-se a decifrar as suas estruturas e a sua "dialética", com vistas a facilitar a reconciliação do homem com a parte inconsciente de sua vida psíquica e a conduzi-lo no sentido da integração de sua personalidade. Ao invés de Freud, Jung toma em consideração a história: os arquétipos, essas estruturas do inconsciente coletivo, estão carregados de história. Já não é uma questão, como quer Freud, de uma "espontaneidade natural" do inconsciente de cada indivíduo, mas de um imenso reservatório de lembranças históricas, uma memória coletiva na qual é preservada, em essência, a história de toda a humanidade. Jung acredita que o homem deve fazer maior uso desse reservatório; o seu método analítico dedica-se, precisamente, a encontrar os meios adequados para usá-lo.

Jung: O inconsciente coletivo é mais perigoso do que dinamite, mas existem métodos para manipulá-lo sem maiores riscos. Depois, quando se desencadeia uma crise psicológica, estamos em melhor posição do que qualquer outro para resolvê-la. Temos sonhos e devaneios; tratemos de os observar. Poderíamos quase dizer que todo o sonho, à sua própria maneira, contém uma mensagem. Ela não só nos diz que algo está errado nas profundidades do nosso ser, mas também nos oferece uma solução para sair da crise. Pois o inconsciente coletivo que nos envia esses sonhos já possui a solução: nada se perdeu da toda a experiência imemorial da humanidade, toda a situação imaginável e toda a solução parecem ter sido previstas pelo inconsciente coletivo. Basta apenas que observemos cuidadosamente. A análise ajuda a ler corretamente essas mensagens.


Eliade: Foi observando seus próprios sonhos - que ele tentou em vão interpretar nos termos da psicanálise freudiana - que Jung foi levado a pressupor a existência do inconsciente coletivo. Isso aconteceu em 1909. Dois anos depois, começou a dar-se conta da importância de sua descoberta. Finalmente, em 1914, ainda em conseqüência de uma série de sonhos e devaneios, ele compreendeu que as manifestações do inconsciente coletivo são, em parte, independentes das leis do tempo e da causalidade. Como o Professor Jung amavelmente me permitiu que falasse desses sonhos e devaneios, os quais desempenharam um papel capital em sua carreira científica, eis um resumo deles.

Jung: Em outubro de 1913, enquanto viajava de trem de Zurique para Schaffhausen, ocorreu-me um estranho incidente. Ao atravessar um túnel, perdi a consciência de tempo e lugar, e só fui acordado uma hora depois, quando o condutor anunciou a chegada a Schaffhausen. Durante todo esse tempo fui vítima de uma alucinação, de um devaneio. Estava olhando para o mapa da Europa e vi como, país por país, começando com a França e a Alemanha, a Europa era tragada pelo mar, até ficar submersa. Pouco depois, todo o continente era um lençol de água, com exceção da Suíça; a Suíça era como uma alta montanha que as ondas não podiam alcançar. Vi-me sentado na montanha. Mas então, olhando mais atentamente à minha volta, percebi que o mar não era de água, mas de sangue. Flutuando sobre as ondas havia cadáveres, telhados de casas, madeiras calcinadas.

Três meses mais tarde, em dezembro de 1913, e novamente no trem que me levava a Schaffhausen, repetiu-se o mesmo devaneio, de novo ao entrar no túnel (Dei-me conta, subseqüentemente, de que era como uma imersão no inconsciente coletivo). Como psiquiatra, fiquei preocupado, imaginando se eu não estaria a caminho de "fazer uma esquizofrenia", como dizíamos na linguagem desses tempos. Finalmente, alguns meses mais tarde, tive o seguinte sonho: Vi-me nos mares do sul, perto de Sumatra, no verão, acompanhado de um amigo. Mas soubemos pelos jornais que uma terrível onda de frio tinha varrido a Europa, como não havia notícia de que tivesse ocorrido antes. Decidi ir até Batávia e embarcar num navio de volta à Europa. O meu amigo disse-me que pegaria um veleiro de Sumatra para Hadramaut, e daí continuaria sua viagem através da Arábia e Turquia. Cheguei à Suíça. Em meu redor só via neve e mais neve. Uma vinha enorme estava crescendo algures; tinha muitos cachos de uvas. Acerquei-me e comecei apanhando as uvas, distribuindo-as por um magote de gente que me rodeava mas que eu não podia ver.

