A infelicidade pode lhe dar muitas coisas que a felicidade não pode. Na verdade, a felicidade tira muitas coisas de você. Ela tira tudo o que você sempre foi, tudo o que sempre teve, a felicidade destrói você!
A infelicidade alimenta sua personalidade, enquanto a felicidade é basicamente um estado de ausência de personalidade. Este é o problema, o verdadeiro dilema. É por isso que as pessoas acham tão difícil ser feliz.
Esta é a razão pela qual quase todo mundo optou por viver na infelicidade. Isso gera um ego muito inflexível.
Se isso for compreendido, tudo se torna claro. A infelicidade o torna especial. A felicidade é um fenômeno universal, não há nada de especial nela. As árvores são felizes, os animais são felizes — toda a existência é feliz, exceto a humana.
Sendo infeliz, o homem se torna muito especial, extraordinário. A infelicidade atrai a atenção das pessoas. Sempre que está infeliz você é alvo de demonstrações de afeto, carinho e amor. Todos cuidam de você.
Quem quer ferir uma pessoa infeliz? Quem tem inveja de uma pessoa infeliz? Quem quer se opor a uma pessoa infeliz? Isso seria muito baixo, vil. Há um grande investimento na infelicidade.
Se a esposa não estiver infeliz, o marido tende a esquecer-se dela. Se ela estiver infeliz, o marido não pode deixar de cuidar dela. Se o marido estiver infeliz, toda a família, a esposa, as crianças se aproximam dele, se preocupam com ele — e isso lhe traz um grande conforto. A pessoa sente que não está sozinha, que pode contar com a família e os amigos.
Quando você está doente, deprimido, infeliz, os amigos vêm visitá-lo e consolá-lo. Mas quando você está realmente feliz, os mesmos amigos tornam-se invejosos e o mundo se volta contra você.
Ninguém gosta de uma pessoa feliz porque ela é uma espécie de “afronta” à infelicidade alheia. As outras pessoas não perdoam e começam a pensar coisas do tipo: “Como se atreve a ser feliz quando estamos mergulhados em tamanha infelicidade, ainda rastejando na escuridão, na infelicidade e no inferno?”
E, naturalmente, como o mundo é feito de pessoas infelizes, ninguém é corajoso o bastante para suportar a humanidade torcendo contra. É perigoso e arriscado. Melhor agarrar-se à infelicidade — ela o mantém como parte da multidão.
Feliz, você é apenas um indivíduo. Infeliz, você faz parte de uma multidão: americano, europeu, latino, árabe, japonês.
Feliz? Você sabe o que é a felicidade? Ela é de origem hindu, cristã ou muçulmana? A felicidade é simplesmente a felicidade. A pessoa é transportada para outro mundo, bem distante daquele que a mente humana criou. Ela não está ligada ao passado nem à nossa triste história. A pessoa feliz, na verdade, não pertence a tempo algum. O êxtase faz o tempo e o espaço desaparecerem.
Albert Einstein disse que os cientistas costumavam pensar que havia duas realidades: o espaço e o tempo. Mas ele descobriu que essas duas realidades são faces de uma mesma realidade, daí a expressão espaço-tempo, criada por Einstein para definir a noção de que o tempo nada mais é do que uma quarta dimensão do espaço.
Einstein não era um místico; se fosse, teria introduzido também a terceira realidade – a realidade transcendental, que não é nem espaço nem tempo e que eu chamo de “testemunha”. Uma vez que essas três coisas estejam presentes, você encontra a trindade, ou trimurti, palavra em hindi que significa as três faces de Deus. Então você possui as quatro dimensões: as três do espaço e mais uma que representa o tempo.
Mas há algo mais que não pode ser chamado de quinta dimensão porque é o todo, o transcendental. Quando você está vivenciando o êxtase, começa a mover-se em direção ao que é transcendental. Não é algo social nem tradicional. Não tem absolutamente nada a ver com a mente humana.
Apenas observe sua infelicidade e você estará apto a descobrir as razões de sua tristeza. Olhe para aqueles momentos em que você se permite estar alegre e perceba a diferença.
Elas são poucas, mas quando você é infeliz é também um conformista. A sociedade adora esse lado seu, as pessoas o respeitam, você é tão considerado que pode até mesmo se tornar um santo.
Até porque os santos são pessoas infelizes e miseráveis, verdadeiros casos patológicos. A infelicidade está grafada em letras garrafais em seus rostos e em seus olhos.
Por serem infelizes, os santos condenam todas as formas de prazer, a alegria e cada possibilidade de felicidade como sendo pecado. São infelizes e, no fundo, querem que todo mundo seja igualmente infeliz e miserável.
De fato, somente em um mundo infeliz esse tipo de pessoa pode ser considerado um santo. Em um mundo feliz seria internado, tratado como louco. Eu vi muitos santos e tenho observado a vida dos santos do passado. Quase todos são anormais, neuróticos ou psicóticos. Mas foram respeitados por sua infelicidade, lembre-se disto.
Os grandes santos se impunham longos períodos de jejum apenas para torturar-se, o que não é muito inteligente. Durante a primeira semana, jejuar é difícil. Na segunda semana torna-se fácil; na terceira semana comer vira um sofrimento, e lá pela quarta semana você já se esqueceu completamente do assunto.
Como o corpo gosta de queimar suas reservas, você se sente menos pesado e toda a energia que normalmente é usada para a digestão se torna disponível para a mente. Resultado: você consegue se concentrar mais e acaba se esquecendo do corpo e de suas necessidades. Esse tipo de auto-sacrifício só serve para criar pessoas miseráveis e uma sociedade infeliz.
Olhe para sua própria infelicidade e observe que certas coisas fundamentais estão presentes. Primeiro, é algo que lhe traz respeito. As pessoas ficam mais simpáticas e atenciosas. Você terá mais amigos se for infeliz, o que é muito estranho. Se você insistir em ser feliz, vai virar alvo de muita inveja e as pessoas não serão nada amigáveis. Elas se sentirão enganadas: você possui algo que não está ao alcance delas.
Assim, através dos tempos, aprendemos um mecanismo sutil: reprimir a felicidade e expressar a infelicidade transformou-se em nossa segunda natureza. Você tem que abandonar esse círculo vicioso e aprender o caminho da felicidade.
É preciso respeitar quem optou pela felicidade, mas não sinta pena das pessoas infelizes. Ajude-as, sem valorizar a infelicidade. Deixe muito claro que se trata de um sentimento ruim, que não contribui em nada com o restante da humanidade.
Seja feliz e ajude as pessoas a compreenderem que a felicidade é o objetivo da vida — satchitanand. Esta palavra, segundo os místicos orientais, reúne as três qualidades de Deus: sat (ele é a verdade), chit (consciência, percepção) e, finalmente,anand (a característica mais elevada, o êxtase).
Deus sempre está presente onde há êxtase. Sempre que você encontrar uma pessoa cheia de sentimentos intensos, respeite-a, pois se trata de um santo.
E onde quer que você encontre um grupo de pessoas festivas, plenas de êxtase,considere esse lugar sagrado.
Osho, em “Uma Farmácia Para a Alma”
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