A
Preservação do Self
(A Preservação da Alma)
(A
identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas)
Por Nayre Fernandes Martins
Este
capítulo do livro “Mulheres que Correm Com os Lobos” trata de um
tema profundo que aborda principalmente a preservação do Selvagem
Feminino e de sua natureza sensível de poder pessoal diante da
sedução constante de um mundo afetado por uma necessidade de
pertencimento a um sistema coletivo que não é nada saudável para o equilíbrio
psíquico e a alegria natural da mulher.
Ao
longo dos séculos, as mulheres foram suprimidas em seu direito de
serem elas mesmas. O mundo patriarcal organizou-se de tal forma que
até as outras mulheres se tornaram delatoras de suas amigas. E sejam
elas, solteiras, homossexuais convictas, mães independentes ou mulheres
devidamente casadas com quem elas escolheram... Não importa. Todas
essas mulheres nasceram com seus instintos de sabedoria corporais inatos intactos, porém, desde o advento gradual da supremacia
masculina, têm-se tentado de todas as formas produzir-se regras de
conduta coletiva no que se refere a vida da mulher. Ser uma mulher
diferente das demais, até os dias de hoje pode significar o exílio
e isolamento social. Muitas vezes, uma mulher que se vê rejeitada
socialmente - por não se comportar de maneira idêntica a qualquer padrão
estabelecido - tem a tendência de assumir uma postura fragilizada de ter de agradar a todos,
abandonando assim o que há de mais precioso em si mesma – a sua
identidade pessoal, o seu talento único, a sua arte, a sua produção
autêntica que contribuiria muito mais para sua evolução e
realização como ser inteiro e consequentemente das outras mulheres
e até do mundo.
Manter
os instintos da mulher sob controle através de imposições de medos
ou padrões pouco saudáveis é bem conveniente para quem quer domesticá-la e
escravizá-la, torná-la um ser dócil e sem opinião. Uma mulher que
simplesmente obedece quem quer que queira, e assim possa, dela tirar proveito.
A
mulher isolada socialmente torna-se então uma mulher triste e com
fome de alma (hambre del alma). Desta forma, alteraram-se seus ciclos naturais mais sagrados, como
se a trancassem numa caixa sem janelas, onde ela não poderá mais comungar com os outros elementos, sentir o sol, a alegria do canto
dos pássaros e nem o vento beijando seus cabelos. Depois de um tempo
razoável sendo privada de sua própria vida, ela se torna tão
faminta de qualquer coisa que a tire desse jejum, se torna tão carente de alguma
experiência que proporcione qualquer tipo de sensação, que ela se
torna uma presa fácil para predadores externos. A mulher nessa
condição faminta, para compensar esses períodos de isolamento,
pode passar a arriscar a própria vida ao se esforçar em busca de locais,
pessoas e coisas que não seriam nem um pouco benéficas para ela. E por que a
mulher selvagem faria isso? Somente porque o seu instinto sofreu uma
mutilação, um aprisionamento, uma tentativa de domesticação, uma
alteração e ela então perde a acuidade, o faro, a percepção do
que é perigoso e prejudicial, caindo então em inúmeras armadilhas;
a primeira delas é fazer qualquer coisa para sair da condição monótona
e depreciativa imposta por uma sociedade medrosa e preconceituosa. E
ao se deixar levar pela sedução diabólica de um mundo de prazeres
vulgares ela se perde num torvelinho de excessos ao se permitir
ingerir qualquer veneno achando que este seria o alimento para sua
alma faminta. A partir disso ela já foi fisgada, desde quando
renunciou a sua alegria pura, ao prazer natural em alcançar a
realização de algo realmente muito desejado e pelo qual ela se
esforçou e se dedicou muito. Sendo assim, quando a mulher selvagem passa a
viver como prisioneira em um mundo coletivo com um sistema de valores
tão desprovido de vida, ela fica desesperada ao perceber que está
perdendo completamente o vínculo com a sua Alma. E se, então por um
descuido seu, ela recuar diante do coletivo cedendo às pressões e
se conformando de forma irracional com tudo isso, ela pode até estar
protegida do isolamento que tanto teme, mas estará mais ainda,
traindo sua própria Natureza, sua felicidade, e colocando em risco
sua própria vida ao entregar-se na mão do carrasco invisível. Ela precisa
sim, é observar o movimento interno de seu ser diante das propostas
tentadoras do mundo e reassumir seu poder diante de escolhas que não
lhe tirem o direito de se sentir feliz a partir do que para ela tem
valor intrínseco, como escolher amigos e grupos sociais que
respeitem – e estimulem - sua natureza criativa, em vez de se
entregar a qualquer custo só porque os sapatos vermelhos da vitrine
lhe parecem mais reluzentes do que aqueles que ela confeccionou com
suas próprias mãos. Não importa em que estágio você parou no
seu projeto pessoal que tanto a deixa feliz... Continue nele!
Aperfeiçoe suas técnicas, dê um acabamento melhor ao seu tão
Sagrado estilo – Esta é você! Você se realizando como Ser
completo que é. Não se deixe vender barato e nem deixe que qualquer
botequim a seduza a cantar por uma garrafa de gim.
Portanto...
Deixe os sapatos vermelhos das paixões mortais no lugar deles. Não
os enalteça mais do que eles realmente valem pois o valor que você
equivocadamente possa dar às coisas vulgares é o alimento que as tranformará
no monstro que não terá piedade na hora de te destruir por
completo.
Siga
o caminho que sua Natureza Selvagem e Pura Acredita!
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