Três vezes esse sonho se repetiu e, finalmente, fiquei deveras intranqüilo. Eu estava justamente nessa época preparando uma conferência sobre esquizofrenia, para ser lida num congresso em Aberdeen, e não me cansava de repetir para mim mesmo: "Estarei falando de mim mesmo! Muito provavelmente enlouquecerei depois de ler a conferência". O congresso teria lugar em julho de 1914 - exatamente o período em que, nos meus três sonhos, via-me viajando pelos mares do sul. A 31 de julho, imediatamente após a minha conferência, soube pelos jornais que eclodira a guerra. Finalmente entendi tudo. E quando desembarquei na Holanda, no dia seguinte, ninguém era mais feliz do que eu. Agora tinha a certeza de que nenhuma esquizofrenia me ameaçava. Compreendi que os meus sonhos e as minhas visões me chegavam do subsolo do inconsciente coletivo. O que me restava agora fazer era aprofundar e validar essa descoberta. E isso é o que estou tentando fazer há 40 anos.


Eliade: Jung ficou satisfeito ao receber uma segunda explicação desse sonho pouco depois. Os jornais não tardaram em noticiar que um capitão da Marinha alemã, de nome von Mücke, que tinha cruzado os mares do sul num veleiro, de Sumatra para Hadramaut, se refugiara na Arábia e daí alcançara a Turquia.



Replicado da Compilação de Sidharta Campos.

16 de agosto de 2011

O coração como tambor e o canto para criar a vida





E as sintonias continuam.
Semana passada abri ao acaso uma página do livro   | mulheres que correm com os lobos |
E caiu neste pedaço do capítulo 5. O conto analisado  fala do arquétipo da Mulher-esqueleto e a vida-morte-vida. -nayre


*** 

Diz-se que o couro ou a estrutura de um tambor determina quem e o que será conjurado a viver. Acredita-se que alguns tambores são do tipo viajante, pois transporta-se quem toca e quem ouve (também chamados de “passageiros” na tradição da literatura oral) para lugares diversos e variados. Outros tipos de tambores são poderosos sob outros aspectos. Tambores feitos de ossos humanos invocam os mortos. Tambores feitos com o couro de certos animais são bons para conclamar os espíritos de certos animais. Os tambores que são especialmente belos chamam a Beleza. Os tambores com sininhos presos atraem os espíritos de crianças e afetam o tempo. Os tambores com voz grave convocam os espíritos que conseguem ouvir esse tom. Os que têm voz aguda chamam os espíritos que ouvem aquele tom, e assim por diante.

Um tambor feito do coração invocará os espíritos que estão ligados ao coração humano. O coração simboliza a essência. O coração é um dos poucos órgãos essenciais à vida dos seres humanos (e dos animais) Retire-se um rim, e o ser humano sobrevive. Retire-se ainda as duas pernas, a vesícula, um pulmão, um braço e o baço; o ser humano vive. Retire-se o coração e a pessoa se vai no mesmo instante.

O centro fisiológico e psicológico é o coração. Nos Tantras do hinduísmo, que são instruções dos deuses aos seres humanos, o coração é o Anãhata chakra , o centro nervoso que abrange o sentimento por outro ser humano, o sentimento por si mesmo, pela terra e por Deus. É o coração que nos permite amar como ama uma criança: totalmente, sem reservas e sem qualquer capa de sarcasmo, depreciação ou protecionismo.

Quando a mulher esqueleto se vale do coração do pescador, ela está usando o centro motor da psique inteira, o único órgão de real importância, o único capaz de gerar sentimento puro e inocente. Diz-se que é a mente que pensa e cria. Essa história afirma o contrário, que é o coração que pensa e convoca as moléculas, átomos, sentimentos, anseios e o que mais seja necessário, até o único lugar a fim de gerar a matéria que realize a criação da Mulher esqueleto.

A história contém uma promessa: permita que a mulher esqueleto se torne mais palpável em sua vida, e ela em troca engrandecerá sua vida. Quando a libertamos do seu estado emaranhado e confuso e a percebemos como mestra e amante, ela passa a ser uma aliada e uma parceira.

Dar o coração para uma nova criação, para uma nova vida, é uma descida ao reino dos sentimentos. Pode ser difícil para nós, especialmente se tivermos sido feridos por uma decepção ou pela mágoa. No entanto, ele existe para ser tocado, para dar vida plena à Mulher-esqueleto, para nos aproximar daquela que sempre esteve por perto.

Quando um homem entrega seu coração por inteiro, ele se torna uma força espantosa – ele se torna uma inspiração, papel que no passado era reservado apenas às mulheres. Quando a Mulher-esqueleto dorme com ele, ele se torna fértil. Ele é investido com poderes femininos num meio masculino. Ele passa a levar as sementes da nova vida e das mortes necessárias. Ele inspira novos trabalhos a si mesmo, também àqueles que estão por perto.

Com o passar dos anos, percebi isso nos outros e vivenciei em mim mesma. É uma ocasião profunda quando criamos alguma coisa de valor através da crença que o parceiro tem em nós, através do sentimento sincero que ele tem pelo nosso trabalho, nosso projeto, nosso tema. É um fenômeno surpreendente. E não se limita necessariamente aos relacionamentos amorosos; ele pode ocorrer com qualquer um que nos entregue o coração intensamente.

Portanto, o vínculo do homem com a natureza da vida-morte-vida acabará lhe dando ideias às dúzias, bem como enredos, situações, partituras musicais e cores e imagens inigualáveis – pois a natureza da vida-morte-vida, o arquétipo da Mulher Selvagem, tem à sua disposição tudo o que um dia existiu e tudo o que um dia existirá. Quando ela cria, quando canta gerando carne para si mesma, a pessoa cujo coração ela está usando sente o que está acontecendo, enche-se com a criação, transborda com ela.

A história também ilustra um duplo poder que vem da psique através do símbolo do tambor e do canto. Nas mitologias, as canções curam ferimentos e são usadas para atrair a caça. As pessoas são convocadas quando se entoam seus nomes. Alivia-se a dor; alentos mágicos restauram o corpo. Os mortos são invocados ou ressuscitados por meio do canto. Diz-se que toda criação foi acompanhada de um som ou de uma palavra proferida em voz alta, de som ou palavra sussurrada ou pronunciada sem voz. Quem emite esse tipo de “palavra sonora” pode ter tido conhecimento ou compreensão do seu significado ou não. Considera-se que o canto brota de uma fonte misteriosa, que anima toda criação, todos os animais, seres humanos, árvores e plantas e tudo o que o ouvir. Na literatura oral diz-se que tudo o que tem seiva tem canto.

O hino da criação produz a transformação psíquica. A tradição deles é enorme: há canções propiciadoras do amor na Islândia e entre os povos wichita e micmac. Na Irlanda, o poder mágico é invocado pelo canto mágico. Numa história da Islândia, uma pessoa cai em penhascos gelados e tem o membro decepado, mas ele é recuperado por meio de uma canção.

Em quase todas as culturas, no momento da criação os deuses dão canções ao seu povo, dizendo-lhes que seu uso irá chamar os deuses de volta a qualquer instante, que a canção irá lhes trazer o que precisarem e transformar ou eliminar o que não quiserem mais. Nesse sentido, a doação da música é um ato compassivo que permite aos humanos invocar os deuses e as grandes forças até os círculos humanos A música é um tipo especial de linguagem que realiza essa função de um jeito impossível para a voz falada.

A música, como o tambor, cria uma consciência diferente, um estado de transe, de oração. Todos os seres humanos e muitos animais são suscetíveis a terem sua consciência alterada pelo som. Certos sons, como o de uma torneira pingando ou de uma buzina de automóvel, podem nos deixar ansiosos ou até mesmo irritados. Outros sons, como o bramido do oceano ou o ruído do vento nas árvores, nos enchem de uma sensação agradável. O som de baques surdos – como o de pegadas – faz com que a cobra sinta uma tensão negativa. Já uma canção entoada suavemente pode fazer com que a cobra dance.

A palavra pneuma (respiração) compartilha suas origens com o termo psique. As duas são consideradas palavras para a alma. Portanto, quando há uma canção numa história ou numa lenda, sabemos que os deuses estão sendo conjurados a instilar sua sabedoria e seu poder no caso em questão. Sabemos, então, que as forças estão funcionando no mundo espiritual, que estão ocupadas confeccionando almas.

Portanto, a canção entoada e o uso do coração como tambor são atos místicos para despertar camadas da psique não muito usadas ou vistas. A respiração ou pneuma que paira sobre nós abre certas fendas, faz surgir certas faculdades que de outro modo seriam inacessíveis. Não sabemos dizer para cada pessoa o que será invocado pelo canto, despertado pelo tambor, porque eles atuam sobre frestas estranhas e raras no ser humano que participa. No entanto, podemos ter certeza de que seja o que for que acontecer terá uma irresistível força numinosa.

Quiser ler o conto todo, o livro:
 
pág 166 do livro oficial e pág 98 do link: Mulheres que correm com os lobos de  CLARISSA PINKOLA ESTÉS



10 de agosto de 2011

Mente Zen



Tentar compreender o Zen? Usar somente a lógica para entender o Zen?

Na verdade, tanto no Zen como na vida não há nada a que possamos nos agarrar e dizer: "É isto. Entendi". Portanto, cada livro a respeito do Zen é como uma história de mistério onde falta o último capítulo. Há sempre algo que escapa à definição, que nunca poderá ser expresso em palavras, e, quanto mais firme tentamos segurar, está sempre um passo a nossa frente. E isso é devido ao fato de a descrição e a definição serem a morte, e a verdade do Zen não pode ser morta, assim como não podemos matar um dragão com múltiplas cabeças porque, no antigo mito, uma outra cabeça cresce no momento em que cortamos uma delas. Pois o Zen é a vida. Tentar compreender o Zen é como tentar compreender a nossa própria sombra, e todo o tempo estaremos correndo para longe do sol. Quando por fim compreendemos que nossa sombra nunca poderá ser capturada, há uma súbita reviravolta, um relâmpago de Satori e, na luz do sol, o dualismo do eu e sua sombra desaparecem. Então o homem percebe que o que ele estava tentando captar era apenas a imagem irreal do seu verdadeiro eu, ou aquilo que sempre foi, é e será. Por fim, ele alcançou a iluminação.

(Alan Wats. O espírito do Zen. L&PM)

Viver é Mais


Do que pensar

Vai além...




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28 de julho de 2011

O inconsciente se manifesta na matéria

Ao longo de minha jornada nesta vida, sempre me deparei com sincronias inexplicáveis.  Quando isso começou a acontecer, nunca havia lido nada de C.G Jung e suas descobertas sobre o fenômeno da sincronicidade... Muito menos sobre as geniais descobertas de Rupert Sheldrake e os "Campos Mórficos".
Mas fico pensando se esses fenômenos de ligações de afinidade entre seres da mesma espécie se propagam além da vida, na vida além.

Eu hesitei muito em escrever sobre as experiências reais que tive relacionadas a essas sincronias porque eu teria que expor outra pessoa com a qual tive (tenho) uma ligação invisível, e como vou preservar sua identidade, não citarei seu nome, mas contarei um pouco dessa ligação, até porque, uma discípula de Jung disse que quando você divide seus segredos e temores com o mundo, aquela experiência que antes o atormentava, enlouquecendo e tirando a paz, deixa de ser uma carga só sua, e passa a ser problema e (quem sabe?) equação da humanidade inteira. Se está fora de mim, explicada e compartilhada, deixa de ser uma história velada e passa a ser objeto de estudo e patrimônio da humanidade. Acredito que conhecendo o inconsciente, teremos acesso a um Livro bem precioso para a Terra:  A Memória Cósmica.

Não sei o que se sucederá após isso. Mas sinto uma necessidade de ao menos começar a por pra fora e  sinto que essa é a hora para isso.

Os Barqueiros de Avalon

Certa noite, nos meus 20 anos,  tive um sonho muito misterioso.
Sonhei que eu era uma habitante de uma Ilha e saía de lá conduzida por um barqueiro (ele estava nu,  tinha pinturas tribais no corpo e era careca. Seu corpo era pintado de azul com umas marcas brancas  por cima) atravessando o nevoeiro para o Continente (uma cidade grande, uma capital que não sei dizer qual é). Ele me deixava na margem e eu entrava em uma espécie de casa noturna, onde só havia jovens com roupas escuras e postura de rock. Uma voz me dizia que era a minha Missão entrar naquele Underground e levar os ensinamentos da Ilha de onde vim.

Detalhe: Eu nunca havia lido "As Brumas de Avalon", somente depois fui conhecer o livro e saber que Morgana e as outras mulheres da Ilha eram conduzidas por barqueiros nus numa espécie de gôndola antiga.


***

Sempre tive esse animismo com a literatura e a arte em geral, de sentir algo profundamente e projetar isso em forma de imagem, palavras ou acontecimentos póstumos ou simultâneos na vida de alguém ou na obra de algum artista. Essa capacidade paranormal que tenho, essa ligação com certas pessoas ou artistas que algumas vezes me assustou ou por vezes me encanta, é algo natural em mim, o que já não me perturba mais como fazia quando eu era mais jovem e não tinha para quem contar sem ser tida como louca.

***

Silêncio não, som!



"é sonho-segredo Não é segredo Araçá Azul fica sendo O nome mais belo do medo Com fé em Deus


Eu não vou morrer tão cedo "


Num dia de sábado, no ano de 2009, estava a ouvir a canção "De Conversa / Cravo e Canela" do álbum Araçá Azul de Caetano Veloso, em meu quarto, sozinha. Esse disco de Caetano já me causou estranhas sensações, desde que o ouvi pela primeira vez e confesso que já me deu um medo tão misterioso que pegou até no meu músculo cardíaco. Não sei que mandinga o Caetano botou naquele disco, sinceramente, mas que ele mexeu com minha alma, isso mexeu. Bom, continuando meu relato, naquele momento resolvi acender um incenso de canela e aquele aroma, no mesmo instante me despertou um desejo sexual incontrolável. Peguei um livro chamado "Mujeres que Corren con Lobos" pra ver se me distraia...Imediatamente veio uma voz e me disse: se você abrir o seu MSN agora vai ter uma surpresa. Entrei, mas fiquei em off line e dito e feito: eu tive não uma, mas duas surpresas:  dei de cara com o nick name de uma amiga que naquele dia estava simplesmente como "La Loba". Coração bateu mais rápido quando li. Mas então, prossegui observando e tem mais nessa história... Fui navegar um pouco, não chamei a tal pessoa pra conversar e não disse nada a respeito da sincronia também... Procurei as letras do disco Araçá Azul e comecei a ler a letra de "De Palavra em Palavra" em silêncio e terminei em voz alta:

som


mar


amarelanil


maré


anilina


amaranilanilinalinarama


som

mar


silêncio


não


som


Quando li essas três últimas palavras , senti-as  no meu corpo inteiro, porque percebi-me vivendo aquele momento, que era exatamente aquilo: uma ordem: Silêncio não, Som!

NESTE MOMENTO AS PALAVRAS MÁGICAS VIERAM DO CORAÇÃO E... O SILÊNCIO FOI QUEBRADO. JÁ ESTAVA ESTABELECIDA A LIGAÇÃO TELEPÁTICA.


Imediatamente do lado do nick de "La Loba" apareceu um indicativo de que minha amiga começara a ouvir uma música com Harry Connick Jr. chamada Danny Boy.  Ah! Eu fiquei surpresa com a telepatia imediata, até porque, essa pessoa (La Loba) de quem falo nunca tinha ligado música no msn e acionado o botão "O que estou ouvindo", ao longo dos anos em que tivemos contato virtual. Eu continuando em silêncio, vi o indicativo da música mudar para a seguinte ... E sabe qual ela ouviu em seguida? Uma do álbum 'Fina Estampa' do CAETANO VELOSO chamada Maria Bonita:



Acuérdate de Acapulco,


de aquellas noches,

María bonita, María del alma.

Acuérdate que en la playa

con tus manitas las estrellitas

las enjuagabas.



Tu cuerpo del mar juguete, nave al garete,

venían las olas, lo columpiaban,

y mientras yo te miraba,

lo digo con sentimiento,

mi pensamiento te traicionaba.



Te dije muchas palabras de esas bonitas

con que se arrullan los corazones,

pidiendo que mi quisieras,

que convirtieras en realidades mis ilusiones.

La luna que nos miraba

ya hacía un ratito

se hizo un poquito desentendida,

y cuando la vi escondida

me arrodillé a besarte

y así entregarte toda mi vida.



Amores habrás tenido, muchos amores,

María Bonita, María del alma,

pero ninguno tan bueno ni tan honrado

como el que hiciste que en mí brotara.



Lo traigo lleno de flores

como una ofrenda

para dejarlo bajo tus plantas.

Recíbelo emocionada

y júrame que no mientes

porque te sientes idolatrada.



* Em seguida desconectou.



Considerações finais do Post

Tenho outras mais dessas "coincidências inexplicáveis" que não servem pra nada (ou se servem, não têm uma explicação mais plausível do que a de se tratar de puro animismo mesmo) a não ser pra nos dizer que mesmo que neguemos sempre, há evidências de que temos sim, uma ligação com as pessoas que nós amamos. Mesmo que elas estejam vivendo outra vida, longe de nós.

Eu até iria falar mais a respeito disso, mas misteriosamente, depois que contei, me sinto estranhamente desenergizada. Incapaz de continuar, vou andar de bicicleta no sol ou procurar a companhia de alguém pra abstrair essa indefinição (?) que agora tomou conta de mim...


Como sempre... Mistééério.


(Nayre)












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Baseado no trabalho em esoterologia.blogspot.com.br.

27 de julho de 2011

O Brasil visto de fora

Passamos um pedaço da semana ocupados com um assunto menos importante do que parece. Foi suscitado pelo correspondente do jornal espanhol El País, em artigo em que discorria sobre sua dificuldade de entender por que os brasileiros não ficam “indignados” com o Brasil. Em especial, por que não saem às ruas para protestar contra a falta de ética e a corrupção.


O texto foi republicado por O Globo, três semanas depois de ter saído na Espanha. Parece que a direção do jornal carioca ficou indignada com a falta de repercussão do texto original. Resolveu traduzi-lo e mandou fazer reportagem de capa a respeito do tema.

O autor, Juan Arias, deve ter ficado satisfeito com a deferência de seus colegas. Voltou à discussão na terça-feira, dessa feita em matéria intitulada “A imprensa se converte no paladino contra a corrupção no Brasil”. Título tão surpreendente para quem conhece as corporações da mídia brasileira que só pode ser explicado como retribuição ao destaque que recebera.

Suas ideias foram encaixadas no modelo de interpretação de nossa realidade que é típico das redações dos grandes jornais. Nele, tudo é explicado a partir de uma premissa: os males do Brasil são culpa de Lula e do PT.

É fácil interpretar nossa realidade política e social sabendo, de antemão, a resposta a todas as perguntas. Qualquer coisa pode ser assim compreendida, incluindo a “apatia da sociedade” que não se indigna e não reage contra tudo de errado que existe.

Como afirmou o editorial de O Globo: “O fenômeno da inapetência política diante do assalto aos cofres abastecidos pelos pesados impostos pagos pelo contribuinte tem múltiplas raízes. A mais profunda deriva da bem-sucedida execução de um projeto de cooptação com dinheiro público… (através de organizações) convertidas em correias de transmissão do lulopetismo”.

O engraçado no raciocínio é que a “raiz profunda” da pequena disposição contestatória da população teria nascido outro dia. Se foi obra do “lulopetismo”, é de imaginar que, antes de que Lula chegasse ao poder, o problema inexistisse. Na visão singela do editorialista, talvez fossemos, até 2002, uma sociedade de ampla participação popular, onde o povo vigiava os políticos e só tínhamos a corrupção que passava despercebida. Foi quando veio Lula e estragou tudo.

Não parece que Juan Arias concordaria com uma tese tão superficial. Seu texto não atribuía ao “lulopetismo” a responsabilidade pela situação que o deixava perplexo. O que discutia eram os traços gerais de nosso sistema político, em nada circunscritos a um partido ou governante. A “indignação” que cobrava não seria do povo contra o governo federal, mas também o Congresso, a política nos estados e nos municípios.

O texto tratava Dilma de maneira peculiar. Para ele, “(…) curiosamente, a mais irritada com o ataque dos políticos aos cofres públicos parece ser a primeira presidente mulher”. Ou seja, apesar da lamentada ausência do “povo nas ruas”, ela seria “indignada” o suficiente para não aceitar a corrupção e estaria dando mostras disso no modo como enfrentou os casos Palocci e Alfredo Nascimento.

Nem se precisa dizer que essa avaliação esteve totalmente ausente nas repercussões do texto no Globo. Admiti-la implicaria abrir mão do modelo em que o “lulopetismo” é o grande culpado.

O assunto acabou fazendo um percurso curioso. Primeiro, um correspondente estrangeiro escreveu um artigo com o olhar característico de quem vê de fora nossos problemas. Daí, achando que era instrumental, um jornal local o importou, adaptando-o à sua visão. Foi buscar lá fora argumentos que referendavam suas ideias e lhes davam certo ar cosmopolita, mesmo algumas que o texto inicial não subscrevia. Terminou como se o El País condenasse o “lulopetismo”.

Não era isso, mas quem se importa? Em redações como a desse jornal, a única coisa relevante é combater.


Marcos Coimbra





Marcos Coimbra é sociólogo e Presidente do Instituto Vox Populi






22 de julho de 2011

o peixinho, a flor & a ROCHA GIGANTE




Morro crescido então... Se virei montanha. Posso.

Devo ser a pedra silenciosa do saber ouvir, e me calar.

A rocha gigante.

Brinquedo de homem escalante e/ou de bicho interessante querendo se alcançar. No topo a mais bela flor da consciência, a flor do firmamento, brilhando estrela cadente do céu à Terra, ligação do mais alto astral ao chão.

O telefone toca dentro da casa de dançar da alma. Uma chamada a cobrar interdimensional.

A música ecoando...

Quem será o deus do outro lado? Será meu Deus? Ou o adeus, deus do avesso?



Um voo pássaro zumbido

ligeiro bater das asas ágeis

me beija e me pólem



Fertilizada-mente-anti-seca irrigando pensamento. Adubando.

Mais uma criança acrescida nessa história, resgatando sua memória menina; da deusa mãe a lhe embalar soprando canto, a lhe dar o peito de mamar, alimentar de puro amor.



O beija-flor veio me dizer que o SIM voltou para ficar. Já era a Era do NÃO.



Tem novidade na área: A Nova Era.




*

*

*

Era uma vez um peixinho.

Um tanto metido e abusado.

Intencionava voar, pobrezinho, para alcançar a flor celeste no alto da rocha gigante.

Veja só que sandice. Copia só.

Mergulhava no ar se debatendo em nadadeiras.

Mas logo lhe faltava força d'água para respirar.

Sentia tanta dor que parecia que ia.

Depois do salto, o certo era tombo no mar.

Tristinho a observar sua natureza incapaz, amoeceu. Adoecido de desejo.

No canto mais escuro que encontrou ali ficou.

No mais sozinho... salinizando oceano.

Tempo passando e o peixinho lá chorando, nadando em lágrimas, tanto que o pacífico se encheu e transbordou, invadindo atlântico o continente americano, depois Europa, da Africa também pouco sobrou por terra.

O que havia de mais profundo oceânico, agora era terra emergida à luz do sol, e vice-versa.

A rocha gigante afundada no mar... O peixinho teve então sua chance.

E lá foi ele, livre e belo peixe, se criando no caminho, inventou o seu bater de asas... e voou.

Pensava em beijar a flor e assim o fez.



[Ale Kirchmayer]






 
 
 
 
 

21 de julho de 2011

Tateando no Escuro

"É necessário tatear nas trevas, eu sei. A linha do destino nunca se apresenta muito clara aos olhos - mas a vida é assim mesmo. E é bom que a pessoa tenha que procurá-la; no próprio ato da busca, algo cresce dentro dela." (Osho)

Respirando e Sendo...




Quanto vale um instante?

Quanto custa um momento?



Respirar simplesmente,

Ser,

Tudo isso que é tão nada,

Representa o âmago do seu existir.



Quanto custa tudo isso?

Praticamente nada,

Nem nos damos conta que isso acontece.



Tempo corre, horas, dias, anos,

Respirando e sendo...

Sendo e respirando...

Onde fica todo esse tempo?

Onde fica toda essa pressa?



Se respiro no presente,

Se sou agora,

Se só tenho esse instante,

Nada mais...



E se me der conta de cada instante,

Respirando e Sendo,

Alcanço mais,

Alcanço algo que sempre me escapava...




Alcanço a Paz


Alcanço o mundo inteiro,

Me faço Um com o mundo,

Que É

Que Respira,

Que só tem

o Agora.

E isso basta...

20 de julho de 2011

A natureza está muito além das conceitualizações estabelecidas

Luz & Sombra sempre existiram no interior do ser humano. Mas é exatamente por causa desse contrastante conflito interno que nós evoluímos. É nas lutas que o Espírito humano empreende na vida que a alma adquire profundidade. Trazendo a própria obscuridade ao nível da consciência, para que seja transmutada em luz, trazemos à claridade algo em nós que antes, ignorávamos. Geralmente temos necessidade de nos livrarmos constantemente de dogmas e erros que se incrustam nos nossos corpos, e que por serem tidos como verdades absolutas pela grande maioria das pessoas, as que têm preguiça de pensar, de vivenciar os próprios desafios, confunde-se muito o Bem Maior com definições arcaicas e engessadas do que seja considerado bom ou mau. É importante lembrar que o ponto luminoso da vida está sempre se deslocando, girando, se reagrupando, se reequilibrando, é o TAO. O universo gira e se movimenta ao mesmo tempo. E não é raro que nos encontremos constantemente formulando conceitos pré-estabelecendo tudo. Como se tivéssemos de definir a vida para o mundo... Entiquetar e engavetar... E esse método até certo ponto é válido, afinal, para nos comunicarmos com os outros, temos que nos organizar e nos fazer entender, não é mesmo?
E nessas horas as palavras bem ditas ( benditas )  podem ser um santo remédio. Então tentamos dizer ao outro - que é tão importante para nós - porque nós queremos ser compreendidos, ora. Saber que não estamos loucos ou sozinhos nessa coisa imensa que é a vida... Mas na mistura com o mundo, nessa mistura toda aí, nós herdamos signos estabelecidos culturalmente que não são, propriamente nossos, e muitas vezes ao invés de fazerem o papel da ''linguagem universal'', torna tudo padronizado.
Mas nós agora despertamos pra essa falha e resolvemos quebrar todas essas fôrmas de gesso: essa maneira superficial e rápida de ver o outro. 

Penso, nesse momento, na autonomia que tenho para avaliar  tudo o que passa por mim...

O que é amargo na vida, não deve ser sempre, necessariamente ruim, mas também pode ser sim, pura crueldade gratuita. O que é doce pode ser maravilhoso se for a hora de se florescer, mas também pode ser algo totalmente artificial e fora de hora. Há todo um processo para sentir além dos conceitos. Esse é o verdadeiro processo de iluminação consciente. E não esse aceitar da ignorância interna passivamente e afirmar: ''eu sou assim mesmo, tenho o bem e o mal dentro de mim e será sempre assim''... Permanecendo na posição cômoda, sendo capaz de passar a vida semi-consciente, sem nunca conseguir superar esse dualismo mental que geralmente tem raízes na vaidade, no egocentrismo, no egoísmo imediato, na busca inútil  e incessante da mente por nada que nunca termina, a não ser quando já não podemos fazer mais nada do que ter de tapar toda essa angústia gerada com "drogas de aluguel", seja em forma de banalização do sexo, do uso de potencializadores (álcool e afins) sem noção do sagrado, o lazer sem sentido (quem se  habitua a festa rotineira de final de semana,  a certa altura da vida nem se lembra mais porque está festando) . É um círculo vicioso que não acorda para atingir o centro de si, penetrando no cerne da compreensão. 

E há tanto para se aprender diariamente...

A vida nos empurra diariamente para o auto-conhecimento (algo tão amplo!) ,  o auto-questionamento: tipo, será que estou sendo razoável com o outro, ou considerando a sua bagagem de vida  e me preocupando com o que o outro pensa/sente ou só estou pensando em passar o recado do meu ego querido e recalcado?

Então, qual seria o propósito maior de estarmos aqui, senão é o de auto-aperfeiçoamento?
A vida é um grande laboratório... A Terra é uma grande mãe acolhedora.
Não disperdicemos nossas ricas viagens neste planeta com coisinhas insignificantes.

(nayre)










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